Na Europa ou na China, Vítor Pereira ficou conhecido por ser um profissional fissurado pelo aspecto tático do jogo, capaz de equilibrar solidez defensiva com domínio através da posse de bola e pressão pós-perda. No Corinthians, o treinador lusitano vem desenvolvendo o primeiro aspecto com maestria, mas o domínio ofensivo é algo que ele ainda não conseguiu estabelecer.
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- Não consigo esperar pelo jogo, nem estar muito tempo de fora, sem treinar. Sou mais de risco, gosto de arriscar, sou muito intuitivo e quando sinto que tenho que arriscar, arrisco (…) Eu habituei-me a trabalhar em equipes grandes, dominadoras, que gostam de ter a bola e dominar o jogo tendo a bola, que gostam de ser agressivas em termo de vista defensivo, que gostam de ser controladoras. Foi assim que eu fiz minha formação enquanto treinador - disse Vítor ao quadro “Perfil”, da Corinthians TV, quando chegou ao Brasil.
Adaptação ao calendário brasileiro
Um dos motivos que explicam a mudança para um estilo mais ‘pragmático’ é o ritmo do calendário no Brasil. Pressionado para competir por títulos no Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, o treinador quase não tem tempo para desenvolver seus treinamentos e implantar seu estilo de jogo.
Com dois jogos na maioria das semanas, dois dias são dedicados para recuperação dos titulares em trabalho regenerativo, enquanto o restante do grupo treina no gramado.
Sem as principais peças do elenco, Vítor Pereira passou a chamar jovens da base para integrarem as atividades no CT. Convivendo e aconselhando os atletas mais novos, os ‘miúdos’ passaram a ser fundamentais na rotação do treinador.
Desgaste físico e rodízio
Com pouco tempo para desenvolver suas ideias nos treinos, a comissão técnica corintiana ainda tem que lidar com os desfalques por lesão. Ao menos 23 jogadores do elenco profissional já passaram pelo departamento médico e lá ficaram por algum período.
Dessa forma, Vítor e sua comissão implantaram um sistema de rodízio no elenco, priorizando os atletas em melhor forma dispostos a se sacrificarem pela equipe.
Para o confronto mais pesado e importante na temporada, no duelo de volta das oitavas de final da Libertadores, contra o Boca Juniors, Vítor Pereira não pôde contar com Fagner, Maycon, Renato Augusto, Gustavo Mosquito, Adson e Júnior Moraes, além de Willian, que viajou com a delegação mas não tinha condições de jogo pois havia deslocado o direito na primeira partida contra os argentinos.
Novas soluções para limitações do elenco
Sem poder contar consistentemente com os principais jogadores da equipe e com pouco tempo para aplicar suas ideias de jogo nos treinamentos, Vítor Pereira encontrou uma solução para o desequilíbrio do elenco: mudar a proposta de jogo.
Durante o mês de maio, o treinador português passou a jogar com uma linha de cinco defensores, sendo três zagueiros e dois alas. Ainda sem muito entrosamento, os jogadores não se entendiam em campo da melhor forma, e o próprio treinador admitiu que a mudança tática feita por ele a fim de fortalecer o esquema defensivo prejudicou o desempenho coletivo do grupo e gerou queda de rendimento técnico, especialmente no ataque.
Para o restante da temporada, Vítor vem tentando jogar no 4-3-3, mas contra determinados adversários ou situações de jogo, utiliza a linha de cinco, muito importante nos jogos contra o Boca e Santos nos mata-matas da Libertadores e Copa do Brasil, respectivamente.
Conclusão
A ‘sorte’ do Corinthians foi poder consolidar o sistema defensivo enquanto outras equipes, apontadas como favoritas ao títulos, oscilam na temporada. O clube alvinegro não deve passar novamente pela situação de perder diversos atletas importantes simultaneamente por lesões.
Dessa forma, Vítor Pereira poderá trabalhar mais com os seus jogadores, e pelo competente profissional que vem se mostrando, terá tempo e conhecimento acerca do futebol brasileiro para extrair mais do elenco no momento mais crucial da temporada, onde as três competições se afunilarão.