Ao LANCE!, Sheik chama Cruzeiro de ‘melhor time do Brasil’ e traça planos para adeus ao Corinthians
Atacante concedeu entrevista exclusiva antes da final da Copa do Brasil, único título que ainda lhe falta na carreira. Ele revela uma chateação por não ter jogado e espera o título
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Polêmico, esclarecido, provocador, contundente, controverso, ídolo. Embora conflitantes em seus significados, todos estes adjetivos podem ser utilizados para definir Emerson Sheik. No auge de seus 40 anos e prestes a pendurar as chuteiras, o atacante se vê na possibilidade de dar adeus aos gramados com a conquista de seu 9º título pelo Corinthians. Apesar de se mostrar confiante com a decisão da Copa do Brasil, o jogador é categórico ao rotular o Cruzeiro, adversário da final: 'O melhor time do Brasil'.
Personagem chave na final da Copa Libertadores de 2012, quando marcou os dois gols contra o Boca Juniors que deram o título inédito ao Alvinegro, Emerson Sheik pode até não ostentar o mesmo protagonismo de outrora, mas segue sendo uma peça importante no Corinthians. Na última quinta-feira, véspera do jogo com o Flamengo, o experiente jogador atendeu a reportagem do LANCE! para falar sobre o momento do Timão neste fim de temporada.
Escolhendo bem as palavras antes de iniciar suas respostas, o dono da camisa 47 do Alvinegro foi convidado a falar sobre as eleições presidenciais que ocorreram no domingo. Por estar próximo de pessoas da política optou por não tocar no assunto, embora tenha dito que se interessa pelo tema. Sobre futebol, Sheik falou sobre o que espera da final da Copa do Brasil, o legado de Tite no Corinthians e também sobre seus últimos meses como jogador de futebol. Confira!
Corinthians vivendo a expectativa de disputar a final da Copa do Brasil e em uma situação intermediária na tabela do Brasileirão. Restando pouco menos três meses para o fim da temporada como está o clima aqui no clube? E como você está se sentindo nesta reta final do ano?
O início do ano foi um momento difícil e, ainda assim, o grupo se recuperou de algumas situações de campo e até mesmo extra-campo. Conquistamos o Campeonato Paulista, que talvez seja o regional mais difícil do país. Dando sequência no Brasileirão não tivemos as vitórias que nós, atletas, comissão técnica e diretoria, imaginávamos, assim como os torcedores também. Vimos uma possibilidade na Copa do Brasil, não que demos mais valor aos jogos da Copa do Brasil do que do Campeonato Brasileiro, mas era um caminho mais curto para poder chegar a mais um título no ano e marcar presença na Libertadores do ano seguinte. Fizemos bons jogos contra Chapecoense, pegamos o Flamengo, que é um time muito competitivo, que dispensa comentários sobre sua qualidade técnica, jogamos no Maracanã lotado e conseguimos um resultado interessante lá trazendo a decisão da classificação para a nossa arena. Aqui, fizemos um bom jogo, classificamos e nos tornamos finalistas. O interessante é que o Corinthians é o azarão, não é? É o time que não tinha força, mas que ganhou um Paulista. É o time que não está bem no campeonato nacional, mas nas últimas edições teve participações bem bacanas, não? Inclusive, no ano passado foi o campeão. E ainda tem uma final de Copa do Brasil neste mesmo ano em que levou o título regional. A expectativa aqui é boa. Estamos todos muito animados, sabendo do adversário, das limitações que existem no nosso próprio grupo, mas pela força que tem a instituição, pela união dos atletas, pela dedicação nos treinos, as expectativas para a final são boas.
Você comentou sobre o Corinthians ter sido visto como o azarão. No ano passado, com o Carille, o Corinthians era visto como a quarta força e, no fim, ganhou dois títulos. Esse ano, mais uma vez, é visto como azarão e tem a possibilidade real de conquistar mais um título na temporada. O que acontece aqui para que o clube, ano após ano, se mantenha tão vencedor?
Nesses últimos dez anos de Corinthians, onde o clube talvez tenha tido êxito em 70% ou 80% daquilo que disputou, foi deixado um legado bacana do Tite. Na situação da eliminação da Libertadores para o Tolima (referindo-se à edição de 2011, quando o time foi desclassificado ainda na fase prévia do torneio continental) acho que o presidente Andrés (Sanchez) foi muito feliz em manter o treinador. Acho que é importante acreditar no trabalho e manter. O Tite permaneceu e conquistou tudo o que vocês sabem. Esse legado dele, esse DNA, permanece até hoje. O Fábio (Carille) assumiu e encontrou um sistema definido. Ele tinha as particularidades dele enquanto treinador, suas próprias ideias, mas acho que o DNA e a essência não se perde há muitos anos no Corinthians. Talvez seja por isso que o azarão sempre está chegando para brigar por títulos.
Depois do primeiro jogo com o Flamengo, pela semifinal da Copa do Brasil, falou-se que o Corinthians abdicou de jogar bola. Isso mexeu com o brio de vocês? Serviu como motivação?
Não podemos esquecer que é esporte. Não comparando, mas pegando como exemplo, você pega uma luta de MMA e cada um vai com uma estratégia para a luta. Tem o cara que é melhor no chão, tem o cara que é melhor na trocação. Naquele momento, o treinador entendeu que jogando contra o Flamengo, que é um grande clube, tem um grande time, e jogando contra sua torcida, que também é grande, tínhamos que jogar daquele jeito. O Corinthians não foi desleal com ninguém, não cuspiu na cara de ninguém, não deu soco em ninguém. O Corinthians se aproveitou daquilo que o esporte proporciona, que é se defender, e fez isso nessa partida. Conseguimos trazer a decisão para São Paulo. Não acho que o Corinthians deixou de jogar. O time traçou uma estratégia para aquele jogo, cada atleta entendeu muito bem o que o Jair (Ventura) pediu e executou de uma maneira brilhante. O resultado foi bacana para nós, dentro de todo o cenário que aquele jogo tinha, e a decisão veio para cá. Felizmente, estamos na final.
Um dia antes do jogo de volta, vocês fizeram um treino aberto na Arena Corinthians. Qual foi o peso daquela atmosfera para vocês?
O torcedor corintiano não surpreende apenas nós, jogadores do clube, ele surpreende o mundo do futebol. Em uma terça-feira, às 15h30, 40 mil torcedores no estádio. O momento em que normalmente a pessoa comum está trabalhando, eles conseguem uma maneira, e eu não sei te explicar como, e lotam um treino. Não são apenas os gritos de apoio, mas a atitude deles de saírem sei lá de onde e nos acompanhar em um treino tem um peso muito grande para nós atletas. Assim como foi no Paulista, onde aconteceu uma situação muito parecida de um treino aberto na arena, teve um efeito super positivo. Decidimos o título no estádio do Palmeiras e, agora, contra o Flamengo, teve essa mesma ação, e, de novo, foi positivo porque conseguimos chegar na final. A presença do torcedor e, acima de tudo, eles entendendo que o incentivo é importante para quem está lá dentro faz uma diferença muito grande.
O Corinthians teve uma postura diferente nos jogos contra o Colo-Colo e contra o Flamengo? Me refiro aos dois jogos na Arena Corinthians.
Pois é. Jogando em casa, não que seja uma obrigação, porque é a cabeça de quem comanda, do treinador, de seus auxiliares, do pessoal da informática que levanta todas as informações sobre o adversário. Coloca-se na balança. É jogo a jogo. Até o perfil dos atletas que iniciam a partida pode mudar. Às vezes, o torcedor não entende, as pessoas não entendem, mas é de acordo com o que o jogo exige. Jogando na arena, não é uma obrigação, mas em casa e com o apoio do torcedor é natural que o time saia um pouco mais para poder atacar. A plataforma do nosso time não muda. Sempre vai ter uma turminha ali para segurar a onda, mas jogando em casa acho que tem que mudar um pouco o estilo de jogo. Contra o Colo-Colo fomos infelizes. como dizemos aqui, na nossa gíria, tem dia que é noite e tem noite que é dia. Aquele dia ali as coisas não aconteceram. O time jogou bem, mas as coisas não aconteceram. Contra o Flamengo, o time jogou bem nos primeiros 10 ou 15 minutos. Depois o Flamengo fez o gol, jogou bem. Tem que ter o equilíbrio, saber o momento em que você está bem, e saber reconhecer o momento do adversário. Nesses dois jogos tiveram essas situações. Embora o nosso time seja novo, os atletas estão bem focados em relação a isso.
Quando você diz que na plataforma do time tem alguns caras que sempre seguram a onda você se refere aos atletas mais vitoriosos do elenco?
Não, não. Quando falo da plataforma, falo do sistema tático. Independente do atleta que for jogar, existe uma maneira de jogar. Mesmo com pouco tempo de clube, o Jair já mostrou que não vai abrir mão do sistema tático. Sempre tem uma galera ali atrás que vai segurar a onda. Nomes é difícil falar porque toda hora entra um, mas o sistema é o mesmo.
Para nós que vemos de fora e não participamos da parte interna do clube, a impressão que fica é de que o Corinthians passou a atuar melhor nos jogos contra o Flamengo e contra o América-MG. Prova disto são as 14 finalizações do time apenas no primeiro tempo do jogo contra o América. Você concorda com esse ponto de vista?
Não só eu, mas aqui dentro todos nós temos essa opinião. É aquilo que eu te falei, é jogo a jogo. Contra o Flamengo, era um jogo decisivo, um jogo único. Então, sim, o Corinthians tem uma postura diferente. O jogo (referindo-se à partida contra o Flamengo) foi se desenhando de uma maneira muito favorável ao estilo de jogo do Corinthians na arena. Tem a questão do nosso gramado, que nos ajuda muito. É um grama que corre mais e o adversário tem dificuldade de pegar o tempo de bola. Os detalhes ajudam muito, talvez em 60% ou 70% daquela partida, o jogo foi mais favorável ao Corinthians.
O sistema tático sem um centroavante tem relação com essa melhora?
O Corinthians foi campeão paulista sem um centroavante. Às vezes, o gol não sai e a imprensa e a torcida querem um centroavante. Algumas vezes, com o centroavante, o gol também não saiu. É complicado, certo? Ainda bem que ainda sou jogador (risos). Para o treinador é muito complicado. De forma geral, eles precisam seguir o que está dando certo. Se está vencendo com um centroavante, continuamos com um centroavante. Caso contrário, não.
Você voltou ao Corinthians nesta temporada já tendo sido campeão de quase tudo pelo clube. Curiosamente, o único título que te falta é a Copa do Brasil. O que os jogos contra o Cruzeiro representam para você?
É um momento mágico na minha carreira. Como todos sabem, no final do ano estou me desligando dos gramados. Neste ano tenho a possibilidade de encerrar minha carreira com um título que eu não tenho. Estou muito ansioso, muito confiante de que dará tudo certo. Aprendi uma coisa importante com um cara aqui dentro do Corinthians: que vença o melhor. São dois jogos e espero que o Corinthians possa ser melhor que o Cruzeiro. Acima de tudo, que venha o título. Não adianta ser melhor e perder. Quero ser campeão de novo.
Quais qualidades você aponta no time do Cruzeiro?
O Cruzeiro é, para mim, o melhor time do Brasil. Os jogadores são incríveis tecnicamente. É um time que trabalha junto há mais de dois anos. O treinador está há um bom tempo no clube e isso tem um peso importante também. São duas grandes camisas. Mesmo o Corinthians sendo azarão, como todos apontaram, as duas camisas devem ser respeitadas. Acredito que em uma final dessas, pela grandeza e história que têm os dois clubes, fica nivelado. É difícil apontar o favorito.
Você anunciou que vai encerrar a carreira ao fim do ano. O Corinthians ainda tem pouco mais de dez jogos na temporada. Como é para você ter uma espécie de contagem regressiva para o fim da sua carreira?
Não estou pensando muito nisso. Estou extremamente feliz com tudo o que eu construí até hoje. Foram muitos anos de dedicação, abdicando de muitas coisas na minha vida. Não me lembro da minha juventude, eu a perdi toda. Mas, quando coloco tudo isso na balança, é muito gratificante. O que estou fazendo com o meu finalzinho é, em forma de gratidão, chegar muito cedo no clube, treinar sério. É uma forma de agradecer ao esporte, ao futebol. Não faço isso por ninguém, faço isso pelo futebol por tudo o que me deu. Nesse fim vou me dedicar ao máximo. Isso está me deixando muito feliz no dia a dia. É cansativo para caramba porque eu tenho 40 anos (risos). Coloco muita chuteira e vou para o campo, quando volto para o vestiário penso que o meu dever foi cumprido. Hoje, a contagem é essa: mais um dia. É desta forma que digo obrigado.
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