A volta de Fábio Carille animou os corintianos. E não é para menos. Depois da fracassada tentativa de reproduzir com Osmar Loss o mesmo processo de ascensão que levou o próprio Carille ao comando, em 2017, e da desastrosa passagem de Jair Ventura, com uma campanha de time rebaixado – 19 jogos, nove derrotas, seis empates e apenas quatro vitórias – a Fiel torcida não poderia receber melhor presente de final de ano do que ter o retorno de quem levou o time à viver seus últimos bons momentos. Pelo menos em tese.
Carille e o Corinthians têm tudo a ver. O técnico vive o dia-a-dia do clube desde 2009, quando passou a integrar a comissão técnica permanente. Dessa forma, entre 2011 e 2013, esteve presente nas conquistas do Brasileirão, da Libertadores, do Mundial de Clubes, do Paulistão e da Recopa Sul-Americana. Foi auxiliar de Mano Menezes, de Adilson Baptista, de Tite – de quem se considera discípulo - e de Osvaldo de Oliveira, no lugar de quem assumiu pela primeira vez como efetivo, com o apoio decisivo, inclusive, do atual técnico da Seleção Brasileira.
No comando, além do Brasileirão de 2017, ganhou os Paulistões de 2017 e 2018. Dirigiu a equipe em 114 jogos, com um aproveitamento de 61,1%, sendo 59 vitórias, 32 empates e 23 derrotas. Resultados que o tornaram o mais destacado dos treinadores de uma geração que despontou nos últimos dois ou três anos e que inclui nomes como Zé Ricardo, então no Flamengo, Roger Machado, com passagens pelo Palmeiras e o Grêmio, e o próprio Jair Ventura, revelado pelo Botafogo.
Esse currículo bem-sucedido e o prestígio obtido em tão pouco tempo na elite do futebol brasileiro levaram Carille a ser bastante criticado quando, há seis meses, decidiu trocar a estabilidade no Timão e uma carreira ascendente pelos petrodólares árabes. O não cumprimento da promessa dos príncipes sauditas de montar um time competitivo e o ocaso técnico em que mergulhou deram razão aos críticos e aceleram o fim da aventura árabe antes que a tal independência financeira pudesse se concretizar. O interesse do Timão foi recebido com alívio pelo treinador e sua comissão técnica - que volta quase toda com ele –, proporcionando uma saída honrosa.
A operação de resgate precoce teve um custo, é verdade, mas 700 mil dólares ou R$ 2,7 milhões é muito pouco pelo que Carille já representou para o Timão. E o presidente Andrés Sanchez, pressionado pela falta de resultados, a campanha pífia no Brasileirão, denúncias frequentes de irregularidades e dívidas impagáveis da construção da Arena, bem sabe disso. Tanto assim que, antes mesmo da chegada do treinador – o que só deve acontecer no início do ano – já fez um Carnaval nas redes sociais do clube para anunciar o acerto, em tom solene e eufórico, reproduzindo imagens das conquistas do treinador, como se só isso bastasse para que os bons tempos estejam de volta.
Mas, alto lá! Devagar com o andor que o santo é de barro.
Se o Corinthians com o qual Carille conquistou de forma surpreendente o Paulistão deste ano já não era o mesmo do Brasileirão do ano passado, o cenário que ele vai encontrar agora certamente é ainda mais complicado. A falta de capacidade financeira para investir na reposição das peças depois do desmanche do time, consumado no período pós-Copa da Rússia, está longe de ter sido resolvida. Das contratações confirmadas até agora – o lateral-direito Michel Macedo, os atacantes Gustavo Silva e Andre Luís e o volante Richard – apenas esse último, promessa surgida no Fluminense, tem alguma relevância. Leandro Castán e Sornoza estão sendo negociados e podem agregar valor a esse lista.
Em contrapartida, o time perdeu a experiência dos veteranos Emerson Sheik e Danilo e o futuro de Pedrinho, revelação da temporada corintiana, ainda é incerto, uma negociação para o exterior não está afastada. Restam o talento de Cássio. Fagner, Ralf e Jadson, remanescentes da primeira passagem com quem Carille vai se reencontrar e que devem compor a espinha dorsal do novo elenco. É pouco para o tamanho dá expectativa que a volta do treinador campeão está gerando. Andrés Sanchez vendeu a ilusão e vai ser cobrado por isso. É uma conta que certamente vai ter de pagar, pelo bem de Carille e do Timão. E que pode vai custar muito mais do que 700 mil dólares.