"Vamos ver se consigo ter capacidade para poder contribuir em mais uma etapa". Tite abriu a entrevista coletiva de sua terceira apresentação ao Corinthians, em 16 de dezembro de 2014, com este discurso modesto. Ele havia ficado um ano parado, justamente desde a saída do Timão, no fim de 2013. Ele estudou, viajou, se reciclou, lamentou a falta de convites para assumir a Seleção Brasileira, recusou uma proposta do Internacional e acertou a volta ao clube onde já havia sido campeão de tudo.
"Fala muito! Fala muito!". Apesar de ter colocado em xeque sua capacidade, Tite provou mais uma vez as razões de ser um dos maiores ídolos da história do Corinthians. Em um ano e meio de trabalho nesta terceira passagem ele somou 65 vitórias, 24 empates e apenas 17 derrotas em 106 partidas. Na soma geral das três passagens (2004-2005, 2010-2013 e 2015-2016) foram 196 vitórias, 110 empates e 72 derrotas em 378 jogos. Fossem mais míseros 57 e ele ultrapassaria Oswaldo Brandão como treinador que mais dirigiu o Corinthians na história. Pelo menos por enquanto, os números vão esperar um pouco para aumentar.
"Escolhas e critérios no Corinthians são definidos pelo merecimento. É tudo merecimento". Se há alguém que mereceu o convite para ser treinador da Seleção Brasileira é Tite, especialmente pelo trabalho no Corinthians. Apesar de já ter comandado clubes como Grêmio, Internacional, Palmeiras e Atlético-MG, foi no Timão que o gaúcho de Caxias do Sul se encontrou. Ao fim da terceira passagem, ele deixa importantes conquistas na galeria: Campeonato Paulista (2013), Recopa Sul-americana (2013), Campeonato Brasileiro (2011 e 2015), Libertadores (2012) e Mundial (2012). Praticamente tudo o que é possível disputar.
"Eu corri para fugir do rebaixamento, para sair do inferno". Foi esse o discurso de Tite em 2004, ano de sua primeira passagem pelo Corinthians. O clube estava na zona de rebaixamento do Brasileirão, no penúltimo lugar. O treinador conseguiu terminar a competição em quinto lugar, mas naqueles tempos o Corinthians era outro, e ele só durou até o início de março do ano seguinte. Dez meses de trabalho interrompidos por uma discussão com Kia Joorabchian, representante dos investidores do MSI, e pelo desejo de contratar o argentino Daniel Passarela. Tite saiu do inferno, mas não o deixaram chegar ao céu.
"O Mundial era uma coisa importantíssima para mim, mas a volta para o Corinthians pesou bastante". Depois de Mano Menezes sair para a Seleção Brasileira (que coincidência...) e Adilson Batista não dar resultado, o Timão apostou na contratação de Tite, que em outubro de 2010 se preparava para a disputa do Mundial de Clubes pelo Al Whada, dos Emirados Árabes. Planos interrompidos graças ao convite do Corinthians, que na época vivia tipo um inferno. Eram sete partidas sem vitórias, e o time que era líder do Brasileirão caiu para o terceiro lugar. Terminou em terceiro mesmo, mas o legado para 2011 era positivo.
"Nós temos que retomar um padrão, reconduzir, ter desempenho e ter vitória. Só isso traz confiança para o torcedor". O grande baque da segunda passagem de Tite pelo Corinthians não foi uma discussão com dirigente, e sim uma eliminação que causou o surpreendente apoio do então presidente Andrés Sanchez. A queda para o Tolima (COL) ainda na fase preliminar da Copa Libertadores de 2011 fez muita gente ter certeza da demissão, mas o Corinthians deu crédito e confiou no trabalho a longo prazo.
"Se não tiver alma, comprometimento grande com o grupo, sem vaidade, não consegue. Por isso esse grupo é especial". Depois do crédito dado pela diretoria do Corinthians, Tite fez história. Foi campeão brasileiro (2011), da Libertadores e do Mundial (2012) e pra completar conseguiu um Paulista e uma Recopa (2013). Alguns dos títulos mais importantes e marcantes da história do clube. "The favela is here", ele exibiu em uma faixa no Japão.
"Não sei dimensionar, não tenho palavras para dizer. Agradecer é a mínima reação que tenho. Sou um cara privilegiado, abençoado". Tite deixou o Corinthians no fim de 2013 sem conseguir dar evolução ao trabalho. O Timão foi superado como não costumava ser e terminou o Brasileirão só no décimo lugar, seis pontos à frente da zona de rebaixamento. Apesar do mau desempenho, saiu ovacionado pela Fiel, como tinha que ser.
"Momento decisivo é a hora de separar os guris dos homens". Em 2014, fora do Corinthians, Tite se dedicou a um ano sabático. Sem clube, viajou pelo mundo acompanhando as melhores escolas de futebol existentes, assistiu a todos os jogos da Copa do Mundo, captou conceitos de trabalho de outras culturas e se reciclou. Estava pronto para suceder Felipão após o fracasso dos 7 1 1 na Copa do Mundo, mas não houve convite para ele. Esperou mais... até o fim de 2014, quando recusou uma proposta milionária do Internacional para fechar com o Corinthians por metade do valor. Era o destino.
O homem que trocaria o título mundial de 2012 pela vida do menino Kevin Spada é o mesmo homem que disse esperar "nunca mais" cruzar com o árbitro Carlos Amarilla, responsável por evitar seu bi da Libertadores em 2013. O homem que fracassou em 2004 é o mesmo homem que foi campeão de tudo na segunda passagem. O homem que foi campeão de tudo é o mesmo que precisou remontar duas vezes o time e ainda assim se despediu com mais um título importante na terceira vez em que foi escolhido. Este homem, que é Tite, não é mais técnico do Corinthians.
"Agora eu vou chegar em casa, tomar uma caipira (caipirinha) com a minha mulher e ficar no meu cantinho". Caipira nada! É hora de resgatar a Seleção Brasileira, Adenor.