Nomes iguais, estilos diferentes: Edus comandam o futebol do Corinthians

Eduardo Ferreira, diretor adjunto, e Edu Gaspar, gerente de futebol, dão as cartas no Timão. Dupla revela grupo da diretoria no Whatsapp no qual '80% dos assuntos são sérios'

imagem cameraEduardo Ferreira e Edu Gaspar posaram para fotos ao LANCE! no CT Joaquim Grava (Foto:Ari Ferreira/LANCE!Press)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 13/12/2015
20:19
Atualizado em 14/12/2015
16:54
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Nesta época do ano, em que técnicos e jogadores cedem espaço nos holofotes aos cartolas e suas negociações para o vai e vem do futebol, o Corinthians “vai a campo” com uma dupla. Eduardo Ferreira, diretor adjunto, e Edu Gaspar, gerente de futebol, não têm muita coisa em comum além do nome, mas formam uma parceria que vem dando certo desde fevereiro.

O primeiro, antes chamado de Edu da Gaviões, por sua atuação na maior organizada do clube, é conhecido por seu jeito mais explosivo, despojado e truculento. O outro, no cargo desde 2011, adota estilo mais polido para falar, agir e se vestir.

Engana-se, porém, quem pensa que as diferenças façam a dupla entrar em atrito. Pelo contrário. Os dirigentes e quem os conhece garantem que os Edus se complementam no comando do futebol do Timão.

– Ele tem o jeito dele, às vezes leva muito para o lado emocional, embora tenha ciência de que as decisões aqui são 100% racionais. Mas isso é importante também no futebol. Isso é legal. A gente se completa – comentou Edu Gaspar, ao LANCE!.

Eduardo Ferreira, que não é remunerado, ao contrário do parceiro, está acima do gerente na hierarquia corintiana, mas a relação vai além da tradicional chefe/subordinado. Para que o trabalho tenha sucesso, os dois dividem tarefas. Gaspar, por sua experiência como jogador, é quem fica mais no centro de treinamento da equipe, atendendo, liderando e resolvendo questões de jogadores e outros profissionais. Já o diretor adjunto, por sua bagagem de mais de dez anos na política alvinegra, é o encarregado de passar maior tempo no Parque São Jorge, fazer o “meio de campo” com outros departamentos (financeiro, marketing, comunicação, etc) e atender a sócios, torcedores-organizados e jornalistas.

– Eu não estou aqui para opinar como o time vai jogar, se entra o Zé ou o Pedro – declara Ferreira.

Nas negociações de compra e venda de atletas há um revezamento entre eles, mas todas as informações acabam sendo divididas. Para facilitar a comunicação, foi criado um grupo no aplicativo Whatsapp, no qual os dois, o presidente Roberto de Andrade, o superintendente de futebol Andrés Sanchez, e o coordenador Alessandro trocam informações e opiniões por mensagem. Às vezes há espaço até para brincadeiras, como gozações a rivais e o compartilhamento de memes da internet.

– 80% dos assuntos são sérios (risos), mas às vezes surge um “6 a 1” ou “eu acredito” – contou Ferreira.

Agora, enquanto jogadores e torcedores tiram férias da bola, a dupla trabalha intensamente para qualificar o grupo corintiano para 2016. Depois do hexa brasileiro, eles sonham com mais taças, mas sabem que a missão não será fácil, como reconhece o diretor adjunto:

– Queremos segurar o elenco, mas não depende só de nós, há a questão financeira. Queremos títulos, em especial o da Libertadores.

À boca pequena: Medindo as palavras

A reportagem do LANCE! pediu para que cada um dos Eduardos apontasse os pontos fortes e fracos do outro. Edu Gaspar disse que o diretor adjunto “conhece o clube e a política corintiana como ninguém” e citou a pouca experiência no futebol como algo a melhorar. Já Ferreira exaltou os conhecimentos do gerente em diversas áreas e demorou a falar um defeito. “Ele é muito certinho”, disse rindo. Depois, ele reiterou várias vezes que se tratava de uma brincadeira e não crítica ao amigo e parceiro.

Bate-bola com Edu Gaspar, gerente de futebol do Timão, ao LANCE!

Como é a divisão do trabalho entre você e o Eduardo Ferreira?
A gente alterna funções e junta algumas. Tudo o que faço internamente ele sabe. E o que ele faz politicamente eu sei. Pelo Eduardo não ter vivido o que eu vivi, tenho mais bagagem que ele para falar de tática, desempenho, funções de atleta. Ele tem mais bagagem política, de dia a dia de clube que eu. Aí formamos uma boa dupla. Mas na hierarquia ele é meu superior, eu não fujo nunca. Não tomo uma decisão jamais sem que ele saiba, por mais simples que seja.

Vocês têm personalidades bem diferentes. Como lidam com isso?
O bacana da dupla é a verdade mútua e a confiança. Sem isso é difícil construir uma relação legal. Construímos uma relação muito boa.

A saída do Sérgio Janikian, ex-diretor de futebol, deixou vocês sobrecarregados?
Estamos bem, porque o diretor e o diretor-adjunto têm funções bem parecidas, um ajudando ao outro, junto comigo e o Alessandro. O Eduardo, por ser um cara muito presente, dedicado ao dia a dia do clube e do CT, ajudou bastante.

Acha que toda essa identificação com o Corinthians pode te prejudicar em algum momento?
Nunca me preocupei quanto a isso, sou muito feliz no clube que me deu oportunidade como atleta e como gerente. Evito pensar no futuro.

Qual será o seu próximo passo? Sonha com a CBF?
​O que leva um jogador para a Seleção ou à Europa é fazer um bom trabalho no clube. Comigo é igual. Só que eu nem sei se tem um salto maior que esse, o Corinthians está em um estágio muito alto. Mas, fazendo meu trabalho aqui, é natural as coisas acontecerem. Chegar à CBF, poder um dia ter essa oportunidade, é óbvio que é muito gratificante. Porém, uso a estratégia de quando eu jogava, fazer o melhor no dia a dia, pois as coisas vão acontecendo.

 Edus com a taça do hexa (Foto:Ari Ferreira/LANCE!Press)

Bate-bola com Eduardo Ferreira, diretor-adjunto de futebol, ao LANCE:

O que muda para o torcedor quando ele passa a ser dirigente?
É tudo em dobro. Para bem e mal. Graças a Deus o nosso ano acabou sendo mais positivo com o título.

O que foi mais difícil?
Naquela época das eliminações do Paulista e da Libertadores, a pressão foi forte. Eu era novo aqui no cargo, senti mais no começo. Ia tenso para os jogos, chegava em casa morto. O pior jogo do ano foi contra o Joinville, no 1 turno. A pressão era terrível, tomei remédio, foi o pior jogo da minha vida.
Mas a torcida colaborou, entendeu que o time estava com bom futebol, vinha surpreendendo... Deu certo!

Qual seu próximo objetivo? Quer ser presidente do clube?
Pretendo continuar a vida inteira na parte politica do Corinthians. Hoje estou no futebol, amanhã, não sei.

E ocupar outro cargo no futebol?
Nem se falar que vai matar meu pai e minha mãe! Jamais vou me tornar diretor de outro clube, gerente, empresário de jogador ou qualquer outra coisa, nem penso nisso. Só trabalho no Corinthians!

Seu lado torcedor o ajuda?

O cara que não tem noção da parte política e da torcida, tanto a organizada como a comum, e um pouco de imprensa, não pode estar aqui dentro, senão vai se enroscar.

Mas alguém já teve de pedir para você se controlar?
Jamais. Venho há 10 anos na política do clube, sabia como funcionava, entrei quietinho, aprendendo e respeitando a todos, e é isso. Em alguns momentos eu até  ajudei a acalmar os outros. Eu sou meio explosivo, mas sei os momentos. O pessoal me vê como meio louco, mas sei me portar, cada um tem seu jeito, ninguém é igual a ninguém. Por isso eu e o Edu formamos uma dupla perfeita. 

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