O dia que o Corinthians foi: uma volta ao 1º de setembro que deu vida ao Timão
Um passeio no início da história corintiana, que fez do clube do Brasil, o mais brasileiro
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‘O Corinthians é o time do Povo, e o povo é quem vai fazer o time’. Esta quinta-feira (1º) completa 112 anos que essa frase foi dita pelo alfaiate Miguel Battaglia, primeiro presidente da história corintiana, na fundação do clube alvinegro.
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Battaglia não ficaria muito tempo à frente da instituição, apenas 15 dias. Tempo o suficiente para externar o maior lema do Corinthians: ser o time do povo. Enquanto o futebol era o esporte da nobreza e aristocracia paulistana, era o Timão, fundado por operários, que recebia pobres e negros em seu plantel.
A fundação corintiana aconteceu por volta das 20h30 daquela quinta-feira (1º), como hoje. Encontro abençoado por Deus e iluminado por um lampião à gás, já que o horário em que a reunião foi marcada precisou coincidir com o período após o trabalho do grupo. Entre os fundadores, nenhum era nobre ou rico: Anselmo Corrêa era cocheiro; Antônio Pereira e Joaquim Ambrósio, pintores de parede; Carlos Silva, trabalhador braçal; e Rafael Perrone, sapateiro.
Portanto, quando o corintiano celebra o dia 1º de setembro, ele também comemora a inclusão social no futebol.
- De certa maneira, o Corinthians é a vitória do povo - afirmou o jornalista Paulo Vinícius Coelho, ao documentário ‘Todo Poderoso Timão’, lançado em 2010 e dirigido por Ricardo Aidar e André Garolli.
CORINTHIANS NASCEU POBRE, MAS SOB A GRANDEZA POPULAR
De origem pobre, a grandeza corintiana coube nos braços do povo. Inicialmente, foi acolhido pela comunidade do bairro do Bom Retiro, que gostaria apenas que aquele grupo entrasse em campo, mesmo que no campeonato de várzea.
- O Corinthians nasceu como um clube varzeano. Não tinha meio-termo no futebol àquela época: ou era o futebol oficial, ou o futebol varzeano. O Corinthians não tinha bala para pertencer ao futebol oficial, até pela sua origem - disse o jornalista Celso Unzelte ao documentário ‘Todo Poderoso Timão’, produzido pela Canal Azul, em parceria com a Century Fox e o Grupo Bandeirantes.
Os primeiros títulos de associados foram concedidos àqueles que compareceram à reunião de fundação do clube. O grupo de oito pessoas, todos assalariados e humildes, contribuíram com 20 mil réis para a instituição corintiano.
Os sócios seguintes foram moradores do Bom Retiro, empenhados em fazer o clube jogar e que, por isso, contribuíram com 6 mil réis para a compra da primeira bola. O valor ainda precisou ser completado pelo fundidor Alexandre Magnani, imigrante italiano que se tornaria presidente do Timão dias depois, com a desistência de Battaglia, que precisou se mudar para o interior de São Paulo.
Até mesmo o alvinegro corintiano foi fruto de uma origem humilde, já que os uniformes dos primeiros jogos eram da cor bege, que acabaram desbotando após as primeiras lavagens. O time, então, se tornou preto e branco para evitar o constrangimento.
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Localizado em uma zona central de São Paulo e conduzido por operários, era natural que o Timão tivesse em suas entranhas uma miscelânea de culturas. Inicialmente, com imigrantes espanhóis, italianos e portugueses fundindo o começo da sua história.
- O Corinthians para entrar no futebol profissional precisou abrir mão de algumas condições de nascimento. Ele nasceu em um clube de bairro, de imigrantes, lugar de gente pobre - conta o historiador Plínio Labriola ao documentário ‘Todo Poderoso Timão’.
Até mesmo em seu batismo, no dia 1º de setembro de 1910, o clube teve referência internacional. O Corinthians era uma alusão ao Corinthian Casual, ‘abrasileirado’ à época como Corinthian’s Team, equipe inglesa que encantava o Brasil em excursão feita ao Rio de Janeiro e São Paulo à época do nascimento daquele que se chamaria Sport Club Corinthians Paulista.
Ainda assim, com tantas referências internacionais, o Time do Povo nunca rompeu com a sua raiz genuinamente brasileira.
A circunstância do futebol profissional em São Paulo naquele momento, inclusive, era de alta internacionalização entre os grandes clubes. Potências, o Germânia era o time dos alemães, já o São Paulo Athletic Club dirigia-se aos ingleses. Nacional de fato, naquela realidade, somente o Paulistano, mas que era direcionado aos estudantes da capital de São Paulo que, quase que integralmente, pertenciam à nobreza.
Ao brasileiro médio, operário e pobre, até ali a prática do futebol era utopia. Quando o Corinthians passou a existir, eles tiveram voz e vez.
O Time do Povo surgiu varzeano, mas rapidamente se profissionalizou, em 1913, três anos após a sua fundação. Em 1914, o clube foi campeão paulista invicto. Foram 10 vitórias em 10 jogos.
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Em 1915, a alta nobreza tenta derrubar o Corinthians. Convidado para jogar a liga com os times ricos, a decisão de migrar à elite gera prejuízo para uma equipe concebida sem recursos. Resultado: os jogadores corintianos acabam se espalhando a outros clubes.
- Se esses jogadores não voltassem ao Corinthians, em 2016, junto à crise financeira e toda essa complicação que se criou, o clube corria um risco de desaparecer. É dessa época que surge, quase que um mito corintiano, do clube que venceu desafios e foi capaz de superar todas as dificuldades que se pode imaginar - conta Labriola.
Nos anos 30, a Itália, de Benito Mussolini, também queria ser hegemônica no futebol. O líder fascita tinha ligações com Remo Zenobi, então presidente da Lazio, e que tinha negócios no Brasil. A ideia era importar grandes atletas brasileiros, no que se transformou no ‘Brasilazio’. O Corinthians, à época, foi o clube brasileiro mais atingido, já que quatro titulares se transferiram ao time italiano: o zagueiro Del Debbio e os atacantes De Maria, Filó e Rato.
Todos esses atletas tinham ascendência italiana, em uma época de Itália fascista e intolerância ao diferente.
- Alguns jogadores começam a sair. Alguns filhos de imigrantes italianos, que sonhavam com a Itália grande, Itália do Mussolino, voltar para a terra dos pais. O Corinthians foi o mais prejudicado porque perdeu quatro titulares e uma hegemonia no Estado que era claramente sua - relembrou PVC.
Naquela época, o Timão já era o grande clube do Estado de São Paulo, tendo conquistado dois tricampeonatos consecutivos em um intervalo de oito anos (1922 a 1930). A saída do quarteto enfraqueceu o Timão, que na temporada seguinte ficou apenas na sexta colocação da competição estadual.
Como preço, os jogadores que se transferiram à Lazio se tornaram ‘personas non gratas’ aos torcedores brasileiros. Diferentemente da instituição, Sport Club Corinthians Paulista, que, mesmo alvinegro, nunca deixou de ter a sua identidade forjada em verde e amarelo.
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