A demissão do técnico Ramón Díaz, anunciada oficialmente pelo Corinthians nesta quinta-feira (17), evidenciou mais uma vez a influência decisiva da Gaviões da Fiel nas decisões do clube. A saída do treinador argentino, que conquistou o Campeonato Paulista há menos de um mês, aconteceu poucas horas após o presidente da organizada, Alexandre Domenico, se manifestar publicamente pedindo a demissão do técnico. O episódio reforça a percepção de que a maior torcida organizada do Timão tem papel ativo nos rumos da equipe.
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Fundada em 1969, a Gaviões surgiu para apoiar o clube e fiscalizar a diretoria. Desde então, sua presença cresceu até se tornar uma das torcidas mais influentes — e temidas — do futebol brasileiro. Ao longo dos anos, porém, a linha entre fiscalização e interferência direta foi ficando cada vez mais tênue.
A atual gestão do presidente Augusto Melo tem sido particularmente sensível aos movimentos da Gaviões. Durante a eleição presidencial, a torcida declarou apoio oficial à candidatura de Augusto — atitude rara na história do clube. Desde então, diversas decisões da diretoria pareceram alinhadas às demandas da organizada. No ano passado, por exemplo, após críticas públicas da Gaviões sobre o preço dos ingressos para um jogo, o clube reduziu os valores poucas horas depois. Agora, a queda de Ramón Díaz ocorre imediatamente após novo posicionamento da torcida.
O relacionamento próximo entre direção e Gaviões levanta questionamentos. Há desconforto com a frequência de visitas da organizada ao CT Joaquim Grava, especialmente em momentos de crise, o que cria um clima de intimidação entre os atletas.
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Mesmo com um processo de impeachment em andamento, Augusto Melo ainda mantém alta popularidade entre a base associativa e nas arquibancadas, em parte sustentado pelo apoio da Gaviões.
— Reforçamos o nosso pedido ao Conselho Deliberativo para que apresentem as provas à Fiel Torcida ou aguardem a conclusão final do inquérito policial para seguir com a tomada de decisão baseada em dados e não em interesses políticos — escreveu a Gaviões em nota publicada em janeiro, durante a tentativa de votação do impeachment. A mesma torcida que agora, mais uma vez, molda os rumos do clube fora das urnas.