Há um ano, Renato Augusto sonhava em ter regularidade e se machucar menos. Ele foi além. Muito além. Além de campeão nacional, ele voltou à Seleção e abocanhou uma série de prêmios, dentre eles o de craque do Campeonato Brasileiro pela CBF e pelo LANCE!.
Depois do que considera ter sido a melhor temporada da sua carreira, o camisa 8 quer descanso. Ao receber a reportagem do L! para uma entrevista exclusiva no CT Joaquim Grava, ele se disse exausto, não só pelo desgaste em campo, como também pelos preparativos do casamento, que ocorre sexta-feira.
Mesmo assim, o meia tem tempo e energia para fazer planos para 2016. Vencer a Libertadores é o principal. Confira a entrevista:
O que representa para você ser eleito o craque do Brasileirão?
É uma coisa muito especial, mas se não tivesse conquistado o prêmio, isso também não teria apagado meu ano, o ano do Corinthians e também não deixaria de ficar feliz por isso. Minha cabeça está muito boa. Sem dúvidas, esse foi meu melhor ano.
Por muito tempo você foi perguntado sobre ser o craque e se esquivou. Você se acha o melhor jogador da competição?
O campeonato é muito longo, e tudo depende de como você analisa. Talvez, eu tenha sido o mais regular, constante, comecei bem e terminei bem. Por outro lado, houve jogadores que oscilaram mais, como o Jadson. Esses jogadores não foram tão constantes, mas tiveram picos excelentes. Depende muito do que é craque para cada um, do critério, mas estou entre os dois ou três melhores do Brasileiro, com certeza.
Quem são os outros, então?
O Jadson fez um grande ano, o Lucas Lima, Ricardo Oliveira... Acho que estou entre os melhores, sim.
As lesões e as adversidades que você enfrentou tornam esse título ainda mais especial? Hoje você ainda sente dores?
Não está sendo constante, mas de vez em quando a dor incomoda. Eu respeito muito meu joelho, meu corpo... Tem dia que ele começa a doer e eu já vejo que não vou ganhar dele, então aceito. Por conhecer mais meu corpo, eu converso com ele: “Hoje é seu, mas no jogo é meu. Domingo e quarta pelo amor de Deus, não me abandona”, brinco.
Quais são seus maiores objetivos para o próximo ano?
Eu não gosto de fazer uma projeção a longo prazo, gosto de coisas curtas. Primeiro queria voltar a jogar bem, depois vi que dava para jogar vários jogos em alto nível, e depois que dava para ganhar o Brasileirão. Terminar o ano como estou terminando me faz acreditar que dá projetar coisas maiores. Hoje quero me manter na Seleção e conquistar a Copa Libertadores.
Ano passado, você previa ter em 2015 o melhor ano da sua carreira, tanto em desempenho como em participações. Isso se confirmou. Acha que dá para evoluir ainda mais e jogar mais jogos na próxima temporada?
Não penso mais em número de jogos. Prefiro fazer 50 partidas em alto nível do que 60 meia-boca. Foi o que fiz este ano. Quando estava realmente desgastado, fiquei fora de jogos. No Brasil, infelizmente, não tem como jogar todos os jogos, não tem corpo que aguente, ainda mais quem teve problemas como eu. Se eu jogar quatro jogos em alto nível, é melhor do que mais quatro meia-boca.
Voltar à Seleção mudou algo em seu jeito de jogar ou pensar?
Acho que nada mudou. O que muda é ser reconhecido em algumas coisas, mas da forma de ser e pensar continuo o mesmo, até porque acho muito fácil chegar à Seleção. Fácil não, mas é mais fácil chegar do que se manter. Quantos chegaram e depois caíram? Minha cabeça hoje está voltada em me manter no grupo no ano que vem.
Tanto na Seleção como no Corinthians, você se emocionou bastante. Primeiro, chorou ao marcar seu primeiro gol com a amarelinha. Depois, foi às lágrimas quando conquistou o título brasileiro. Sozinho, depois, você também chorou?
Sou muito emotivo, sempre fui, mas no jogo contra o Vasco gastei tudo, meu estoque de lágrimas acabou ali (risos). Depois do jogo da Seleção eu estava no ônibus e minha mãe ligou. Pensei: “Ela vai estar chorando e eu vou chorar também”. Atendi e falei pra ela me ligar depois! Aí ligou minha esposa também, e como ela estaria chorando com certeza, falei que não dava para falar. Elas começaram a rir e aceitaram falar depois. Por tudo que passei, aquela foi uma semana muito emocionante, mexeu muito comigo. Um amigo me falou que a gente não tem noção do que representa e é verdade. Chegar à Seleção Brasileira, fazer gol num jogo oficial... Não tinha como não emocionar naquela hora.
Você acha que não tem noção mesmo do que representa?
Para mim, eu continuo o mesmo. Aqui dentro do Corinthians sou o Renato Augusto, mas ali fora sou o Renato, um a mais. Não dá pra ter noção do que representamos para uma criança, um torcedor. Acabou o jogo contra o São Paulo, e fui a uma pizzaria. Estava cheio de torcedor e eu lá, normalmente. Muitos estranharam. Se fosse na minha época de garoto eu estaria maluco. Já pensou? Seu time campeão, faz 6 a 1 em um rival...
Quando você declara publicamente que torcia para o Flamengo na infância, é por não ter noção do impacto que isso gera com os corintianos ou é por encarar isso de forma natural, sem qualquer problema?
Todo mundo torceu para um time quando pequeno. A partir do momento que comecei a jogar por outro clube, por mais que na infância eu torcesse para o Flamengo, mudei. Eu torço para o Corinthians ser campeão, não adianta, estou aqui. Hoje sou corintiano, quero que o Corinthians seja campeão de tudo, quero botar meu nome na história do clube. Algumas pessoas não entenderam quando falei isso, então tive que me explicar. Na minha opinião nem precisava, mas para algumas pessoas eu me expliquei.
Você acredita que outros atletas deveriam ter a mesma postura e assumir o clube que torciam?
Cada um tem que se sentir bem. Eu sou claro com tudo, não tem motivo para ficar inventando. Antes, eu torcia para outro time, agora vou fazer de tudo para esse ser campeão. Depois que você roda um pouco mais no futebol, quer fazer o seu, conquistar o seu... Mas tive uma identificação forte com o Corinthians. Até nos momentos difíceis... Claro que uma parte da torcida ficava chateada e cobrava, mas uma parte grande me apoiava muito. Não é porque eu torcia para outro que vou ter identificação menor.
Acha que carregará essa identificação para sempre?
Com certeza! É impossível não ter essa ligação. Principalmente por coisas que vivi aqui. Se tiver dois filhos vai dar briga, cada um vai querer torcer para cada time, não tem como (risos). O Corinthians já está marcado na minha vida para sempre.
Você foi eleito o craque do campeonato pelo LANCE! e recebeu vários prêmios mesmo tendo feito poucos gols no Brasileirão (foram apenas cinco). Você se cobra para balançar mais as redes?
Eu nunca me cobrei por gol ou assistência. Às vezes você não dá o passe, mas inicia a jogada. Eu toco para você, você toca para ele, e ele faz o gol. Eu não faço questão de ser o último a dar o passe ou finalizar, faço questão de ganhar. Porém, mudei um pouco. Não me cobrava tanto para gol, mas depois comecei a me vigiar mais para entrar na área, não só para fazer gol, mas para estar próximo dele.
Foi você que passou a se cobrar ou o Tite que te pediu isso?
O Tite primeiro conversou comigo para colocar isso na minha cabeça, e eu vi que posso chegar mais. Hoje me cobro mais para isso, não só por gols.
Qual o momento mais marcante para você neste Brasileirão?
De uma forma coletiva, um jogo que me marcou foi o do segundo turno contra o Atlético-MG, por ter sido praticamente uma final e termos feito uma partida quase perfeita de forma tática e coletiva. Está entre as nossas três melhores partidas do ano. Individualmente, fui muito bem contra o Atlético-PR, quando marquei dois gols, e contra o Grêmio, quando fiz um gol importante, que nos deu o empate.