‘Um apaixonado’: Casagrande fala sobre Sócrates 13 anos após sua morte
Comentarista lembra dos momentos divididos com o ex-companheiro de Corinthians
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Referências do Corinthians no começo da década de 1980, Walter Casagrande e Sócrates formaram aquelas duplas difíceis de serem esquecidas, que marcam o futebol dentro de fora de campo. Não à toa, foram protagonistas também do movimento social Democracia Corinthiana, que lutou contra a ditadura militar no Brasil. Após anos de parceria dentro de fora dos gramados, Casagrande não tem dificuldades em resgatar memórias com o amigo e falar do ex-jogador, que morreu há 13 anos, na quarta-feira (4).
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- A maior virtude dele era ser apaixonado pelas coisas que fazia. Tudo o que Magrão fazia era porque queria, não fazia o que não queria. Tudo era intenso e verdadeiro, aberto, claro. Era ser apaixonado pelas pessoas que estavam ao redor dele e que ele se sentia seguro - define Caasagrande em comversa com o Lance!.
Magrão, apelido carinhoso dado pelo ex-atacante e atual comentarista à Sócrates, foi como um irmão mais velho que acolheu, ouviu e compartilhou experiências ao longo dos anos jogando juntos. Casagrande lembra da primeira vez que saíram juntos após uma partida. No saguão do hotel, foi abordado pelo camisa 8 para um encontro após uma vitória diante do Fortaleza, quando o então jovem de 18 anos havia acabado de chegar no alvinegro.
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As conversas profundas e pessoais sempre marcaram a amizade dos dois. Com uma diferença de quase uma década entre eles, o 'Big', apelido dado por Sócrates ao novato no time, conta que ouviu do próprio Sócrates as semelhanças que carregava um com o outro, motivo que fez a parceria dar certo dentro de campo também.
Fora do campo foram diversas conversas amorosas, eu sempre gostei muito e me marcava muito quando estávamos há bastante tempo conversando e tomando cerveja e o papo virava emocional. Ele dizia que se via em mim mais novo e eu respondia dizendo que queria ser que nem ele. Uma admiração mútua, um amor um pelo outro. Então sempre gostávamos de estar em campo juntos, treinar e jogar, fazer gols, não importava quem fizesse. Então isso sempre me vem na cabeça - que revelou que até hoje busca rever na internet gols e partidas marcantes da dupla no Corithians.
Uma delas é lembrada com mais carinho. No Morumbi, após a conquista do Campeonato Paulista de 1982, os companheiros atravessaram o campo do estádio de mãos dadas e celebrando a torcida do Timão. A comemoração, aliás, virou foto oficial de um calendário comemorativo do Corinthians em 1998. Segundo o ex-atacante, uma homenagem aos números 9 e 8, usados pela dupla no alvinegro.
- Foi natural, espontâneo, não lembro quem pegou na mão de quem, mas aquilo mostrou todo o amor que sentíamos um pelo outro e o amor e união do grupo - lembra.
- Magrão era um cara muito acima da média culturalmente e intelectualmente. Não falo nem do jogador médio, mas do cidadão brasileiro no geral. Ele era muito acima do cidadão, era um intelectual que jogava futebol. Muito conhecimento não só sobre política, mas sobre aquilo que ele gostava de viver e como ele gostaria que fosse um país. E calhou de cruzar no elenco, um time do povo, outras pessoas com esse comportamento - conta Casagrande ao citar os primeiros movimentos que calharam na criação do movimento da Democracia Corinthiana.
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O termo "união" usado com frequência por Casagrande ao falar de Sócrates e do que foi construído por eles e pelo elenco nos anos do movimento social. O camisa 8, pelos anos de experiência no futebol, com Copa do Mundo no currículo, foi visto como a primeira referência externa do grupo, como um "escudo" para blindar os mais jovens e o que era tratado por eles internamente.
Para o ex-atacante, a Democracia Corinthiana foi um sucesso por alguns fatores trem funcionado ao mesmo tempo. Para além das questões do "acaso", de ter um elenco que se movimentava rumo ao mesmo objetivo, era necessário ter algumas figuras de destaque e, principalmente, que os resultados em campo fossem positivos para o Corinthians.
- Precisávamos jogar bem e ganhar, não bastava ganhar jogando mal ou jogar bem e perder. O modo era jogar bem e ganhar para não dar brecha. E o outro fator era ter um grande ídolo como escudo, assumisse essa posição, e que soubesse que era a função maior ser escudo externamente. Internamente, éramos todos iguais, as opiniões e os votos tinham o mesmo peso. Mas da porta para fora, ele já era um ídolo mundial e assumiu isso - explica Casagrande.
O legado de Sócrates como figura relevante para o esporte e para as questões sociais rendeu ao ex-jogador uma eterna lembrança com a criação do Prêmio Sócrates, troféu entregue anualmente pela Fifa durante sua premiação de melhores da temporada, o "Fifa The Best", para figuras que se destacaram com lutas sociais dentro do futebol. Vinicius Júnior levou a premiação em 2023 pelo seu trabalho com educação social e racial. Sadio Mané, senegalês ex-Liverpool, e a jogadora espanhola Jenni Hermoso também já venceram o prêmio.
Tricampeão paulista com o Corinthians, campeão carioca com o Flamengo e peça marcante na eterna Seleção Brasileira de 1982, Sócrates morreu aos 57 anos em 4 de dezembro de 2011. No fim da vida, revelou a dependência de álcool, fator determinante para sua morte há 13 anos.
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