‘Tiozinho’ Sheik encerra carreira e dá prioridade para trabalhar no Timão

Agora ex-atacante dá sua última entrevista no Corinthians, abre possibilidades para trabalhar a partir de janeiro de 2019 e faz balanço sobre a carreira

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"O Emerson atleta acabou". Foi assim que, naturalmente, Sheik falou sobre sua aposentadoria na manhã desta sexta-feira, em sua última entrevista coletiva ainda como jogador do Corinthians. Aos 40 anos, ele disse estar tranquilo, brincou que agora é "tiozinho" e abriu possibilidades de trabalho para 2019.

- Estou saindo, o balanço é muito positivo, consigo fazer uma reflexão, e o sentimento que fica é de dever cumprido. Por todos os clubes que passei pude honrar as camisas, felicidade imensa de ter a certeza de que consegui levar alegria e felicidade a milhares de corações por onde passei. Estou tranquilo, já vinha planejando há muito tempo, estou feliz. Estou "de boa", como dizem os jovens. Agora sou um tiozinho - afirmou Sheik, que foi homenageado após o fim do treino ao receber um quadro assinado por jogadores e comissão técnica.

Em relação ao futuro, Sheik disse que vai decidir apenas em janeiro de 2019. Antes, quer sentar com a família e analisar as possibilidades. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, já falou diversas vezes que as portas do clube estão abertas. O agora ex-atacante afirmou que ainda não há algum convite oficial, e que tem sido consultado por "muita gente bacana". No entanto, admitiu que dará prioridade ao Timão para, possivelmente, trabalhar como dirigente.

- Na verdade é que não tenho absolutamente ainda, já manifestei inúmeras vezes o carinho, amor e sentimento de gratidão ao Corinthians por tudo que fez para mim. Foi uma honra vestir essa camisa durante tanto tempo. Pude honrar com outros atletas de maneira brilhante. Não sei o futuro, vou para casa, ficar um pouco com os meninos. Se por ventura esse convite surgir de maneira oficial, para mim, mais uma vez, vai ser uma honra poder contribuir de uma outra maneira para o Corinthians. Não sei nem se sou merecedor disso, mas, se acontecer, é começar do zero novamente, me dedicar ao máximo àquilo que me pedirem para fazer. Mas por enquanto não tem nada, de verdade. Possibilidade existe, óbvio, pela história que tenho aqui. Não sei nem se mereço tudo isso - disse Sheik, antes de ser questionado se tem o perfil para trabalhar mais na parte de campo ou na diretiva de um clube.

- Óbvio que tenho que buscar conhecimento, porque o que eu fiz na minha inteira foi jogar futebol, mas acho que tenho o perfil para ocupar os dois lados. Mas isso não quer dizer o que vai acontecer. Vou ser mais claro na resposta: acho que trabalharia no campo ou na parte de dentro. Mas tenho algumas possibilidades a partir de janeiro, o tempo todo falo do meu carinho pelo Corinthians, óbvio que aqui vai ser prioridade sempre na minha vida, mas tem bastante gente bacana me consultando, e quero respeitosamente sentar com calma para analisar todas as possibilidades e decidir - declarou.

Em sua última entrevista coletiva, Sheik ainda falou sobre seus arrependimentos e acertos, exaltou seu jogo beneficente de despedida na sexta-feira da semana que vem e disse que sentirá saudades da vida de atleta. Veja abaixo:

Como conseguiu ser tão polêmico e ao mesmo tempo ser uma pessoa querida no futebol?
Rapidamente falando da minha vida particular: algumas situações que aconteceram na minha não descrevem exatamente quem sou, é muito difícil falar de arrependimento, mas teve muitas coisas que aconteceram comigo que eu me arrependo, que não sou eu verdadeiramente. Ponto e final. Isso não vai acontecer nunca mais, porque isso não me fazia bem na época, não me faz bem hoje lembrar do que acontecer. Pior: nunca fez bem para a minha família, a cobrança era absurda em casa, minha família sofreu, principalmente minha mãe. Foi momento, passou e não vai acontecer mais. Minha maior riqueza no esporte são meus amigos. Eu sou querido, não tenho nenhum pudor de falar isso. Por todos os clubes que passei fiz várias amizades, carrego essas amizades até hoje. Com todas nossas brincadeiras de vestiário, os atletas me respeitam, pela história que tenho, pela idade. A história que construí no futebol foi minha maior conquista.

O Danilo também se despediu ontem, mas ainda vai continuar jogando...
Sou muito fã do Danilo, um cara completamente do bem, que é muito meu amigo. O Danilo é mais vencedor que eu, tem uma história linda, que eu admiro muito, uma história de superação principalmente por conta da lesão que teve há dois anos, quase ficou sem a perna, e, quando ninguém acreditava, se recuperou, conseguiu jogar e agradar. O departamento médico fez um trabalho brilhante com ele. O Danilo é um pouco mais diferente que eu. Acho que a diferença é esse momento da carreira, tem que ter uma força de vontade absurda, gostar muito. Não sei se conseguiria fazer o que ele fez, só passando para saber. Felizmente não passei por um momento como esse.

Tem dimensão dos títulos conquistados ou acha que vai ter apenas no futuro?
Tenho hábito de dizer que eu estava sendo pago para fazer tudo isso. Não consigo deixar de dividir os méritos. Todas essas conquistas, jogos e gols tiveram a participação de mais de 70 funcionários do Corinthians. Comissão técnicas, jogadores, funcionários de todos os setores do clube. Me sinto muito honrado de ter construído uma história bacana dentro de uma instituição que para mim é a maior do Brasil. Me sinto muito honrado de ter feito gols importantes e conquistado títulos.

Acha que o futebol está chato? Sobraram poucos jogadores irreverentes como você.
Acho que assim como nossos estádios no futebol brasileiro... Você pega o Maracanã, que o torcedor amava a geral e hoje virou arena. Que bom que virou, porque evoluiu. Mas o futebol perdeu sua essência dos últimos anos. Sou a favor das brincadeiras, apostas e zoeiras desde que seja de maneira respeitosas. Sempre zoei todos os rivais. É uma pena que nosso futebol tenha perdido atletas com esse perfil. Temos poucos com esse perfil ainda, você citou o Douglas, talvez tenha três ou quatro mais. Mas o futebol perde. Acho que quem se aproxima mais aqui é o Romero, que nem é brasileiro. O gringo brinca mais. Que possam surgir novos, nossa essência volte, que as punições diminuem, hoje não pode falar nada, comemorar gol com a torcida você pode ser punido. Tem essas punições que limitam essas brincadeiras, é uma pena porque o futebol perde a essência.

Como avalia o balanço neste último ano de carreira no Corinthians?
Na verdade, a ideia da aposentadoria surgiu em 2017, ali já comecei a pensar nessa possibilidade real. E o Corinthians fez a proposta para eu poder voltar. A ideia era fazer o Campeonato Paulista, ficar apenas seis meses no clube e encerrar em junho ou julho, essa era a ideia. Mas fui muito usado pelo Fábio (Carille) nos jogos, e consegui mais uma vez contribuir de uma maneira que poucos esperavam. Para a sequência do ano, o Fábio me pediu para ficar, para eu não aposentar, para eu ficar até o fim do ano. Sentamos, conversamos e decidimos que o contrato se estenderia até o fim do ano. Mas minha ideia de encerrar a carreira começou em 2017, está tudo bem, estou tranquilo em relação a isso, a cabeça está boa, porque já estou com essa ideia há muito tempo de parar e dar sequência à minha vida fora dos gramados.

Com você e Danilo fora, acha que o Jadson vai assumir o papel de "vovô"?
O Jadson é meu irmão, todo mundo sabe disso. Ele tem 35 anos, é um craque, mas vovô Jadson eu não consigo imaginar essa possibilidade. Ele é uma das pessoas mais alegres que eu já vi na vida. Não falando que os vovozinhos não são felizes e alegres. Mas o Jadson é mutio brincalhão, e quando ele brinca, parece que tem a idade do Pedrinho e do Mateus (Vital). Mas pela idade, sim. E pela experiência também ele assume com o Cássio essa responsabilidade de ser o mais velho do grupo, passar uma experiência para os jovens. Ele tem esse perfil, mas é muito mais brincalhão.

Acha que vai ser lembrado como herói do título da Libertadores?
Eu acho que sim. Porém, vou continuar dividindo os méritos. Muita gente envolvida, muitos profissionais que abriram mão de estar com o filho, com a mãe e com o pai, de passar o fim de semana em casa. Continuo com a ideia de dividir com todos que participaram daquela conquista linda que foi a Libertadores. Mas acredito que por causa dos gols da final vou ser o cara mais lembrado. Mas gostaria que fosse diferente, porque teve muita gente envolvida naquela competição.

Você falou sobre arrependimento. E qual foi o maior acerto na carreira?
O maior acerto na minha vida foi ter a grandeza de reconhecer os meus erros e tentar não errar novamente. No lado profissional, pensei, repensei, analisei, na época entendi que o local não tenha sido o local adequado, mas a situação da CBF na época eu não me arrependo da declaração que eu fiz.

NR: em 2014, Sheik foi expulso e disparou na saída de campo: "CBF, você é uma vergonha".

Como é sua relação com o Tite?
Ele foi um dos treinadores mais completos que eu trabalhei na minha carreira. Trabalhei com muitos, deixar todos de fora não consigo. Mas o Tite foi a pessoa mais incrível que eu conheci na minha vida inteira, como pessoa, como ser humano. Minha história aqui dentro do Corinthians mudou muito a partir de quando ele começou a me dar conselhos. Me tornei um filho melhor, um pai melhor, um irmão melhor. O Tite certamente dentro do futebol foi a pessoa mais completa que eu conheci.

Do que vai sentir mais saudades?
Até de falar com vocês eu acho que vou sentir saudades. Vocês sempre me trataram muito bem. Ah, vou sentir falta, saudades. Mas estou bem, estou preparado. Estou com pensamento para o próximo ano, não posso falar muito (risos). Acabou minha carreira de jogador de futebol. Tudo que eu fiz passou. Vou ter que começar do zero novamente, e estou cheio de vontade de começar do zero, de ser vencedor, de ser bom, assim como fui na minha carreira de jogador. O Emerson atleta acabou, estou consciente disso, muito preparado, entendo isso de uma maneira bem clara, e estou focado no que vou fazer ano que vem. Estou buscando informações e em janeiro vou definir. Tenho possibilidades, vou sentar com a família, com as crianças principalmente, e vou decidir o que fazer.

Como está a expectativa para seu jogo beneficente na Arena Corinthians?
Estava louco para vocês fizessem esse amigo. Quero falar desse evento que é um sonho de criança. Antes de tudo, imaginava fazer um futebol beneficente e ajudar um monte de famílias. Não imaginava que iria me tornar o Emerson Sheik e isso tornaria mais fácil. Vem uma galera muito foda, uma galera muito legal. Fui surpreendido com confirmações, vem uma galera de 94 que conquistou o caneco na Seleção Brasileira. E a oportunidade de ajudar milhares de famílias é muito gratificante. Esse ano, com a Arena Corinthians, a ideia é que não só a torcida do Corinthians, esse jogo não tem rivalidade. Nossa briga é contra a fome, os torcedores de outros times estão mais do que convidados. Vamos passar 1,5 milhão de itens arrecadados. Isso é algo que é muito bacana.

Você falou sobre a CBF. Pensa no futuro em algum cargo político na entidade?
O que fiz a vida inteira foi o futebol. Na hora de decidir o que fazer, vou tentar ir para o lado do esporte sempre. Agora, CBF já é um passo lá na frente, está longinho ainda. Mas pode ter certeza que o que eu me propor a fazer, vou fazer da mesma maneira que fiz na carreira toda, sendo respeitoso e leal ao trabalho.

Vai morar no Rio de Janeiro ou em São Paulo?

Sou carioca, mas sou apaixonado pela cidade de São Paulo. Minha vida era toda no Rio de Janeiro, centralizei minha vida toda lá depois que voltei para o Brasil, e daí conheci São Paulo. Tenho residência aqui, e não pretendo sair nunca mias. Rio de Janiero vou em fins de semana se for possível. Se não for, São Paulo também tem lugares incríveis para passar o fim de semana.

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