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‘Trump da ZL’, novo diretor sonha em unificar Timão e vê horizonte positivo

Flávio Adauto tem menos de uma semana como diretor de futebol do Corinthians, clube ao qual volta após dez anos. Ao L!, ele fala de metas, planos, reforços e até de seu sósia gringo

Trump e Adauto. Ou Adauto e Trump?
imagem camera(Foto:AFP/Daniel Augusto Jr/Corinthians)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 01/11/2016
20:02
Atualizado em 02/11/2016
06:00

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Jornalista com passagem por grandes veículos, conselheiro vitalício do Corinthians e vice-presidente de comunicações do clube durante o mandato de Alberto Dualib, Flávio Adauto voltou ao Timão na última sexta-feira para assumir o cargo de diretor de futebol. Aos 68 anos, ele largou a aposentadoria para atuar na gestão de Roberto de Andrade. Sua missão, no entanto, vai muito além da busca por reforços e do planejamento para a próxima temporada. Adauto transita entre diversas correntes políticas do clube, é um comunicador hábil e foi escolhido para unificar o Timão em um momento de profundo racha interno.

Unificar, aliás, é um verbo distante de um sósia de Adauto que a Fiel torcida logo identificou e expôs nas redes sociais: Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos. “Trump da ZL”, mas com pensamento político diferente do sósia gringo, Adauto brincou sobre o tema quando questionado pelo LANCE! em entrevista exclusiva.

– Pois eu não entrei em um restaurante outro dia e uns moleques gritaram “pô, é o Donald Trump!”. Não dá, um cara de extrema direita. Acho engraçado, mas o cara não tem nada a ver comigo. Talvez pela faixa etária. Teve uma vez também que me confundiram com aquele Roberto Justus, quando eu estava com o cabelo cheio. Levo na brincadeira. Se eu for me incomodar com isso, não vou ter tempo de caçar Pokémon com meus netos – brinca o dirigente do Corinthians, que aos poucos se habitua à nova rotina.

Com a agitação dos bastidores do Corinthians nos últimos meses, difícil será achar tempo para ir atrás dos Pokémons com os netos.

CONFIRA A ENTREVISTA DE FLÁVIO ADAUTO AO LANCE!:

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Flávio Adauto
Novo diretor na Arena Corinthians (Foto: Daniel Augusto Jr)

Como foi o convite do Roberto de Andrade e sua volta ao Corinthians em 2016?
Teve uma reunião que não participei no sábado (dia 22/10) no Parque São Jorge e no domingo o Nei (Carlos Nujud, que recusou a diretoria de futebol) veio me falar que o Roberto queria falar comigo. Na primeira conversa com o Roberto, falamos do jogo contra o Flamengo, que podíamos ter ganhado, que o time jogou direitinho e tal, aí ele disse que queria conversar comigo e perguntou se eu poderia passar na Nova (concessionária de Roberto de Andrade) na segunda-feira. Falei que passaria 11h30, 12h, mas fiz um monte de coisas na segunda-feira, busquei neto na escola e quando era 15h o Roberto ligou: "Ô Alemão, você ficou de passar aqui hoje...". Poxa, mil desculpas, mas passou batido. E perguntei se poderia ser na terça, ele disse que sim. Aí amigos ligaram dizendo que meu nome tinha recebido 12 votos, que um apresentou e os 12 concordaram, vê se não recusa, aquelas coisas. Aí na terça fiquei lá uma hora conversando com o Roberto, isso e aquilo, e pedi um dia para responder à proposta. Eu tinha que falar com a minha esposa, convencê-la. Ele me disse que dava um ano e três meses, que eu não ia perder a vida. Aí na quarta-feira eu disse que topava.

Você disse que 12 pessoas influentes do clube optaram por você. Isso quer dizer que seu papel vai além do futebol?
Acredito nisso, sim. E por uma razão: eu tenho no celular manifestações de todas as correntes do clube, Mário Gobbi, Andrés, com quem conversei, Eduardo Ferreira, que foi ao CT me dar um abraço, disse que se eu quisesse conversar nós conversaríamos. Ex-presidente do Conselho e atual, ex-presidente do Cori e atual, todo mundo. Dizendo que tinham ressalvas ao Roberto, mas que confiavam no meu nome. Eu sempre procurei conciliar, tanto no Sindicato de Jornalistas, associações. Sempre tento conciliar, mas sem fazer média.

Como tem sido sua rotina no CT Joaquim Grava nestes primeiros dias?
Tinha ido duas vezes ao CT na vida, para ver o Tite e tirar fotos e para ver o Mano, com quem havia estado em uma final de Champions League em evento da Heineken. Semana passada, já fui mais vezes que em toda a vida, almocei todos os dias para conhecer os funcionários.

Essa conciliação política foi uma determinação do Roberto de Andrade?
Ele não falou nada, só disse que gostaria que eu estivesse com ele.

A ideia é contratar um diretor-adjunto para te auxiliar?
A ideia é, se houver a oportunidade, trazer alguém. Sem afogadilho. Tem um monte de gente boa que pode ser útil, mas não fiquei pensando em nomes, porque só vai desgastar a pessoa.

Já que a diretoria já levou três recusas...
Não acho que tenha sido negativa do Duílio (Monteiro Alves), por exemplo. Já se sabia que ele não sairia dos Estados Unidos, onde tem negócios, mas como foi adjunto do Roberto é natural o convite. Do Nujud não é que ele quis ou não quis, mas ele colocou uma condição, de ser profissional remunerado e o estatuto não permite isso.

Pensam em buscar um adjunto no mercado? Alguém que seja executivo mesmo?
Não conversamos sobre isso. Mas falei ao Roberto que não diríamos que tem alguém ou não. Mas de repente aparece uma oportunidade. Temos só dois jogos fora de casa, em Florianópolis e Belo Horizonte, e eu posso ir. Mais três jogos em São Paulo e pronto neste ano. Acho uma boa ideia alguém de fora. Mas acho que o Corinthians tem alguém muito bom que pode galgar degraus em curto espaço, que é o Alessandro. É um cara respeitado. Mas só conversei com o Roberto mesmo sobre oportunidade, sobre lembrar de alguém, lembrar o nome de uma pessoa que possa ajudar. Pela demanda que eu tenho dá para tocar até o fim do ano, fazendo, projetando, sem afastar possibilidade de somar alguém.

Muito se fala sobre sua inexperiência em gestão. Como encara as críticas?
Tem um monte de gente que jogou futebol, tentou ser técnico e foi uma porcaria. Eu, aos 34 anos, assumi uma secretaria de Estado como coordenador de Estado e mais de mil pessoas sob minhas ordens. Convivi durante quatro anos sem um único atrito. No futebol tem 60 pessoas. Eu vou dirigir um departamento de futebol, tendo um presidente, um gerente, um técnico, comissão, jogadores. Há 30 anos o Osvaldo Brandão entrava no clube e ia experimentar para ver o feijão estava bom, não tinha nutricionista. Hoje tem um departamento. Não quero ver jogador dentro de vestiário, quero conversar com as pessoas.

Você colocou condições no seu contato com o Roberto de Andrade? Pergunto isso porque o Eduardo Ferreira saiu do clube por não ter sido consultado na escolha do novo treinador...

Não me agradaria uma situação dessas, mas não sei como se deu essa situação com o Eduardo. Nenhum dos dois falou disso e eu não perguntei. Também me desagradaria. Mas é isso aí, eu não sei o que faria, não sei como tem sido o relacionamento, não sei se tem esse tipo de conversa. Comigo vai ter.

Você pediu autonomia na diretoria de futebol?
Quem pede autonomia não vai ter. Não vou chegar dizendo que aqui mando eu. Você tem que fazer com que as pessoas se alinhem com você naturalmente. E se não se alinharem, não há comando. Eu jamais combinaria carta branca com o Roberto, quem falar que tem é mentira. O regime é presidencialista, eu preciso de habilidade para falar com ele. No Corinthians, o treinador indica e o diretor viabiliza. Mas no Corinthians tem a questão financeira também, e eu já conversei com o Emerson Piovezan (diretor financeiro do clube), pedi para saber até onde posso ir. Ele disse que estava fechando nesta semana o orçamento, que será levado ao Conselho.

A ida ou não à Libertadores afeta nesse orçamento, nesse planejamento?
Afeta, é muito importante. A ida é o que falta para nós sentarmos e decidirmos fazer certas ações. Não indo à Libertadores você tem Campeonato Paulista, algumas cotas, mas bilheteria só em fase decisiva, Copa do Brasil e Brasileiro, todos que já estão no calendário. Mas esses três eventos não nos contemplam como gostaríamos, ainda mais a Libertadores sendo agora o ano inteiro. Cada vez em que entra em campo você recebe dinheiro na Libertadores, isso faz diferença. Tem que pensar no aspecto técnico também: quantos jogadores você vai precisar no ano disputando quatro competições? Dá com esse elenco? É possível poupar e manter o nível, como alguns estão fazendo neste ano? Na primeira conversa com Oswaldo disse que precisamos desse equilíbrio de comportamento.

Você gosta do elenco atual ou há necessidade de reforços importantes?
É uma base boa que precisa de outras coisas. Mas quem determina o que precisa é o Oswaldo, e ele está muito concentrado em definir o que vamos disputar em 2017. O primeiro plano é 2016, se você ganha três jogos desses cinco que faltam pode ser o suficiente para se classificar. Até porque também pode ter uma sétima vaga.

Já está trabalhando por contratações para 2017?
Não estou muito habituado ainda, mas todo cara que quer valorizar jogador planta na imprensa. Existe muita facilidade de comunicações, o mundo é uma ervilha. Eu dei a resposta ao Roberto e meu primo que mora em Aracaju me ligou para reclamar que eu havia aceitado ser diretor e não iria mais para lá passear. As coisas rodam rápido. Não estou culpando imprensa, mas vão sair 30 nomes de reforços. Eu vou pegar os levantamentos, pegar os jornais que fazem esses acompanhamentos de mercado e ver isso. Até dezembro vamos ter 30 nomes que o Corinthians está interessado. Só que não vinga. Na média, 90 a 95% não vingam. Sabe o que vinga? Entre regionais e o Brasileirão. Pode pegar os números. Você termina o Campeonato Paulista em maio e aparece um monte de jogador bom.

O que já vingou para o ano que vem?
O Luidy, que vem de Alagoas, o Jô, com quem já almocei no CT, e os nomes que o Oswaldo apresentar. Agora é razoavelmente inteligente você disputando vaga na Libertadores ficar fazendo bochicho de contratação? No que depender de mim vamos afastar essas conversas. Tivemos duas oportunidades, mas contratação não deve haver mais até o fim do Brasileiro. O Jô talvez perdêssemos se quiséssemos segurar até janeiro. Agora os outros vamos monitorando, conversando, analisando orçamento, analisando indicações do Oswaldo e as próprias análises do Oswaldo sobre nosso elenco e carências.

Como diretor de futebol, há alguém que seja sua referência?
Conheci um supervisor nos anos 70 que era o melhor do Brasil pela forma de comandar e liderar, tanto que foi para a Seleção Brasileira. É o professor Almir de Almeida, que veio para o Corinthians em fase muito difícil e contornou praticamente todas as situações. Porque o Corinthians vive em ebulição, ganhou título outro dia e agora está acontecendo tudo isso. Quarenta anos depois, a mesma coisa. Vivo dentro do futebol desde que nasci, era gandula no campo do Paulista de Jundiaí. Já vi muita coisa. Como jornalista cobri Seleção Brasileira buscando furo, buscando perfeição, fiquei 90 dias fora do país na Copa do Mundo de 1974, convivendo com jogador. Penso dentro de uma ou duas semanas ser um cara mais recluso, só estar presente quando houver necessidade. Porque quem é notícia no CT são Oswaldo e jogadores, eu sou notícia quando houver algum problema. Estarei todos os dias no CT, assumi esse compromisso, mas pretendo ser discreto.

Você disse que esse Almir de Almeida contornou muitas situações. Hoje você tem uma questão importante a resolver, que é dos goleiros, o Cássio no banco. Como vai lidar com isso?
Penso em conversar com os dois individualmente, trocar uma ideia francamente, saber, ouvir. Ainda não deu tempo. Perguntaram se eu queria um quarto no hotel e disse que sim, para ficar o máximo de tempo aqui conversando com as pessoas.

Willians, Rildo e Issac não terão mais contrato em 2017. Já há definições?
A gente conversou sobre eles, mas não o que vai acontecer com eles. Se eu falar com vocês mais para frente posso ter um quadro mais claro.

O Andrés deu uma entrevista recente dizendo que o Corinthians precisa de "bandidos do bem" no elenco. Concorda?
Com a terminologia não concordo, mas no sentido figurado acho que é necessário ter jogador com alguma picardia do argentino, que sabe a hora de se impor. Jogador em meio profissional não pode ser inocentezinho.

O que espera deste período em que será diretor de futebol?
Um ano e três meses. Espero que passe rápido e que eu seja útil. Não sei nada ainda de futuro e tenho sentido um horizonte positivo, os objetivos são positivos, a ideia de ter um time em 2017 forte como foi em 2015 existe. Não tem 20 campeões. Entre os que mais investiram no Brasil em 2015 e 2016 não está o Corinthians, foi um planejamento dentro da realidade.

Andrés, Gobbi e Roberto de Andrade foram diretores de futebol do Corinthians antes de chegarem à presidência. Pensa em fazer o mesmo caminho?
Eu serei ao final do ano quase um septuagenário. Ser presidente é para quem tem mais juventude, idade pesa. O Corinthians tem gente nesta faixa etária em condições. Todo mundo combatia o Dualib. E normalmente os times que têm tido presidentes mais jovens, Bandeira, Nobre, com menos idade, se reinventam mais rápido. No meu caso é remotíssimo, não tem possibilidade. Nas últimas eleições eu nunca quis cargo nem nada, mas agora eu senti que precisava ter ânimo de fazer alguma coisa nova, não parar, não ceder às adversidades. Chegou um momento em que parei de trabalhar e comecei a ler, aí leio o LANCE!, o Estadão, a Folha, um livro, outro. Cansa a vista. Agora estou no Corinthians, que não vai me dar sossego. Mas lá atrás me fez bem, não me estressei. Agora vamos ver como será.

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