Cinco problemas que o próximo técnico do Cruzeiro precisará corrigir

Raposa está a oito jogos sem marcar e venceu apenas uma das últimas 18 partidas; Próximo comandante terá jornada árdua para botar equipe nos trilhos

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A derrota por 1 a 0 contra o Internacional, no primeiro jogo da semifinal da Copa do Brasil, na última quarta-feira, foi a gota d'água para Mano Menezes à frente do Cruzeiro. Em acordo com a diretoria celeste, o técnico de 57 anos anunciou o fim de sua segunda passagem pelo clube - que sonda Dorival Júnior para a lacuna no comando técnico. 

Demitir Mano, porém, não fará que a situação mude da água para o vinho. Eliminada da Liberadores, a Raposa está a oito jogos sem balançar as redes e venceu apenas um dos últimos 18 jogos. Diante da má fase da equipe mineira, o LANCE! reuniu cinco problemas que o próximo técnico do Cruzeiro terá que corrigir se quiser ter sucesso: 

FALTA DE INTENSIDADE NO MEIO-CAMPO

A partida de Edenílson, Patrick e Rodrigo Lindoso contra o Cruzeiro, na última quarta-feira, escancarou um dos pontos fracos da equipe celeste: o meio-campo. Móveis, atuando com intensidade de área a área durante os 90 minutos, o trio colorado dominou o setor, tanto no momento defensivo - recuperando a bola - como na transição ofensiva, saindo em velocidade. 

Do outro lado, Henrique e Ariel Cabral entregam características opostas. Menos móvel, a dupla pouco deixa a frente da área defensiva para criar superioridade numérica em outros setores, como no terço final do campo. Assim, quando propõe o jogo, desde a construção das jogadas, o Cruzeiro é estático, sem trocas de posição e elementos surpresa na área. Foi assim nos últimos dois jogos, contra Inter e Atlético-MG - que perceberam a ineficácia ofensiva do time azul, entregaram a bola aos comandados de Mano Menezes, e abusaram dos contra-ataques. 

Abaixo, os mapas de calor de Ariel Cabral (à esq.) e Henrique (à dir.), na partida contra o Internacional, mostram que os volantes da Raposa não pisaram na área ofensiva uma vez sequer durante o jogo. 

Mapas de Cabral (à esq.) e Henrique (à dir.) Divulgação/Footstats

Já nos mapas de Patrick (à esq.), Lindoso (centro) e Edenilson (à dir.), é possível flagrar uma maior cobertura das duas metades do campo e, consequentemente, uma maior presença na grande área ofensiva. 

Mapas de Patrick, Lindoso e Edenilson, respectivamente (Foto: Divulgação)

ELENCO RESTRITO...

Diante dos escândalos e a dificuldade financeira enfrentada pelo Cruzeiro em 2019, o elenco celeste foi enfraquecendo ao longo da temporada. Desde o primeiro trimestre, auge da Raposa no ano, a equipe perdeu Rafinha, boa peça de reposição que saiu para o Coritiba, Lucas Romero, voltando à Argentina, e Lucas Silva, que poderia ser a solução da falta de presença dos volantes cruzeirenses no momento ofensivo do jogo, mas retornou ao Real Madrid em julho. 

A verdade é que o grupo atual carece de jogadores com características distintas entre si. Éderson, da base, surge como opção para ser um volante 'de chegada', diferente de Henrique e Cabral, mas ainda carece de minutos no time de cima. Muito por isso, especula-se que o clube esteja atrás de Jobson, do Santos. O jogador de 23 anos destacou-se pelo Red Bull Brasil, no Campeonato Paulista deste ano, pelas boas chegadas ao ataque, e marcou dois gols na competição. 

...E JOVEM

O jovem Maurício, de 18 anos, é um exemplo da mudança de paradigma que o Cruzeiro enfrenta no segundo semestre. Desde a saída de Rafinha, de destaque da base que sequer havia estreado pelo profissional, o garoto tornou-se uma das alterativas diretas, tendo, inclusive, entrado em campo contra o Inter, na quarta-feira. Nos últimos dois meses, o jogador fez suas quatro primeiras partidas no time de cima. 

Esta, inclusive, é uma nova realidade para a equipe não só neste ano, mas em relação às últimas temporadas. Não por opção, mas por necessidade, dos nove jogadores que a Raposa tinha no banco contra os gaúchos na quarta-feira, cinco vieram da base (Vinícius Popó, Adriano, Cacá, Maurício e Fabrício Bruno). Com a exceção do último, que jogou uma temporada emprestado à Chapecoense, todos com pouquíssima experiência no profissional. 

POSICIONAMENTO DE ROBINHO

Sob a batuta de Mano Menezes, o meia atuou, na imensa maioria das vezes, aberto pela direita, com a missão de acompanhar os laterais-esquerdos adversários. Robinho, porém, nunca foi reconhecido pela capacidade atlética acima da média, o que o permitira atacar e defender com a mesma intensidade. Aos 31 anos, nessa função, o jogador acaba muitos dos jogos nitidamente exaurido - substituído em 10 das 30 partidas que fez como titular em 2019. 

Além disso, com Robinho aberto, o Cruzeiro se aproveita menos das melhores qualidades do atleta. O paranaense, que tem um bom passe, capacidade de lançamento, visão de jogo, além de ser um bom finalizador de média e longa distância, poderia utilizar melhor essas características mais ao centro, de frente para o ataque celeste. 

Abaixo, é possível a região do campo em que Robinho tocou na bola contra o Inter: majoritariamente, pela ponta direita. 

Mapa de toques na bola de Robinho, contra o Inter (Foto: Footstats)

FIGURÕES E CLIMA INTERNO

Se nos bastidores, com os escândalos envolvendo a cúpula que comanda o clube, o clima não é nada bom, nos vestiários a situação com Mano Menezes não parecia muito melhor. Logo após a eliminação contra o River Plate, pela Libertadores, respondendo em tom duvidoso a perguntas na zona mista, Fred disse que o estilo de jogo do treinador não se encaixava nas suas características, e que a equipe estava "jogando para isso mesmo, para ganhar de 1 a 0 e passar de fase no mata-mata". 

Artilheiro do Cruzeiro no ano, com 16 gols, o centroavante está há 16 jogos sem balançar as redes. Parte do ataque que não marca há oito duelos, Thiago Neves também enfrenta queda de rendimento. Ambos mostraram irritação após a derrota dos mineiros no último jogo - o camisa 9 bateu boca com um torcedor no corredor de acesso aos vestiários, enquanto o camisa 10 alfinetou repórteres na Zona Mista. 

Exceto neste fim de trabalho, o controle sobre o ego de seus principais jogadores foi uma das grandes virtudes de Mano Menezes durante os três anos à frente da equipe estrelada. Diante do mau momento de jogadores de peso, os quais exercem grande liderança nos vestiários da Toca da Raposa, o próximo treinador precisará se inspirar em seu antecessor, neste quesito, se quiser ter sucesso. 

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