Islândia, o patinho bonito na Eurocopa dos brigões

Em campo, bons resultados. Fora, aula de civilidade da torcida numerosa (se especula que 6% da população do país estarão na quarta-feira em Paris). Islândia é o lado bom da Euro

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Na onda de violência entre torcedores, com brigas fora do estádio em quase todos os jogos e incidentes mais ou menos graves envolvendo arruaceiros ingleses, russos, croatas e turcos nos palcos das partidas, uma torcida vem conquistando simpatia generalizada: a da Islândia.

- Eles parecem que estão visitando a Disney. Famílias, vovôs. Se conhecem como se morassem na mesma rua, se encontram e se abraçam. Quando veem um torcedor da outra seleção querem tirar fotos juntos para recordação - disse Margueritte, que ao lado do marido Justin é dona de um bar ao lado do Estádio Geoffroy Guichard, em Saint-Étienne, local da estreia islandesa contra Portugal, no dia 14.

Os islandeses protagonizaram naquele jogo a primeira surpresa da Euro-2016. Tanto em campo (empate em 1 a 1 contra um dos favoritos)  como nas arquibancadas. Seis mil ordeiros, cantando - grito principal é um "Hu, Hu" -  torcendo abraçados e apoiando o time sem parar. Um assombro se levarmos em conta a população islandesa: 330 mil. Naquele dia, quase 2% do país dentro de um estádio.

O resultado causou uma euforia ainda maior estre os islandeses. "Quase equivalente à que teve quando o handebol levou a prata olímpica nos Jogos de Seul", como lembrou Kolbe Dasson, do jornal local Visir.

No sábado passado, em Marselha, quando a seleção - que tem todos atuando fora, metade em países escandinavos - enfrentou a Hungria - o número aumentou para dez mil. 

Em Marselha, a festa começou no dia anterior. Boa parte chegou na sexta-feira e celebrou nas praças o dia da Independência do país da Dinamarca (17/6/1944).  No sábado, a torcida quase festejou a primeira vitória. O time sustentou o 1 a 0, gol de Gylfi Sigurdsson de pênalti, até os três minutos finais, quando cedeu o empate. 

Onde passa a Islândia ganha simpatia. A França já os adotou. Não só pelo azul da bandeira e da camisa da seleção - e, acreditem, 95% deles usam a camisa do selecionado, formando o que chamam aqui de muro azul - como pelo sorriso, timidez e educação. E também porque eles são ótimos consumidores.

- Estão aproveitando para curtir férias na França, compram muito Bebem como britânicos e russos. Só que sem agressividade nenhuma quando estão mais altinhos - disse Lukas Henri proprietário de um pub em frente à estação de Saint-Étienne.

Gylfi Sigurdsson (centro) corre para festejar o gol islandês sobre a Hungria no empate de 1 a 1 (Foto: AFP/BORIS HORVAT)

A próxima parada promete ser ainda mais marcante. O último jogo pela fase de grupos será no Stade de France, no dia 22, contra a Áustria. Na briga por uma das vagas às oitavas, a previsão é a de que 20 mil islandeses, ou 6% da população, marquem presença. Seria como se seis milhões de brasileiros acompanhassem a Seleção na Copa América nos EUA.

- Estamos participando de nosso primeiro grande evento. Somos patriotas e queremos deixar a melhor impressão - disse Geirsson, islandês que acompanha a seleção nestes três jogos da fase de grupos ao lado de oito familiares, todos de férias.

Geirsson (de boné) ao lado de três familiares. Quase toda a torcida islandesa vai ao jogo com a camisa da seleção (Foto: Carlos Vieira)


A boa impressão os torcedores já deixaram. Principalmente em um torneio que ganha as manchetes devido à má educação de alguns fãs de quase todas as demais seleções (hoje, as federações da Croácia e da Turquia deverão receber pesadas multas por causa de seus baderneiros).

Islândia mandou bem nas Eliminatórias

Embora seja uma surpresa, a Islândia não caiu de paraqueda na Euro. O time todo tem experiência internacional, todos jogam fora do país, alguns em ligas de primeiro nível. O craque do time Gylfi Sigurdsson defende o Sawnsea da Premier League inglesa. O goleador Sighthórsson é o atacante do Nantes, oito vezes campeão francês. Nas Eliminatórias, não apenas eliminou a Holanda (vencendo em casa e fora) como terminou também na frente da Turquia, além de vencer em casa a líder República Tcheca.

O time, embora dê ênfase ao sistema defensivo, tem bom toque de bola e gosta de atacar. É treinado por Lars Lagerbäck - comandante da Suécia entre 2000 e 2009 - e pelo islandês Heimir Hallgrimsson, que vem sendo preparado pelo sueco desde 2011 para ser o técnico em definitivo da seleção, o que ocorrerá assim que terminar a Euro.

E se o time não é tão artístico com a bola no pé, pode se orgulhar de ter um artista no elenco. O goleiro Halldórsson, além de defender o Glimt da Suécia, é cineasta, tendo feito o clipe oficial da candidatura islandesa para um festival da canção.

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