- Quando olho para o meu companheiro de equipe, sei que ele sacrificará para compensar meus erros. E eu faço a mesma coisa para ele. É a nossa atitude, a nossa mentalidade. E acreditamos nela.
A frase acima, mostrando uma extrema doação em campo, foi de Aaron Gunnarsson, capitão da Islândia, após a vitória da sua seleção sobre a Inglaterra por 2 a 1 e que valeu uma improvável qualificação para as quartas de final neste domingo, no Stade de France, quando enfrentará a anfitriã França.
Gunnarsson não é o goleador do time, tarefa de Sighthórsson. Nem o craque, este é Gilfy Sigurdisson, o baixinho da camisa 10. Mas o meia de 27 anos, 63 jogos e dois gols pela Islândia é, sem dúvida, a cara da seleção nesta Euro.
Capitão desde 2012 assumindo a braçadeira do ídolo Gudjohnssen, Gunnardsson marca presença tanto fisicamente (forte como um jogador de rúgbi e com uma barba viking) como pelo comportamento que em nada se assemelha às "prima donnas" do futebol (sempre risonho, solícito com a imprensa, parando em todas as zonas mistas).
Em campo é um líder incontestável e para completar, desde a vitória sobre a Áustria - que valeu a vaga às oitavas - puxa a comemoração que está virando marca registrada da sua seleção e da torcida: numa pose de guerreiros, jogadores e torcedores esticam os braços e batem palma com força acima da cabeça, aos gritos de "Hu, Hu, Hu". Lembra um pouco o famoso "haka" da seleção de rúgbi da Nova Zelândia (sem dança).
Gunnarsson vem sendo a figura da Islândia desde o início da Euro. Ele foi protagonista da cena em que Cristiano Ronaldo aparentemente o ignorou e não quis fazer a troca de camisa. A imprensa logo disse que o português respondeu " Não troco, quem é você" o que gerou uma revolta na imprensa a ponto de o jornal alemão "Bild" dizer que CR7 era o o vaidoso mais arrogante do mundo".
O meia, perguntado sobre o assunto, resolveu encerrar a polêmica:
- Cristiano não me perguntou quem eu era. Apenas disse para trocarmos as camisas no vestiário, o que não aconteceu. Estou cansado desta história, quero ficar focado os jogos contra Hungria e Áustria.
Gunnarsson mostrou seu bom humor quando os companheiros deram a ele uma camisa de CR7. Até posou com ela. Mas cumpriu o prometido, focando ainda mais os treinamentos que a seleção faz no seu QG, que fica na cidade de Annecy, pertinho de Lyon.
Gunnarsson quase virou jogador de handebol, muito popular no país e que deu à Islândia uma medalha de prata olímpica em 2004. Seu pai jogou pela seleção nacional deste esporte. Um irmão joga atualmente no handebol alemão. Mas Gunnarsson sempre se destacou no futebol, forte na marcação e dono de eficazes passes em profundidade. Defende a Islândia desde o sub-17 e fez toda a sua carreira no futebol inglês. Primeiro no Coventry (da Terceirona), e desde 2011 no Cardiff, onde atua ao lado do brasileiro Fabio (irmão gêmeo de Rafael e que defendeu o United). Com os galeses - hoje na Segundona - disputou a sua única Premier League em 2013/14.
- Meu sonho era jogar na elite inglesa e consegui depois de muito tempo no futebol inglês. Agora realizou o sonho de defender meu país na Euro - disse o camisa 17, que fez fez o primeiro gol da história do Cardiff na Premier League (derrota para o United) - e que cultiva a sua agora famosa barba exatamente para a disputa desta Euro.
Quando perguntado sobre o título que estampou a manchete do principal jornal islandês (o Frettabladid, algo como Jornal dos Furos, em Islandês) "Onde isso irá parar?", o meia repetiu o discurso da comissão técnica e de vários companheiros.
- Chegamos longe nesta Euro. Mas dá para sonhar um pouco mais, disse Gunnarsson, louco para repetir após o jogo as cenas de carinho e beijos na esposa Kris, presença constante nas arquibancadas ao lado dos simpatícíssimos e incríveis torcedores islandeses, já que 4% da população (330 mil do país marca presença na França de uma forma ordeira e elogiada por todos. E, claro, Gunnarsson quer puxar mais uma vez a celebração da vitória. "Hu-Hu-Hu".