O Flamengo alcançou um feito significativo de sua estruturação. Em abril, o clube pagou a última parcela do seu empréstimo com o banco BRB, no valor de R$ 23 milhões. Com esta quitação, o clube não tem nenhuma dívida bancária.
A informação, destacada pelo "Panorama Esportivo", em "O Globo", foi publicada sem alardes no mais recente demonstrativo do Rubro-Negro. Em nota do balancete, há a informação:
“O valor apresentado como saldo em 31/03/2023 foi quitado integralmente durante o mês de abril-23, fazendo que o clube não tenha mais passivo”.
Presidente do Flamengo entre 2013 e 2018, Eduardo Bandeira de Mello contou ao LANCE! como foi a luta para colocar o clube nos trilhos financeiramente.
- Foi uma coisa que começamos a implementar dez anos atrás. Contamos com a colaboração da torcida, que entendeu esse novo momento e abraçou nosso projeto e iniciamos este desafio. Essa marca de zerar a dívida nos bancos é um feito muito significativo. A dívida dos bancos era tão difícil de quitar quanto a que o Flamengo conseguiu na minha gestão, que foram as quitações das dívidas tributárias e trabalhistas - afirmou.
Bandeira de Mello revelou que os problemas com dívidas bancárias eram bastante desafiadoras quando ele assumiu a presidência do clube.
- Era um número relevante, e só não era maior por falta de crédito. Como não se resolvia, fazia uma apropriação indébita. Era uma forma de se financiar, mas não recolhia os impostos e o custo da dívida se tornava bem maior. O Flamengo não tinha qualquer credibilidade financeira - disse.
O ex-dirigente contou como foi o trabalho para sanar as dívidas e mudar o panorama do clube.
- Fomos diminuindo ao longo do tempo. Houve um determinado momento no qual tivemos de aumentar a dívida, pois era necessário quitar pendências com a Fazenda. A oposição também nos acusou de trocar dívida pública por dívida privada. Mas, graças a esse aumento momentâneo, fomos adequando as contas do clube - destacou.
Atualmente deputado federal pelo PSB-RJ, Bandeira de Mello demonstra otimismo com a forma como o Flamengo segue fortalecido financeiramente na gestão de Rodolfo Landim.
- Pelo que vejo nos demonstrativos, há uma continuidade no esforço financeiro e como isso vem evoluindo. Desde o final de 2018, entregamos para a futura gestão uma situação bastante confortável. Deixamos uma parcela das luvas do contrato com a Globo para a administração seguinte e o valor da venda de Lucas Paquetá para o Flamengo. A consequência disso é uma melhoria de condição financeira, associada a uma profissionalização dos clubes - disse.
'QUANDO CONTROLA A DÍVIDA BANCÁRIA, SOBRA MAIS DINHEIRO EM CAIXA'
A forma como o Rubro-Negro vem equacionando suas finanças é vista como crucial para o clube subir de valor. Consultor em gestão e marketing esportivo, Amir Somoggi disse como o novo passo foi essencial para o Flamengo.
- Realmente é impressionante. Não só a dívida bancária, como também o endividamento geral do clube caíram para o menor nível da história com o maior faturamento da história. Normalmente, você vê clubes como Atlético-MG e Palmeiras nos quais o faturamento vai crescendo e a dívida cresce também. Em muitas vezes, a dívida se descontrola, como foi o caso do clube atleticano. O Flamengo tem esse controle financeiro realmente extremo - destacou.
Em seguida, Somoggi contou como a quitação de antigas pendências bancárias pode ser decisiva para que um clube se fortaleça ainda mais.
- A partir do momento que você não tem tanta dívida bancária, sobra dinheiro em caixa. A dívida bancária gera uma despesa financeira, que são os juros da dívida. O clube vai ter de tirar do seu futebol, do social, do marketing ou de algum outro lugar caso não tenha recursos para pagar a dívida bancária. Senão, vira uma bola de neve, como o que acontece com qualquer pessoa que entra no cheque especial e não quita. É muito desafiador um clube conseguir resolver suas pendências bancárias, nos juros altíssimos que o Brasil tem hoje. No mínimo, atualmente é 2% ou 3% ao mês de empréstimo ao clube. Diante disso, vale muito a pena uma gestão tentar equacionar suas dívidas financeiras. Os recursos que são atualmente direcionados aos bancos podem passar a ser investidos também em outras frentes - disse.
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Aos seus olhos, o equilíbrio que o Flamengo vem conseguindo é crucial, em especial perante a realidade brasileira.
- A grande questão é que a dívida bancária financia o departamento de futebol. A partir do momento que um clube diminui sua exposição bancária, tem de reduzir seu orçamento. A não ser, claro, que tenha aumentado muito a receita. O Flamengo pode porque tem muita receita. Porém, há clubes que estão reduzindo seu orçamento e financeiramente piorando suas receitas. O problema é caber esse equilíbrio entre cortar o custo e evoluir em receita para, a partir daí, com seus recursos passar a financiar sua atividade e não destinar os valores aos bancos. Esse é o desafio do futebol brasileiro. O gasto dos clubes não é só com despesas de juros. Há também atualizações de tributos. Hoje, as atualizações estão pagando o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é altíssimo. É uma situação na qual os clubes têm de reduzir a exposição bancária para haver esse equilíbrio - constatou.
ESPECIALISTA VÊ POSSIBILIDADE DE ESPAÇO PARA NOVOS INVESTIMENTOS
O sócio da Sports Value ainda constata que o fim da dívida bancária abre caminho para o Flamengo investir em outras frentes. De acordo com Amir Somoggi, há uma possibilidade de projetos que são cogitados ou apenas no papel se concretizarem.
- O Flamengo se torna ainda mais forte financeiramente no momento no qual reduz um endividamento bancário. Sem sombra de dúvidas, investe mais em marketing, em projetos como jogos de conteúdo ou no estádio próprio, projetos de off-Rio, tem coisas que podem investir que anteriormente iam para o banco - disse.
Aos seus olhos, os clubes cada vez mais têm de voltar suas atenções para que suas marcas consigam expansão para outras regiões.
- Vale muito para clubes que têm dimensão nacional projetos como o digital e o conceito de torcedores "off", que é como são definidas as torcidas de outras regiões. É importante ampliar os ganhos com o torcedor distante, que não está ali do lado. Isso acontece com o Barcelona e Real Madrid, que têm torcedores na Tailândia e em Singapura... - e explicou:
- Flamengo, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo e tantos outros clubes têm torcida fora de seus estados. Ali há um potencial muito maior, pois são milhões que moram longe mas não há uma exploração de mercado direcionada para eles. O Flamengo tem 20 milhões de torcedores no Nordeste, por exemplo. Seria importante voltar-se também para eles - constatou.