A precoce eliminação do Flamengo para o Olimpia nas oitavas de final da Copa Libertadores da América trouxe à tona velhos problemas estruturais dos bastidores rubro-negros. Da Gávea ao Ninho do Urubu, falhas conhecidas da torcida pairam no ar e demonstram o óbvio: o faturamento bilionário não é capaz de esconder a má gestão.
Desde o processo de reestruturação iniciado pelo ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo profissionalizou diversas áreas. Com as finanças em dia, o mandato de Rodolfo Landim se iniciou com condições de injetar dinheiro na montagem do elenco e colher os frutos com o trabalho feito no Ninho do Urubu. A gestão atual também conseguiu manter a organização 'de bastidores' da Gávea. No entanto, quando o assunto é futebol, a história muda de figura.
Não ironicamente, o departamento que mais requer profissionalismo é o menos profissionalizado. O departamento de futebol acumula erros, que se iniciaram em 2019 e se estendem até hoje. De lá para cá, foram quatro temporadas e oito técnicos diferentes. Em todos os anos citados, o cenário se repetiu, principalmente com os treinadores estrangeiros pós Jorge Jesus.
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Jogo funcional x jogo posicional iniciam o debate das falhas estruturais. Isso porque, a escolha do técnico para o comando da temporada influencia diretamente nos resultados, e todos os adeptos do jogo de posição tiveram o mesmo destino: insucesso. O DNA incompatível com o elenco que o Flamengo tem à disposição grita a cada tentativa frustrada de fazer os jogadores se adaptarem às características do treinador, e não ao contrário.
E, afinal, quem escolhe os técnicos? O departamento de futebol. O mesmo setor que não tem critério quando demite Dorival Junior após as conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil, e contrata Vitor Pereira (que tinha sido eliminado pelo próprio Rubro-Negro na Copa do Brasil) que também não dura no cargo. Na sequência, outro erro gritante: a vinda de Jorge Sampaoli para realizar 'o sonho' do presidente Rodolfo Landim.
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Falta profissionalismo para estudar o mercado e ir em busca de um técnico que entenda os jogadores que têm à disposição e seja capaz de extrair o melhor deles. E falta também uma postura mais incisiva do departamento de futebol na cobrança diária à comissão e jogadores por resultados, além da transparência de decisões junto ao maior patrimônio do Flamengo: a torcida.
Sem comando, o Flamengo se vê exposto e frágil. O discurso se repete a cada vexame e deixa o rubro-negro saturado de cobrar melhorias. Entre as já conhecidas declarações, estão: 'são três competições, não dá para ganhar todas', 'nas últimas quatro finais de Libertadores, chegamos a três', 'não é como começa, é como termina'.
De Landim a Sampaoli, todas as lideranças têm sua parcela de culpa nas recorrentes crises que assolam o Flamengo. O presidente, que é criticado pela torcida por ser omisso, o vice-presidente de futebol, que é o responsável pela montagem e oxigenação do elenco, além do acompanhamento do dia a dia no Ninho do Urubu, e o técnico, que não consegue administrar o vestiário, se fecha em seu próprio mundo e dificulta ainda mais a convivência no caminho para superar mais uma crise interna.
O faturamento anual de R$ 1 bilhão não esconde os problemas estruturais do Rubro-Negro, que precisa acordar e, verdadeiramente, iniciar uma reestruturação. Completa, não apenas da boca para fora. Tem que mudar a postura, a mentalidade, as lideranças... Intensificar as cobranças e, consequentemente, começar a planejar um futuro menos amargo e instável, com crises que se tornaram ciclos viciosos.