Em janeiro do ano passado, antes da pandemia começar, portanto, um amigo meu, rubro-negro doente, esteve passeando pela Espanha. A camisa vermelha e preta - modelo da conquista da Libertadores de 2019, é claro - foi o uniforme oficial da viagem. E o cara se surpreendeu: por várias vezes foi saudado, não por turistas como ele ou brasileiros exilados por lá, mas por legítimos espanhóis, em Madrid ou Barcelona, que identificaram a roupa que ele usava.
Mas por que falar disso agora? Esta historinha, rasteira, tem muito a ver com o projeto do Flamengo de internacionalizar sua marca. Talvez o clube da Gávea até não seja o único por aqui a ter realmente condições de dar um salto para o lado de lá do Oceano Atlântico. Mas, com toda certeza, nenhum outro tem o poder de fazê-lo melhor.
+ Projeto de internacionalização da marca do Flamengo é bem avaliado no Conselho de Administração
Conquistar espaços, além de nossas fronteiras, sempre foi um desafio para o futebol tupiniquim. O Santos de Pelé - ou o Santos por causa de Pelé - foi ao longo da história a única e honrosa exceção. O alvinegro praiano ganhou o mundo, atraiu multidões, parou até uma guerra como se sabe.
+ Confira a tabela e os próximos jogos do Brasileirão
Houve um tempo, nas últimas décadas do século passado, que torneios de pré-temporada europeia como o Ramón de Carranza, em Cádiz, ou o Teresa Herrera, em La Coruña, ambos na Espanha, ainda serviam de palco e vitrine para os clubes de cá. Times como Botafogo, Vasco, Fluminense, São Paulo, Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG e Corinthians chegaram a vencer, um ou outro, enfrentando inclusive gigantes do futebol europeu.
Mas o mundo mudou, o jogo mudou de patamar, os grandes da Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália e França foram, eles mesmos, fazer a pré-temporada na Ásia e nos EUA, conquistar novos fãs e dominar promissores e rentáveis mercados. E nós, ficamos parados por aqui. Amarrados entre outros fatores por um calendário jabuticaba, diferente do que se pratica em todo o mundo civilizado da bola que dificulta a realização de excursões ou a disputa de torneios lá fora. E quem não é visto – só mais recentemente, inclusive, a transmissão do Brasileirão ganhou mais peso no exterior - não vai conseguir jamais internacionalizar sua marca.
Ninguém é ingênuo de acreditar que, pela enorme diferença econômica que existe entre o futebol brasileiro e europeu - entre as economias do Brasil e da Europa - nossos clubes tenham condições de competir em igualdade de condições com os de lá num mundo cada vez mais globalizado. Isso é um fato. Mas iniciativas como a do Flamengo precisam ser saudadas. E tem tudo para dar certo, se o projeto realmente for sólido e responsável como parece, gerando ótimo resultados, não só em termos de exposição, mas principalmente gerando negócios, funcionando como uma vitrine poderosa e contribuindo, através de intercâmbios, para formação de jovens talentos. Melhor ainda se, como promete a diretoria, o projeto se concretizar sem custos para o Rubro-Negro, com ao apoio de investidores privados.
O Flamengo português - ou o Tondela-Flamengo pode já nascer forte. Pelas estimativas oficiais, vivem hoje em Portugal cerca de 190 mil brasileiros. Mantida além mar a proporção da torcida rubro-negra no Brasil - 40 milhões de pessoas segundo as últimas pesquisas, ou quase 20% da população nacional - o clube português surge com um potencial em torno de 38 mil fãs. Ou seja, quase oito vezes mais a capacidade do estádio João Cardoso onde manda seus jogos.
Se nunca voltou para a segunda divisão, desde que chegou à elite do futebol lusitano, em 2015, o Clube Desportivo Tondela, uma sociedade empresarial, também nunca chegou a disputar posições no topo da tabela da Primeira Liga. A parceria e o investimento do Flamengo podem ser o impulso que faltava. O melhor que pode acontecer é este negócio tornar-se um ganha-ganha que pode, quem sabe, estimular outros de nossos grandes a seguirem a mesma trilha.