Mediação entre Flamengo e famílias das vítimas pode ‘ser encerrada rapidamente’, afirma desembargador

César Cury, do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, falou sobre o caso após a audiência do processo de mediação e vê possível acordo em breve

imagem cameraIncêndio atingiu o alojamento das divisões de base do CT e vitimou 10 jovens atletas (Foto: Adriano Fontes/ AMPress)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 21/02/2019
16:29
Atualizado em 21/02/2019
16:49
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Junto aos representantes das famílias das vítimas do incêndio que atingiu o Ninho do Urubu, o Flamengo deu início ao processo de mediação com os familiares das vítimas do incêndio do CT George Helal, que atingiu o alojamento das divisões de base, vitimando 10 jovens e ferindo três. A mediação ficou a cargo do desembargador Cesar Cury, presidente do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Numepec), que adotou um discurso de confiança após a reunião no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

- Até agora, a adesão foi unânime, todas as colocações foram pertinentes e há grandes chances desse processo se encerrar rapidamente e com muito êxito - resumiu o desembargador Cesar Cury.

A mediação tem caráter confidencial e nela todas partes envolvidas expuseram suas dúvidas e posições contando com profissionais especializados que ajudam a identificar as questões mais importantes para atender às necessidades e ajudar a encontrar alternativas para um acordo. Psicólogos e assistentes sociais também estavam presentes e Cesar Cury atendeu a imprensa após cerca de três horas de reunião.

O Flamengo foi representado por Rodrigo Dunshee, vice-presidente jurídico e geral. O clube da Gávea deseja evitar a necessidade de uma longa disputa judicial e ouviu as exigências e os interesses de cada família. Existe a possibilidade de um acordo coletivo, mas, neste momento, a tendência é negociar individualmente, respeitando as respectivas necessidades.

Uma solução "justa e no menor tempo possível" é o desejo do clube, que se mostra preocupado em minimizar "a dor e o sofrimento das famílias", como publicado em nota, e em minimizar os danos à imagem da instituição.

O processo foi instaurado a pedido do Flamengo, após a discordância quanto aos valores das indenizações com o Ministério Público do Rio de Janeiro, a Defensoria Pública e o Ministério Público do Trabalho.

Pai de Francisco Dyogo diz não ter sido comunicado; Demais famílias presentes

Estiveram presentes no encontro representantes das famílias das 10 vítimas fatais (Arthur Vinícius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo Viana, Samuel Thomas e Victor Isaías) no Ninho do Urubu, no dia de 8 de fevereiro. Por ora, o Flamengo dá prioridade às negociações com essas famílias e as de Cauan Emanuel e Jhonata Ventura, atletas que ficaram feridos e precisaram ser hospitalizados. O segundo segue internado e sob os cuidados do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Pedro II.

A família de Francisco Dyogo não esteve presente. Ao jornal "Extra", Francisco Pereira, pai do atleta, disse não ter sido procurado pelo clube sobre a audiência. Tanto o pai quanto o filho estão em Fortaleza. O Flamengo, por sua vez, alega que fez contato com todas famílias das vítimas e feridos, mas não entende que esse capitulo prejudique as tratativas com os familiares de Francisco Dyogo, uma vez que outras reuniões estão agendadas.

Além destes, 13 jovens das divisões de base e funcionários estavam no CT e escaparam sem lesões ou ferimentos. A estes, o clube está oferecendo apoio psicológico e emocional e, no futuro, pode oferecer compensação financeira.

Relembre o caso:
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O incêndio no alojamento nas divisões de base aconteceu no dia 8 de fevereiro e vitimou 10 atletas do Flamengo, de 14 a 16 anos. Três jogadores precisaram ser internados - Cauan Emanuel e Francisco Dyogo já receberam alta médica -, sendo que Jhonata Ventura segue aos cuidados do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Pedro II. O quadro do jovem é estável. Além deles, treze jovens escaparam do incêndio sem qualquer tipo de ferimento.

No dia 13, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro determinou a suspensão de todas as atividades das categorias de base no CT George Helal, o Ninho do Urubu, proibindo a entrada, permanência ou participação de qualquer criança ou adolescente no local até julgamento do mérito. A decisão é do juiz Pedro Henrique Alves, da 1ª Vara da Infância da Juventude e do Idoso.

Em caso de descumprimento, está prevista multa única no valor de R$ 10 milhões em relação ao Clube de Regatas do Flamengo e multa única e concomitante no valor de R$ 1 milhão ao presidente Rodolfo Landim. A decisão do TJ-RJ foi liminar parcial em ação civil publica do MPRJ que corre desde 1 de abril de 2015. Cabe recurso ao Flamengo em segunda instância.

A decisão está sendo respeitada. Após o incêndio, as atividades da base foram e a expectativa para que os jogadores se reapresentem na quinta-feira, dia 21. Contudo, sem a estrutura do Ninho do Urubu, a operação com atletas de fora do Rio de Janeiro deve permanecer suspensa. O clube entende que não há condições de receber centenas de atletas da base em outro local que não o CT.

O Flamengo se pronunciou em três momentos desde o trágico episódio. No dia do incêndio, o presidente Rodolfo Landim fez um emocionado - e curto - pronunciamento à imprensa na entrada do CT. O mandatário classificou o caso como "a maior tragédia nos 123 anos do Clube de Regatas do Flamengo".

No dia seguinte, na Sede da Gávea, quem falou foi o CEO Reinaldo Belotti, que coordenou o comitê de gestão de crise desde o início. O executivo reforçou a prioridade do clube no suporte amplo e irrestrito às vítimas e familiares e, com base em documentos, garantiu que o incêndio nada teve a ver com as condições da estrutura do alojamento das divisões da base no CT George Helal.

Nestes dois primeiros momentos, o clube não abriu espaço para perguntas. No dia 15, Rodrigo Dunshee, vice-presidente e vice-jurídico do Rubro-Negro, falou rapidamente após a reunião com os órgãos públicos e ressaltou que a atual gestão assumiu o poder apenas no começo de 2019. Após o pronunciamento, porém, Dunshee se irritou com as perguntas e retirou-se, dando fim à coletiva.

No dia 21, Flamengo e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Defensória Pública e Ministério Público do Trabalho não entraram em acordo quanto ao valor das indenizações a serem pagas às famílias das vítimas fatais. Segundo o MP, a oferta do clube ficou de R$ 300 mil a R$ 400 mil mais um salário mínimo por 10 anos à cada família, enquanto os órgãos públicos desejam o pagamento de R$ 2 milhões para um salário de R$ 10 mil até a data em que os atletas mortos completariam 45 anos.

Neste mesmo dia, o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Defensoria protocolaram o pedido de urgência para que o Juizado Adjunto do Torcedor e dos Grandes Eventos determine o bloqueio de R$ 57,5 milhões das contas do clube da Gávea e a imediata interdição do Centro de Treinamento George Helal. Ainda não houve decisão judicial quanto o caso, e os atletas profissionais do Flamengo continuam treinando no Ninho. A direção entende que não há risco em realizar atividades diurnas nos campos e reforça que não está havendo utilização noturna de nenhuma estrutura do local.

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