Um ano após um incêndio atingir o alojamento das divisões de base do CT do Ninho do Urubu e vitimar 10 atletas do Flamengo, os responsáveis pela ocorrido ainda não foram conhecidos, tampouco o inquérito policial foi finalizado, com o Ministério Público aguardando o mesmo para apresentar as denúncias. Para o perito ambiental Ricardo Rio, essa demora em uma caso como este, de grande repercussão, expõe as deficiências do Estado brasileiro.
- Essa demora em apontar culpados é muito comum na esfera civil. A explicação é relativamente simples, o governo não dispõe de profissionais suficientes para cuidar de uma infinidade de processos. Além disso, esbarra na capacidade técnica, que alguns de seus profissionais não possuem - afirmou o perito ambiental, com mais de 15 anos de experiência, antes de complementar:
- Esse caso do Centro de Treinamento do Flamengo nos revela essa deficiência com muita nitidez, vimos que o ocorrido foi muito grave e na ocasião ceifou a vida de dez jovens, além disso, chocou a opinião de uma sociedade inteira, mesmo assim, diante de tudo isso, o caso ainda se arrasta, sem uma previsão exata para conclusão. Então podemos imaginar o prazo que levam para apurar os casos em que não há repercussão pública e nem mortes? A resposta à essa pergunta nos dá uma exata dimensão do tamanho do problema no Brasil.
Desejamos que os culpados sejam identificados e paguem pelo que proporcionaram, além disso, uma punição exemplar certamente inibiria outros casos decorrentes de inconsequência, imprudência ou mesmo de imperícias.
O incêndio atingiu um alojamento do CT do Flamengo no dia 8 de fevereiro de 2019. 26 atletas estavam dormindo e 10 acabaram sendo vítimas fatais do fogo, que ainda deixou outros três jovens feridos. 13 sobreviveram sem ferimentos.
Ricardo Rio é Perito Ambiental. Formado em engenharia ambiental, possui MBA em QSMS, e também exerce a atividade de Consultor e Auditor ambiental, segundo a NBR ISO 14001 e a DZ-56 (INEA). É analista ambiental com ênfase em Sistema e Gerenciamento de Resíduos Industriais, entre outras atribuições.
O profissional ainda respondeu outra questão da reportagem do LANCE!. Veja:
Após o incêndio, foram apontadas uma série de irregularidades, no alojamento e CT como um todo. Há mecanismos e processos de segurança que poderiam ter evitado a tragédia? Quais seriam os órgãos responsáveis por tal fiscalização?
Infelizmente, as irregularidades identificadas no alojamento são falhas bem comuns. Todos os dias milhares de pessoas põem suas vidas sob acentuados riscos sem se darem conta. Mas, no meio desse volume de adversidades, ainda encontramos algo de positivo para falar. A verdade é que existe uma (ou mais) solução técnica para cada caso de insegurança. Essas barreiras contra acidentes, também conhecidas como medidas de controle são “Prevenção”; “Controles de engenharia”; “Controles por meio de procedimentos organizacionais”; “Equipamentos de Proteção Individual”, as quais podem atuar na fonte, na pessoa ou no ambiente.
Obviamente, não basta saber que esses mecanismos e ferramentas existem - saber aplicar é fundamental. Para tanto, os profissionais envolvidos precisam se atualizar e trocar informações (fazer networking). Por coincidência acontecerá no mês de Março, aqui no Rio de Janeiro, uma feira de QSMS (entrada gratuita) justamente com a finalidade de promover o conhecimento prevencionista. É preciso que os profissionais do segmento desenvolvam essa visão.
No caso do alojamento algumas falhas foram gritantes e contribuíram para as fatalidades ocorridas. Por exemplo, a falta de uma opção alternativa para fuga, a falta de treinamento para o uso do extintor de incêndio e o tipo de material utilizado para a construção do alojamento (fácil combustão e tóxica).
É de conhecimento que os órgãos governamentais são responsáveis pela fiscalização, mas às vezes falta conhecimento pratico sobre como exigir algo mais seguro e não raro falta tempo para visitar todas as instalações existentes no estado. Já o caso da vistoria do Corpo de bombeiros, é diferente, por que eles concedem uma licença para uma determinada estrutura vistoriada, que acabam sendo alteradas depois que a licença e liberada. De uma forma ou de outra, o fato é que precisamos de investimentos na área de segurança prevencionista, seja em estrutura ou em cultura. Não cabe mais esse jogo de empurra das autoridades e dos empresários, afinal no próximo dia 08 de fevereiro a tragédia completará um ano, sem solução.