O trabalho de Jorge Jesus no Flamengo é relativamente curto, mas já tem muitos momentos marcantes. Seja pelas carismáticas atitudes na área técnica, pelas soluções táticas que impulsionaram o time rumo às taças nas principais competições ou por frases ditas em coletivas, a primeira atitude do português que caiu nas graças da torcida veio no jogo-treino contra o Madureira, na oportunidade inicial de conhecer efetivamente o elenco. Lá, depois de um erro de posicionamento de William Arão, Jesus não hesitou e gritou: "tá mal, Arão!". Pronto. Logo a expressão caiu na boca dos torcedores.
Cinco meses depois, a frase continua sendo lembrada, mas ganhou uma nova conotação. "Tá bem, Arão!", gritam os rubro-negros hoje em dia no Maracanã. No estádio, quando o locutor anuncia "cinco: William Arão!" na hora da escalação, a felicidade toma conta das arquibancadas. Ela evidencia a mudança de patamar que o volante passou desde a chegada do comandante ao Ninho do Urubu em junho.
Anteriormente relegado ao banco, quase deu adeus ao elenco em 2018. Sem espaço com Maurício Barbieri, Arão foi negociado com o Olympiacos-GRE, numa novela que parecia concluída, não fosse por uma divergência na forma de pagamento pelos gregos que melou o negócio. Já com Abel Braga, em parte do primeiro semestre de 2019, o paulista dava indícios de que ao menos jogaria com frequência. Mas foi com Jesus que ele recuperou definitivamente o bom futebol.
São 57 jogos no ano, totalizando 4918 minutos. Uma média que se assemelha a dos períodos onde era incontestável entre os titulares. Em 2016, foram 62 jogos; em 2017, 67. No ano passado, os 1832 minutos em 32 jogos ratificaram a fase de maior instabilidade. Defensivamente, de acordo com dados da plataforma "Footstats", é onde vem a maior evolução de Arão: ele é o sexto jogador que mais rouba bolas no Brasileirão, com uma média de 80% de acerto.
A mudança de posicionamento é a grande novidade da parceria luso-brasileira. Acostumado a atuar como segundo homem de meio-campo, agora ele é o típico "camisa 5", o primeiro volante à frente da defesa. Quando o Flamengo sai jogando, ele se enfia entre Rodrigo Caio e Pablo Marí para ajudar a levar a bola até os meias. Quando o Rubro-Negro se depara com um adversário retrancado, o esquema de Jesus dá liberdade para Arão se infiltrar às costas da marcação, um de seus principais atributos.
– Ele (Jesus) tem um impacto muito grande. Eu já tinha atuado como primeiro volante na minha carreira. Quando ele chegou aqui e definiu que eu jogaria nesta posição, começou a me pedir uns movimentos específicos. Foi uma mudança muito grande para mim, porque eu já tinha jogado, mas não entendia o jogo daquela forma, eu não entendia as movimentações daquela forma. Você começa a perceber que ele tem razão, então é uma mudança muito positiva para mim e para o time todo – disse William Arão, em entrevista ao canal "Sportv".
Apesar de ter virado um dos símbolos de um Flamengo marcado por consecutivos fracassos, sob a batuta da gestão anterior à de Rodolfo Landim, William Arão é, ao lado de Orlando Berrio, o único atleta do elenco a ter vencido a Libertadores da América. Foi em 2012, pelo Corinthians, quando tinha 20 anos e era reserva. O próprio admitiu que a decisão de sábado será diferente pelo fato dele ser parte da espinha-dorsal.
A delegação do Flamengo, que chegou em Lima na noite dessa quarta, treina nesta quinta às 10h no La Videna, CT da Federação Peruana. Uma nova atividade no campo está marcada para sexta-feira no mesmo horário. Depois, o técnico Jorge Jesus e o capitão Everton Ribeiro falarão com a imprensa. Às 17h30, os jogadores farão o reconhecimento do estádio Monumental de Lima, onde entram em campo no sábado para a final contra o River Plate.