Ex-preparador físico do Fla comenta estratégia: ‘Sempre prefiro ir antes’
Antonio Carlos Mello fez parte da comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo, entre 2011 e 2012. O Rubro-Negro, na época, visitou o Real Potosí a mais de 4 mil metros de altitude
No início da tarde desta terça-feira, por volta de 12h30 (de Brasília), a delegação do Flamengo deixará a cidade de Santa Cruz de la Sierra, a nível do mar, rumo a Oruro, onde fará sua estreia na Libertadores, diante do San José, da Bolívia, a 3.750 metros de altitude. A bola rola no Estádio Jesús Bermúdez às 19h15 e a altitude será um dos desafios para o time de Abel Braga. A partida, válida pela primeira rodada do Grupo D, tem transmissão em tempo real do site do LANCE!
A chegada no local horas antes do apito inicial é uma das medidas adotadas pelo departamento médico visando minimizar os efeitos da altitude, mas não garante que os atletas não serão "prejudicados pelas condições extremas".
Preparador físico com passagens por grandes clubes do Brasil, inclusive pelo Flamengo na comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo entre 2011 e 2012, Antônio Carlos Mello reconhece que a chegada horas antes da bola rolar tem embasamento científico, mas, por conta de sua experiência, discorda da estratégia. Na sua visão, o ideal é chegar antes para que a comissão técnica e o próprio elenco possam identificar os problemas e a reação de cada atleta.
- Sempre procurei ir antes para identificar os problemas, para os atletas reconhecessem as interferência e convivam com elas para responderem satisfatoriamente na partida. Ir quatro, cinco dias antes é um atalho. Você tem um benefício maior para o atleta. É de cada clube, mas, com a minha experiência de mais de 30 anos, sempre vou antes - avaliou o profissional.
No Flamengo, Antonio Carlos Mello participou da preparação para o duelo contra o Real Potosí, da Bolívia, que joga a mais de 4 mil metros acima do nível do mar. O Rubro-Negro perdeu por 2 a 1 na ida, mas se recuperou no Rio de Janeiro e avançou ao vencer por 2 a 0, gols de Ronaldinho Gaúcho e Léo Moura.
Desde a apresentação do elenco, em 3 de janeiro, a comissão técnica trabalha em conjunto com o departamento médico visando as partidas pela Libertadores. No Grupo D, além de San José, está também a LDU, que manda seus jogos em Quito a 2.850 metros acima do nível do mar. Peñarol, do Uruguai, completa a chave do Rubro-Negro.
Os jogadores tomaram medicamentos específicos que aumentam a captação de oxigênio e realizaram exercícios respiratórios, com auxílio de um aparelho, que estimulam os músculos responsáveis pela inspiração. Para o jogo, o clube também levará 10 tubos de oxigênio. Para Antônio Carlos Mello, isso só deve ser usado em casos extremos.
- Já trabalhei mais de 30 vezes na altitude e nunca fizemos uso de balão de oxigênio. Por dois motivos: nunca precisamos e não acho conveniente. O oxigênio quando você está hiperventilando é super agradável, mas, em compensação, você voltará para o campo de jogo e o feito rebote é muito complicado. Não aconselho ninguém a fazer, só em casos fora da normalidade. No caso de atletas de futebol, deve se evitar para que o atleta possa conviver com as condições. Por isso ir antes é importante, para você ter essas referências.
Os efeitos de jogar na altitude
Antônio Carlos Mello, preparador físico
"Primeiro, jogar na altitude é uma dificuldade que todos os clubes que jogam a nível do mar vão sentir, pela baixa pressão barométrica, a pressão do ar é menor, e a dificuldade de você absorver o oxigênio e respirar é muito grande.
Além de causar um desconforto respiratório, ainda traz um desconforto na parte externa, no domínio, no passe, no chute. Esses fatores impactam diretamente no rendimento físico do atleta, que vai ficar ofegante e, consequentemente, vai encontrar muita dificuldade em repetir os movimentos que faz com naturalidade a nível do mar.
Com isso, vai ter uma queda acentuada de rendimento, principalmente em altitudes acima de 3 mil metros. São lugares difíceis de se jogar. A equipe local tem um doping natural a seu favor."