Do primeiro ao último passo: a despedida do goleiro Julio Cesar
Considerado um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro, o veterano encerra sua passagem neste sábado, diante do América-MG, com a camisa do clube do coração
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Com apenas 17 para 18 anos, um jovem goleiro aparecia para marcar história com a camisa do Flamengo. Em 1997, o então cria da base Julio Cesar seria titular logo em clássico contra o Fluminense e já começa a ter seu nome na boca da torcida rubro-negra. Em seu segundo jogo profissional, e logo em uma partida dessa magnitude, o garoto defendeu uma penalidade e ali começava uma história de um dos maiores goleiros de todos os tempos do futebol brasileiro. E neste sábado, diante do América-MG, em um Maracanã lotado, ele vai se despedir do gramados. Do clube do seu coração. Julio escolheu o Fla e o Fla escolheu Julio.
A história de amor do garoto com o Flamengo começou quando ele tinha apenas 12 anos. E quem o levou para os treinos na Gávea foi nada mais nada menos do que um outro ídolo dessa Nação e que atualmente defende as cores do clube do coração também: o zagueiro Juan. A dupla se conheceu ainda no Grajaú Country Club, um tradicional time de futsal da Zona Norte do Rio de Janeiro. Juan, que já defendia a base do Fla viu as brilhantes atuações do promissor arqueiro e o indicou aos olheiros da Gávea. Ali começou a história de Julio com o time do coração, agora como jogador.
Afinal, o veterano não esconde de ninguém que era torcedor de arquibancada do Rubro-Negro, assim como o amigo Juan. Estar no Flamengo era um sonho que começava a realizar para Julio em seus primeiros passos. E ele soube que sua chance chegaria. Que se tornaria ídolo no clube do coração e que voltaria para encerrar esta história.
Por isso, o Lance! traz um resumo da carreira do goleiro que foi eleito neste ano o nono melhor goleiro do século XXI pela revista FourFourTwo.
- Tudo tem sido tão bonito como foi nesses 20 anos de carreira: é mais do que um sonho. Nunca, nem mesmo quando criança, imaginava uma carreira como essa que tive - celebrou o goleiro nesta reta final de preparação.
OS PRIMEIROS PASSOS
Quando chegou para jogar no infantil do Flamengo, Julio Cesar já se destacava entre os demais. Titular e convocado para diversas seleções de base, o garoto sabia que teria logo sua chance nos profissionais. Conseguiu em 1997 e teve duas chances, em jogos oficiais, além de outras atuações em torneios amistosos. Em uma partida da Copa do Brasil, diante do Palmeiras, e em um no Campeonato Carioca. Naquele período, Julio era reserva de Clemer. A condição permaneceu até os anos 2000, quando o atual treinador do Brasil de Pelotas, mudou de ares.
No ano seguinte, em 1998, participou de algumas partidas amistosas e um jogo contra o Cruzeiro pelo Campeonato Brasileiro. Nestes poucos jogos, o potencial do garoto já era visto como quem daria frutos para o clube carioca. Em 1999, participou da campanha do título da Copa Mercosul, além do título Carioca daquela temporada. Porém, não entrou em campo em nenhuma oportunidades. Mas sabia-se ali, que ele seria o dono da camisa titular do gol rubro-negro no ano em que viria.
O COMEÇO DE UMA NOVA ERA
No ano de 2000, o goleiro iniciou sua trajetória de titular em maio. Em uma partida contra o Bahia pelo Campeonato Brasileiro foi titular pela primeira vez e nunca mais saiu. Naquela altura, já era bicampeão carioca pelo clube, e assumiria o posto. No Brasileiro começou a ganhar destaque e se tornar uma das principais revelações do gol do futebol brasileiro.
Iniciou a temporada 2001 como intocável. Foi peça-chave an conquista do tricampeonato carioca sobre o arquirrival Vasco em uma partida inquestionável, além de boas atuações no título da Copa dos Campeões, que renderam ao Flamengo uma vaga na Copa Libertadores do ano seguinte, depois de nove anos longe da competição continental. Ainda naquela temporada, foi decisivo para ajudar o Fla a se manter na elite do futebol brasileiro, quando o clube passou muito perto da zona de rebaixamento.
CHEGADA NA SELEÇÃO BRASILEIRA
Julio Cesar precisou de apenas uma temporada inteira como titular para chamar atenção do técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari. Em 2002, mesmo com o Flamengo não vivendo um grande momento, o goleiro foi lembrado e chegou pela primeira vez no maior patamar que um jogador pode alcançar.
Com a camisa Canarinho, Julio disputou 87 jogos até 2014. Participou da disputa da Copa do Mundo de 2006, 2010 e 2014, sendo titular nas duas últimas. Na edição na África do Sul, foi considerado um dos culpados pela eliminação do Brasil diante da Holanda, após se atrapalhar com Felipe Melo em um dos gols do rival nas quartas de final. Mesmo assim, o goleiro manteve o alto nível por alguns anos.
Em 2014, por exemplo, foi titular na campanha da Copa no Brasil, que culminou com o fatídico 7 a 1 aplicado pela Alemanha nas semifinais. Mesmo assim, Julio foi um dos poucos que salvaram naquele péssimo resultado. Nas oitavas de final foi decisivo na disputa de pênaltis diante do Chile que classificou o Brasil para a fase final.
Pelo Brasil, Julio Cesar conquistou a Copa América de 2004, quando ainda defendia o Flamengo e a Copa das Confederações em 2009 e 2013.
SAÍDA DO FLAMENGO E VOOS MAIS ALTOS NA EUROPA
Julio Cesar trocou o Flamengo pela Internazionale de Milão, da Itália, ao final da temporada 2004. Chegou na Inter como uma grande promessa do futebol brasileiro, mas primeiro precisou ganhar experiência. E foi na Itália mesmo que se destacou. Apesar da passagem curta pelo Chievo Verona, Julio retornou para o clube de Milão e já assumiu o posto de titular, se tornando ídolo da torcida e parte principal em grandes conquistas.
O auge do goleiro foi a temporada 2010 pela clube italiano, quando foi parte fundamental da conquista da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes com a equipe de Milão. Além disso, no mesmo ano foi eleito pela Fifa como o segundo melhor goleiro do mundo, atrás apenas de Buffon, da Juventus (ITA).\\
Pelo clube italiano, Julio Cesar conquistou, além da Liga e do Mundial de Clubes, três Copas da Itália, cinco títulos italianos e uma Copa da Uefa. Se no Flamengo foram 286 jogos, na Inter o arqueiro participou de 300 partidas, o clube em que mais jogou na carreira.
EXPERIÊNCIA NA INGLATERRA E NO CANADÁ
Na Inglaterra, Julio jogou apenas 27 jogos e foi rebaixado com o Q.P.R. Dali, foi para o Toronto FC, do Canadá
Perto do fim do contrato com a Inter e já perdendo espaço, Julio Cesar seguiu um novo rumo e um novo desafio. Ele se aventurou no modesto Queens Park Rangers, da Inglaterra, um clube recém-comprado por milionários, mas que não vivia grande momento na Premier League. Por lá o arqueiro viveu em bom momento no início, mas não impediu o rebaixamento da equipe ao fim da temporada 2012/2013.
Na segunda divisão inglesa, acabou perdendo a posição e atuou em poucas partidas. Pelo clube londrino, foram apenas 27 jogos em duas temporada. Para disputar a Copa do Mundo de 2014 resolveu trocar de clube e escolha foi pelo Toronto FC, do Canadá. Julio já havia sido titular da Seleção na Copa das Confederações em 2013.
No Canadá atuou o necessário. Apenas sete jogos e o fim do empréstimo. Porém estar em atividade já serviu para o veterano estar na lista dos convocados de Felipão para o Mundial daquele ano no Brasil.
A ÚLTIMA CAMINHADA EM PORTUGAL
O bom desempenho na Copa do Mundo como titular da Seleção levaram o goleiro de volta ao Velho Continente e em um grande clube de lá: o Benfica, de Portugal. No clube português chegou e virou titular, ganhando destaque novamente.
Por lá, Julio Cesar se tornou um dos ídolos da torcida e foi titular em 83 partidas entre 2014 e 2016, perdendo a vaga para outro brasileiro, Ederson, hoje reserva da Seleção Brasileira e titular do Manchester City (ING).
Mesmo assim, no período em que jogou pelo clube português, Julio Cesar foi campeão três vezes da primeira divisão, duas vezes da Taça da Liga e uma vez da Taça de Portugal. Sua despedida do clube foi em janeiro deste ano, mesmo com contrato em vigor até o meio da temporada, com muita emoção.
O clube em seus canais oficiais enviou mensagens de apoio para o arqueiro, assim como algum de seus companheiros.
O FIM DA TRAJETÓRIA
Na Copa de 2014, Julio Cesar foi decisivo nas oitavas de final. Na Copa de 2010, foi crucificado por falha, ao lado de Felipe Melo, em gol da Holanda
Neste sábado, dia 21 de abril, diante do América-MG, com o Maracanã cheio, Julio Cesar terá sua sonhada despedida no clube do coração. Será titular em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. O arqueiro assinou com o Flamengo um contrato simbólico, apenas para a disputa do Campeonato Carioca.
Contudo, o Rubro-Negro não conquistou a taça e a despedida ficou para o Brasileiro. Depois disso, o arqueiro deve retornar para Portugal, onde sua família se estabeleceu. Porém, ele terá a oportunidade que sempre sonhou.
Treze anos depois, Julio volta ao Flamengo. E vai encerrar sua vitoriosa carreira no clube do coração. Uma coisa é certa, festa da torcida não faltará. E Julio Cesar, por tudo que representou no futebol brasileiro, merece isso e mais um pouco.
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