Com déficit de R$ 2,9 milhões em 2020, Fluminense reduz prejuízo em 68,8% em relação à 2019

Pelo quinto ano seguido fechando o balanço financeiro em vermelho, clube conseguiu diminuir prejuízo de R$ 9,3 milhões para R$ 2,9 milhões. Dívida total, porém, subiu 6%

imagem cameraAno marcado pela pandemia prejudicou o balanço financeiro de todos os clubes LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 01/05/2021
11:22
Atualizado em 01/05/2021
13:35
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Em um ano marcado pela pandemia e a ausência da torcida nos estádios, o Fluminense registrou um déficit de R$ 2,9 milhões, como mostra o balanço financeiro publicado nesta sexta-feira. Com o resultado, embora tenha fechado em vermelho pelo quinto ano consecutivo, o Tricolor conseguiu reduzir o prejuízo em 68,8% em relação à 2019 - quando fechou o balanço com déficit de R$ 9,3 milhões. O passivo que envolve a dívida total, no entanto, subiu de R$ 718,866 milhões para R$ 768,835 milhões. Além disso, o clube viu sua receita operacional líquida cair em 27% - de R$ 250,018 milhões em 2019 para R$ 183,416 milhões em 2020 -, por conta da dificuldade de atrair patrocinadores e a perda de receitas de bilheterias. 

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Sobre a evidente redução na receita líquida do clube, outro fator que influenciou tal queda foi a postergação do Campeonato Brasileiro de 2020 (uma grande parte da verba da TV Globo foi reconhecida apenas em 2021). 

Além da receita líquida, o agravamento da pandemia da Covid-19 fez com que o Fluminense tivesse reduções consideráveis em: rendas de operações de jogos (80%), direitos de transmissões (19%) e na venda dos direitos econômico de atletas (52%).

Mesmo longe dos estádios, entretanto, a torcida tricolor ajudou o balanço financeiro do Fluminense. Isso porque, o clube teve um aumento de 97% da receita com sócio torcedor e redução de 44% dos gastos com jogos. 

A renegociação com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) foi outro motivo de geração de ganho, por meio do perdão de parte dos juros e multa dos impostos incluídos no parcelamento, com uma redução de 48% nas despesas financeiras. O acordo com PGFN, feito em dezembro de 2019 - com pagamento de 33 milhões de reais em impostos - garantiu juros inferiores. 

Além disso, o Flu teve um aumento do passivo em 6% - de R$ 718,866 milhões para R$ 768,835. Isso ocorreu por conta da postergação do pagamento de parte dos salários, férias e 13º dos jogadores/funcionários para março de 2021, por meio de acordos com os sindicatos dos atletas e servidores. A premiação do Campeonato Brasileiro, prevista em orçamento para ocorrer em dezembro de 2020, só aconteceu este ano. O clube também pagou os parcelamentos no início de 2021, já que não havia a decisão da presidência (assinada hoje) para anistiar os clubes para os pagamentos de impostos no período de pandemia (2020).

Antes da apresentação dos números, o presidente Mário Bittencourt apresenta uma carta direcionada aos torcedores. Nela, reforça que o clube está passando por uma reconstrução financeira que 'consumirá ainda alguns anos'. Ainda na declaração, Mário afirma não ser 'mero acaso' o Fluminense estar conseguindo bons resultados esportivamente, uma vez que o clube vem 'investindo no futuro com responsabilidade'. Sobre Xerém, o presidente fala que a prioridade passa pela atenção ao processo de renovação de contratos, para evitar a saída dos jovens sem que o Flu tenha o devido retorno. Leia a carta na íntegra ao fim da matéria. 

Ganhos com transferências de atletas, investimentos em jogadores e direitos econômicos

Afetado pelo ano atípico, o Fluminense apresentou uma queda de 52% nas vendas de atletas, seja nacionalmente ou para o exterior. Assim, neste quesito o valor relacionado representa um montante de R$ 50, 333 milhões, que em 2019 chegou a ser de R$ 105, 415 milhões. Portanto, a quantia de 2020 se deve a vendas de atletas como Gilberto, para o Benfica (POR) e Evanílson, para o Porto (POR). Vale ressaltar que a receita bruta do futebol masculino foi de R$ 182,008 milhões em 2020. 

Em relação a concretizada negociação de Kayky com o Manchester City (ING), por R$ 66,5 milhões e possivelmente um bônus de até R$ 73,2 milhões, as quantias referentes só entraram no balanço de 2021. 

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Já no investimento feito em jogadores, o Fluminense também diminuiu seus alcances financeiros. Em 2019, a disponibilização para investir em atletas profissionais foi de R$ 10, 633 milhões. Em 2020, contudo, mesmo com as aquisições de Yago Felipe, Fernando Pacheco e Michel Araújo, o capital caiu para R$ 8,435 milhões. 

Em relação a formação de atletas nas categorias de base, por mais que Mário Bittencourt tenha afirmado na carta ser a prioridade do clube, igualmente aos profissionais a quantia foi reduzida: de R$ 15, 847 milhões para R$ 11, 433 milhões.

Sobre as contas a pagar nas transferências de jogadores, o Fluminense elevou seus gastos com direitos econômicos - se incluem comissões, luvas e intermediações. Assim, o clube saiu de um capital de R$46,059 milhões para R$ 56,058 milhões entre 2019 e 2020, ou seja, um aumento percentual de 21,7%. 

Bilheterias, sócio-torcedor e mais

Por conta da pandemia, em 2020 só foi possível lucrar com as bilheterias em janeiro, fevereiro e parte de março. Com isso, a queda nas receitas de tal item foi uma das maiores no balanço financeiro do Tricolor: aproximadamente 80,4% - de R$ 16,384 milhões em 2019 para R$ 3,205 milhões em 2020.  

Entretanto, a receita de sócios saiu de R$ 5,348 milhões no último balanço para R$ 10,554 milhões no atual. Já no âmbito dos patrocínios, pouca coisa mudou. Isso porque, a variação não passou de de 4,5% em relação à 2019: de R$ 9,352 para atualmente contar com R$ 9,769 milhões. 

A folha salarial geral do Fluminense aumentou de 2019 para 2020. Os valores antes eram de R$ 55,106 milhões e passaram para R$ 63, 760 milhões. Os valores do futebol tiveram uma redução sutil, saindo de R$ 5,6 milhões para R$ 5,193 milhões em remuneração. Direitos de imagem, no entanto, aumentaram: antes na casa dos R$ 6 milhões, em 2020,  o valor passou a ser de R$ 10, 344 milhões.

Sede do Fluminense nas Laranjeiras (Foto: Nelson Perez /Fluminense F. C.)

Veja na íntegra a carta de Mário Bittencourt:

- Meus caros Tricolores,

Se o ano de 2020 será lembrado pelas próximas décadas como o ano em que a civilização lutou para sobreviver, no Fluminense tudo foi ainda mais desafiador. A pandemia nos encontrou em um momento de delicada reconstrução. Um ambiente muito sensível, carente de estabilidade e de resgate de valores profundos da identidade tricolor, como honradez, credibilidade e empatia. Apresentar demonstrações financeiras de forma transparente e detalhada é parte desse esforço.

O que se verá nestas demonstrações publicadas agora são números, mas por trás deles há histórias de dedicação extrema. Cada detalhe, cada conquista, exigiu esforço numa luta diária de muita entrega pessoal de nossos colaboradores. É desta forma que estamos superando adversidades e corrigindo rumos, para recolocar o Fluminense na rota das grandes conquistas. Isso exige esforço e paciência. Não será fácil, tampouco breve. Nossa reconstrução será um trabalho que consumirá ainda alguns anos. Mas será verdadeira e consistente. E para alcançar nossos objetivos, não faremos concessões. Nosso Norte é e será sempre o que de melhor para o Fluminense pudermos conseguir.

Neste difícil ano de 2020 acumulamos dificuldades adicionais, é verdade. Com o se verá aqui, tivemos redução de 27% em nossa receita operacional líquida. Com o mercado publicitário deprimido, tivemos dificuldades para atrair patrocinadores, o que nos fez investir na reformulação do departamento comercial para dar maior vitalidade a essa área do clube. Perdemos receitas com ingressos e nosso programa de sócio futebol, embora tenha crescido por força da paixão e solidariedade de nossos torcedores, ficou aquém do que esperávamos, em razão do momento. Perdemos receitas de bilheteria, que são parte importante do financiamento do clube.

Procuramos compensar as perdas com a criatividade e uma gestão austera. Reduzimos despesas financeiras em 48%. Cortamos gastos e planejamos melhor nossos pagamentos. Honramos acordos e, graças ao conjunto de esforços, conseguimos reduzir o prejuízo de cerca de 9,3 milhões de reais registrado em 2019 para os 2,9 milhões de reais em 2020, como se verá nas páginas à frente. Estamos nos aproximando, aos poucos, de um resultado positivo graças aos esforços de nossas equipes.

Não é mero acaso o fato de estarmos conseguindo trazer resultados esportivos consistentes. Muito se tem falado da surpreendente campanha do time do Fluminense. O que gostaria de deixar claro é que tais resultados são fruto da mesma filosofia de gestão, que prioriza a organização, a estabilidade do ambiente e o estímulo permanente ao reconhecimento do mérito de nossos colaboradores. Trabalhamos com nossas convicções e optamos pela consistência em lugar da aparência. Nossos profissionais estão gradativamente tendo acesso a mais e melhores recursos de preparação física, de fisiologia e fisioterapia, pois, para além da montagem dos elencos, olhamos para sua manutenção e performance. E investimos no nosso futuro com responsabilidade.

Há exemplos disso para todos os lados. Um dos mais vistosos é o trabalho que está sendo realizado em Xerém, nossa fábrica de craques. Por dever de precisão, prefiro chamá-la de uma fábrica de cidadãos. Uma escola de cidadania. Desde o início dirigimos nossos esforços e investimentos às categorias de base. Investimentos em reformas estruturais, campos, acomodações e agora em uma nova sede administrativa, preparando nosso centro de treinamento para alcançar voos ainda mais altos. A prioridade a Xerém passa pela total atenção ao processo de renovação de contratos, que tem sido a tônica desde que assumimos. Uma forma de evitar a saída de jogadores feitos em casa sem que tenhamos o devido retorno desse esforço. E, mais importante, soubemos respeitar a filosofia de trabalho que vem sendo construída há décadas em nosso Vale das Laranjeiras, sem ceder a personalismos e a interesses que não sejam os do Fluminense.

Curioso estar escrevendo essas linhas, que falam sobre passado, presente e futuro, neste ano de 2020, quando todas as dimensões do tempo se misturaram em um clima de incertezas que cercou nossas vidas. O tempo se tornou ainda mais relativo. E nesse ambiente, todo o nosso esforço é em prol da estabilidade, que somente será alcançada com temperança, paciência e enorme dedicação ao nosso Fluminense. Desejo saúde para todas as famílias e peço que nos unamos em torno de pensamentos positivos, para que consigamos superar as adversidades e seguir nesse passo de reconstrução.

Saudações Tricolores.

Mário Bittencourt. 

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