Ao L!, Marcelo Souto dispara: “O Flu precisa sair dessa velha política”

Candidato à presidência, advogado quer reformar o estatuto e o fim dos esportes deficitários. Sem alianças, pode não conseguir assinaturas para participar da eleição

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A novidade na eleição do Fluminense, que será realizada no dia 8 de junho, é o advogado Marcelo Souto. Nesta terça-feira, em um evento na Barra da Tijuca, o candidato, além de apresentar os projetos da sua gestão, anunciou também o seu vice-presidente geral, Ubiratan Oliveira, que é engenheiro e militar da reserva. Aos 33 anos, Marcelo Souto topou o desafio de encarar candidatos já conhecidos dos tricolores e afirmou com exclusividade ao LANCE! que tem como inspiração o fundador do clube.

- Oscar Cox, autor da melhor ideia que alguém teve no mundo, foi o fundador do Fluminense e tinha 32 anos. Ele serve de inspiração, mas existem outros exemplos, como os presidentes do Fortaleza e do Bahia, que são jovens e fazem um grande trabalho. Idade pouco importa, o que vale são os ideais. Me orgulha muito concorrer a um cargo tão nobre.

Com propostas inovadoras e até certo ponto radicais, Marcelo Souto espera reformar o estatuto, retirando poderes dos vice-presidentes e do próprio presidente, dando ao sócio-torcedor mais participação na vida política do Fluminense. Com essas medidas o candidato espera dar fim ao que ele chamou de velha política.

- A gestão será pautada por cargos técnicos, sem toma lá, dá cá. O modelo hoje tem os vices acima dos executivos e isso não cabe mais. Queremos diminuir os poderes dos vice-presidentes. Hoje o modelo é arcaico. O presidente tem que ser mais um e atualmente ficamos na mão de um monarca, da velha política. Pretendo criar um Conselho de Administração e um Conselho Fiscal independente. Hoje ele é político, estão lá por isso. Geralmente possuem relação de trabalho, mas tendo ligação com a diretoria. As pessoas que estão lá precisam fiscalizar as contas, sem amarras com o presidente. Quero o Sócio-Futebol dentro do Conselho Deliberativo. Eu pretendo que ele, além de poder votar, possa também ser votado, fazendo parte da política do clube.

Ubiratan Oliveira é o vice-geral da chapa (Foto: Joel Silva/LANCE!)

Além da mudança na estrutura política, Marcelo Souto quer fazer também uma revolução esportiva no Fluminense. Para ele, o foco tem que ser exclusivo no futebol, abrindo mão de outras modalidades que são deficitárias. No entanto, deixou claro que essa medida seria tomada em um primeiro momento, visando ajeitar as finanças do clube.

- O Fluminense tem o futebol no seu nome. Ninguém é Fluminense por causa do vôlei ou basquete. O clube não permite prejuízos. Se eles são deficitários, eles serão encerrados. Melhorando a situação financeira do clube, espero poder retornar com esses esportes. Hoje não podemos ter gastos que não sejam necessários. Quanto a Lei de Incentivo ao Esporte, eu vejo que isso é mais um factoide, assim como foi o estádio na eleição passada. Para conseguir é necessário ter as Certidões Negativas de Débito e para isso é necessário ter de R$ 10 a R$ 15 milhões de reais. Alguns candidatos falam desse dinheiro como se fosse troco de padaria, mas não é. O governo já passou a mensagem que não vai investir tanto nisso, então não podemos crer que isso vá acontecer. Tudo que não for auto-sustentável vai ser sim encerrado.

Apesar das ideias sólidas e o plano de gestão, Marcelo Souto ainda não sabe se terá condições de participar do pleito daqui a 10 dias. Isso porque necessita de 200 assinaturas de sócios contribuintes para registrar a chapa até a quinta-feira. Sem alianças políticas, o advogado conta apenas com o apoio do grupo Esperança Tricolor. Entretanto, isso não o incomoda. Objetivo do candidato é se apresentar para o torcedor, fazendo com que os seus ideais se torne uma bandeira para uma nova política dentro do clube.

- Eu entrei candidato e saio como candidato ou presidente. Meus ideais não são mutáveis. O Fluminense precisa sair dessa velha política, velhas práticas que são históricas. Há o risco de que eu não consiga as duzentas assinaturas. Hoje o clube têm três grandes grupos políticos. Cada um está ao lado de um candidato, enquanto o terceiro está dividido entre os dois. Não faço coligação com essa velha política. Única aliança que eu quero é com o sócio, que se identifique com as minhas propostas. Se o sócio puder me dar essa confiança, que me procure, será um grande prazer.

Marcelo Souto com apoiadores da campanha (Foto: Joel Silva/LANCE!)

Relação com os adversários

Diferente de Mário Bittencourt e Ricardo Tenório, Marcelo Souto nunca exerceu cargo político no Fluminense. O advogado é apenas conselheiro do clube. No entanto, na sua avaliação, a falta de experiência não o desqualifica perante aos outros candidatos.

- Eu prefiro não ter experiência do que ter experiência em fazer besteira. Discordo muito de alguma práticas que foram utilizadas por eles e isso é uma das razões que me fez querer ser presidente do Fluminense.

Marcelo Souto também opinou sobre a saída de Ricardo Tenório da chapa de Mário Bittencourt e Celso Barros, o que acabou causando algumas críticas entre os candidatos. Souto admitiu que não gosta das brigas políticas, afirmando que fica entristecido por se tratarem de pessoas que queiram ocupar o cargo maior do Fluminense.

- Aquela velha briga de egos como sempre. Minha relação com eles é cordial. Minha campanha pauta pela lisura, por ser limpa, honesta e em nenhum momento atacaria as suas biografias. A cada pleito isso acontece e eu estou fora disso. Não é o meu modo de ser. Vejo com tristeza essas brigas por se tratarem de pessoas que querem ser presidente do Fluminense.

Outros tópicos da entrevista:

Recuperação financeira

- Vamos revisar todos os contratos vigentes. A partir do primeiro dia, a minha primeira contratação não será um jogador, mas sim uma empresa de auditoria, que vai averiguar os últimos cinco anos do clube. Precisamos abrir a caixa preta que é o Fluminense.

Renegociação da dívida

- Nós precisamos pactuar essa dívida. A dívida atual precisa ser trocada por uma nova, que será colocada dentro do orçamento, para que a gente consiga honrar os compromissos. Hoje o Fluminense não cumpre e por isso não tem credibilidade. Nós queremos pagar e vamos pagar.

Fernando Diniz

- A minha ideia é contar com o Fernando Diniz durante toda a minha gestão. Eu sou contra essa gangorra de treinadores, além de gerar um grande passivo para o clube. Caso seja eleito ele será o meu treinador até o fim da gestão. O Diniz vai ter um papel de professor com todas as categorias de base, implementando com os treinadores o seu modelo de jogo.

Laranjeiras

- A menina dos meus olhos é a revitalização de Laranjeiras. É um compromisso meu. O Fluminense voltará a disputar jogos de pequeno e médio porte em Laranjeiras. Esses jogos no Maracanã dão prejuízos de R$ 300 mil todo jogo. Precisamos transformar esses prejuízos em lucro, levando essas partidas para as Laranjeiras, que é a nossa casa.

Fluminense S.A.

- Iniciamos conversas para viabilizar o Fluminense S. A., assim como o Botafogo já tem uma questão em relação aos irmãos Moreira Salles. Pedro Trengrouse é quem vai tocar isso. Ele é referência no assunto no Brasil e está fazendo esse estudo no Botafogo.

DNA Tricolor.

- Defendo que em véspera de jogos, clássicos, o Fluminense tem que treinar nas Laranjeiras para que o torcedor tenha contato com os jogadores. Todo jogador que for contratado pelo Fluminense, vai ser apresentado em Laranjeiras, vai passar pelo museu do clube e antes que assine o contrato, eu vou sentar com ele, olhar nos olhos dele e ele vai ter que me convencer, mostrar que quer jogar no fluminense.

Categorias de base

- A base do Fluminense é sim uma das melhores bases do Brasil, mas queremos que seja a melhor da América do Sul. Ela é o nosso tesouro. No entanto, não devemos apenas produzir e vender. Precisamos manter o jogador, como o João Pedro, que não vai ter tempo para ser ídolo do clube.

Apoio para atual gestão

- Eu tenho lido alguns questionamentos pela internet e é bom deixar bem claro que em 2016 a "Esperança Tricolor" apoiava a candidatura do Cacá Cardoso e participou da coligação Fluminense Unido e Forte, que naquela ocasião teve uma junção com o Abad, dando a ele um voto de confiança. O grupo nunca teve cargo ou fez parte da gestão. Quando vimos que a gestão não seria compartilhada, rompemos com o presidente, com a coligação e caminhamos sozinhos desde então.

Punições ao presidente Pedro Abad

- Se for identificado que alguém lesou o Fluminense, este será punido. De certa forma o Abad errou em algumas coisas, como dispensar jogadores por WhatsApp, mas seria leviano de assumir esse compromisso sem provas concretas contra ele. Eu se for eleito farei de tudo para abrir as contas de 2016, que para mim foi um absurdo serem aprovadas. Vou lutar para que essas pessoas que lesaram o clube não tenham acesso ao Fluminense.

Cotas de TV e interesses do Fluminense

As cotas correspondem a 60% da renda do Fluminense, mas precisamos criar meios do clube não ser tão dependente desses valores. Não podemos usar como benjala. Precisamos nos estruturar para depender cada vez menos. Vamos defender o Fluminense, não só em relação as cotas, mas também nas federações. O árbitro vem no Maracanã, prejudica o Fluminense e nada acontece.

Marcelo Souto, candidato à presidência do Flu (Foto: Joel Silva/LANCE!)
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