Variação tática, aplicação e união: as lições do Fluminense no Carioca

Tricolor demonstrou qualidades, mas ainda precisa de ajustes, especialmente físicos, para retorno no Campeonato Brasileiro

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O Fluminense foi mal no segundo jogo da decisão do Campeonato Carioca. No entanto, com duas boas partidas contra o Flamengo, o time de Odair Hellmann tira lições valiosas para o restante da temporada. A principal delas é reconhecer algumas das fraquezas e qualidades mais importantes do elenco. Com menos de um mês de trabalho desde o retorno aos treinamentos presenciais, o Tricolor fez seis partidas em 19 dias e sentiu a parte física no momento de decisão, perdendo por 1 a 0 no Maracanã e ficando com o vice-campeonato.

- Fizemos um grande Carioca, mesmo com essas paradas, que dificultaram nossa retomada. Acho que o clube deu exemplo, através do presidente, de postura em todos os sentidos, de bom senso. O campeonato não era para ter retornado nessa pressa toda, mas aconteceu. O mais importante é que nos superamos. Só tínhamos adversidades, muitas delas, e superamos. Isso fortalece o time e o clube. No processo de construção e consolidação da forma de jogar e da confiança. Assim saímos para o segundo semestre. Não conseguimos ganhar esse título. Mas acho que honramos a camisa, representando do primeiro ao último minuto. Juntos vamos ser muito mais fortes e conquistar coisas boas neste ano - avaliou Odair.

Agora, o Fluminense folga nos próximos dias antes de retornar aos treinamentos visando a estreia no Campeonato Brasileiro, em 8 de agosto, contra o Grêmio. O LANCE! mostra os principais ensinamentos desses últimos três jogos.

Aplicação na marcação contra rivais mais fortes

Muito bem antes da paralisação, o Fluminense não conseguiu retomar a intensidade física nesse retorno do Carioca. Alguns fatores influenciaram para isso, mas o time mostrou algumas qualidades nos três últimos jogos contra o Flamengo que pode levar para o ano. Quando enfrentar equipes com mais talento e forte poder ofensivo, o Tricolor pode apostar em uma marcação baixa, forte intensidade e compactação.

Essa foi a receita que deu mais certo nas finais disputadas, usada na decisão da Taça Rio, quando acabou campeão após a disputa de pênaltis. No primeiro jogo da final do Carioca, essa estratégia mudou para algo mais parecido com o que o Fluminense vinha praticando anteriormente de tentar ficar mais tempo com a bola. Faltou mais atenção e se jogar com maior responsabilidade ao ataque para sair ao menos com o empate.

- Primeiro lugar, parabéns para o Flamengo e também para o nosso rival, que foi muito competente e nos obrigou a jogar dentro dos limites. É verdade que nos faltou alguma criatividade da primeira linha ofensiva, mas é mérito do Fluminense - disse o técnico Jorge Jesus após a partida, reconhecendo a dedicação do Tricolor no confronto.

Jogo de velocidade

Algo que ainda precisará ser ajustado com o tempo é a proposta de velocidade da equipe. E isso se altera dependendo de quem Odair escolher colocar no ataque. Com Fred, fica mais complicado e sobrecarrega quem atuar pelas pontas. Soma-se a isso a falta de entrosamento do camisa 9 com o time, que só pode ser corrigida com ritmo de jogo. Se optar por Evanilson, o treinador ganha em mobilidade e conhecimento do grupo, mas o Fluminense ainda não encontrou a fórmula ideal do contra-ataque veloz.

Nas finais, o Flu teve uma intenção de ficar mais recolhido em campo e sair apostando na rapidez de Nenê e dos atacantes. Isso, porém, ainda não está 100% da forma como poderia. O meia, por exemplo, se desdobrou na marcação e fez pouco ofensivamente. Em partidas normais, ele mesmo pode dar essa opção mais móvel, mas em jogos de maior desgaste físico o treinador ainda não encontrou a alternativa ideal.

Formação com três volantes

O volante Dodi saiu como o nome de maior destaque do Fluminense nos três jogos contra o Flamengo. Às vezes discreto em campo, ele deu mais estabilidade ao meio do Tricolor, que vinha sofrendo muito na transição entre defesa e ataque desde a retomada do Campeonato Carioca. O camisa 22 ajudou a dar mais estabilidade e velocidade, somando bem ao lado de Yago Felipe e Hudson. Deve ser uma alternativa mais utilizada para a sequência.

- O importante é que a gente consiga um maior repertório de variações. Em algum jogo pode não dar certo e podemos usar outra já trabalhada. Nesses últimos dois jogos, essa mudança deu uma resposta forte. Vamos buscar a evolução dessa resposta. Temos preparado e treinado outras ações para não ficar com apenas uma ou um tipo de jogo. Isso aumenta o repertório - analisou Odair em entrevista coletiva antes do segundo jogo da final.

União dentro e fora do campo

Além do que aconteceu dentro do campo, o que fica de maior ganho para o Fluminense depois do Campeonato Carioca é a união dos jogadores e da diretoria fortalecida nesse momento de pandemia. Se o discurso já era alinhado durante a paralisação, com o entendimento sobre os atrasos salariais e a redução dos vencimentos, quando o clube assumiu a postura de pedir por cautela no retorno do futebol todo elenco apoiou.

Em um clube ainda fragilizado financeiramente e que não deve poder jogar com a torcida neste primeiro momento, isso é um ponto positivo para dar mais tranquilidade ao trabalho. O presidente Mário Bittencourt mostrou que confia em Odair e os jogadores demonstram a todo tempo que aprovam a forma como o mandatário se posiciona.

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