Jogadores do futebol europeu vem sofrendo constantemente com grupos altamente qualificados de assaltantes, que vem invadindo e furtando a casa dos atletas. Segundo o "GE", o número de casos solucionados pelas forças policiais, por outro lado, é baixo.
Segundo um levantamento feito pelo "GE", desde 2018, foram registrados 50 casos de furtos e roubos. A maioria de atletas, principalmente brasileiros, de grandes clubes da Europa, como o Paris Saint-Germain, Manchester City e Barcelona.
Poucos atletas conseguiram recuperar seus pertences, e a maioria adotou pequenas e grandes mudanças em seu estilo de vida, em busca de mais segurança para suas famílias e pessoas próximas.
O caso mais recente, entre brasileiros, foi do atacante Joelinton, do Newcastle, da Inglaterra. A casa do jogador foi alvo de três criminosos em janeiro, enquanto ele estava no estádio St. James Park assistindo ao jogo do time dele contra o City. Até o momento, a investigação da polícia inglesa não teve nenhum avanço.
Antes de Joelinton, Grealish foi alvo dos criminosos, enquanto o atacante estava na partida contra o Everton. O jogador do Manchester City teve a casa invadida e a namorada, Sasha Attwood, e a família, estavam no imóvel. Cerca de R$ 6 milhões foram levados em joias e relógios.
O aumento desses crimes na Inglaterra virou pauta entre os jogadores do City e o técnico Pep Guardiola. O treinador espanhol disse que a equipe e comissão técnica receberam orientações do clube, no meio do ano passado.
Nesse período de 2023, o atacante Kaio Jorge, emprestado pela Juventos ao Frosinone, teve a casa furtada, enquanto estava de férias no Brasil. O jogador, ex-Santos, teve a bolsa de sua mãe, óculos, roupas de marca, joias e um carro levados pelos bandidos.
— A polícia investigou, mas ficou por isso mesmo, não tive nenhum material devolvido, e não conseguiram pegar os bandidos. Depois do assalto, entreguei a casa porque não queria mais morar ali. Sendo que era tudo blindado, portas, sistemas de alarme, mas eles conseguiram uma cópia da chave da casa e entraram pela academia — contou Kaio Jorge.
Há certos padrões que os criminosos seguem. A maioria dos assaltos ocorre quando o jogador está fora de casa, ou em uma partida, ou até em viagens profissionais, ou de lazer.
O atacante Rodrygo teve a causa roubada em maio de 2023, enquanto ele estava em ação pelo Real Madrid na final da Copa do Rei. O inquérito deste caso ainda não teve conclusão. Segundo o "GE", a polícia orientou familiares do jogador a evitarem publicar conteúdo em redes sociais que de alguma forma facilitassem a localização da casa.
Outros atletas que foram vítimas de invasões também receberam a mesma instrução. Joelinton, por exemplo, instalou mais câmeras de segurança na casa e contratou segurança particular.
Luan Peres também foi outro que tomou medidas de segurança. Ele não estava em casa com a esposa quando a residência em Marselha foi invadida. Eles estavam no estádio Velòdrome, do Olympique. O casal cogitou trocar de lar, por medo, mas decidiu ficar por mais tempo.
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— Em relação à polícia, eles investigaram, foram lá em casa e relatamos tudo que aconteceu. Fizemos o registro da ocorrência. Passou uma semana, duas semanas, e ninguém falou mais nada, ficou por isso mesmo. Instalamos (mais) câmeras de segurança e alarmes porque eles entraram pelo único ponto que não tinha câmera, nós instalamos alarmes de segurança por todo o jardim — contou Luan Peres.
O zagueiro Thiago Silva passou por isso em dezembro de 2018, quando ele ainda estava no Paris Saint-Germain. Nada dele foi recuperado. Porém, a polícia conseguiu prender os ladrões, que hoje cumprem pena.
Dentre os grandes europeus, o PSG foi o que mais teve casos de invasão. O clube agora fornece aos jogadores uma segurança particular. Além de Thiago Silva, Choupo-Moting e Marquinhos (duas vezes ambos), Kurzawa, Daniel Alves, Icardi, Donnarumma e Di María.
QUEM SÃO OS CRIMINOSO?
A Global Initiative (GITOC) é uma organização independente dedicada a encontrar novas estratégias contra o crime organizado transnacional. A diretora do Observatório para o sudeste da Europa da GITOC, Fatjona Mejdini não acredita em uma rede conectando todos esses roubos e furtos. Por outro lado, ela destaca o nível de especialização de criminosos.
— Roubos desse tipo são um tipo de especialização do crime. Há tradição, preparação contínua, investimento para ser melhor tecnicamente a cada geração. O que vemos agora na Europa é especialização no que fazem. E há o elemento da transnacionalidade do roubo: você se especializa num lugar, mas vai para outro cometer o crime — disse Mejdini.
O maior problema ao combater esse tipo de crime na Europa, é a facilidade na mobilidade pelos países. O Espaço Schengen é uma área formada por 27 países europeus, que aboliram a necessidade de passaportes ou vistos.
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— Você pode ficar num país legalmente, planejar, cometer o crime e sair rapidamente. Isso ajuda muito a natureza transnacional desse tipo de crime. Para investigar, é fundamental coordenação, muita troca de informação entre os países, é a única forma de combate — explicou.
Um dos casos foi o do Karim Benzema, que teve sua casa roubada em Madri, em janeiro de 2022. Em menos de uma hora, bandidos levaram 200 mil euros em bens do jogador, segundo a denúncia à polícia. Foi descoberto que os criminosos saíram de Marselha, na França, cerca de cinco dias antes do crime.
Em 2018, na Alemanha, autoridades de Justiça da Alemanha e a Europol desbarataram uma quadrilha internacional de roubos que cometeu mais de 100 crimes em quatro países diferentes. O grupo fazia parte de uma grande família holandesa da pequena cidade de Overijssel.
ROUBOS MILIONÁRIOS E MERCADO NEGRO
Outro aspecto que torna esse tipo de crime internacional é o destino dos itens roubados. Eles são comercializados longe do país de origem de onde houve o roubo. Os ladrões aproveitam brechas nas leis de cada país e procuram os melhores lugares para revender joias e carros de luxo.
A polícia da Inglaterra recuperou uma Ferrari e um Range Rover Sport de dois jogadores da Premier League. Os carros seriam enviados para Dubai, em agosto do ano passado. As autoridades não revelaram a identidade dos atletas, mas eles teriam mais de 100 jogos por seleção.
— Ele estava realmente agradecido e impressionado com o nosso trabalho. O carro era muito importante para ele. Apesar de ele jogar por um dos maiores rivais do meu time, foi muito gente boa e humilde — contou o oficial Phil Pentelow, na época.
No mercado ilegal no Oriente Médio e na África, carros de luxo do Reino Unido podem valer até três vezes mais.
A Europol, a agência da União Europeia para a Cooperação Policial, conduziu entre 2016 e 2017 o projeto "Pantera Cor de Rosa", com foco nos roubos cometido pelo grupo com esse nome, originário dos Balcãs.
A organização também teve em 2017 o projeto "Diamante", voltado para redes de roubos de joias e invasão as casas. Essa iniciativa constatou que criminosos da América do Sul passaram a viajar para a Europa para cometer esse tipo de crime, e com métodos mais avançados e agressivos.
O último caso relevante com atuação da agência foi em outubro de 2019, quando houve a prisão de cinco pessoas na Espanha, suspeitos de roubo a casas de jogadores do Real Madrid e do Atlético de Madrid. A Europol atuou com a Guarda Civil espanhola.
Os suspeitos, quatro albaneses e um espanhol, monitoravam as redes sociais dos jogadores para planejar os roubos. A polícia confiscou carros de luxo, joias e milhares de euro. Até uma medalha de campeão da Champions League de um atleta do Atlético foi recuperada.