O sonho do título da Libertadores quase virou pesadelo para alguns torcedores do Botafogo no retorno da Argentina. O voo FO 5902, da empresa Flybondi, que deixou Buenos Aires com destino ao Rio de Janeiro no último domingo (1º), enfrentou tempestade e perda de altitude até chegar ao Brasil. Ao Lance!, passageiros relataram o pesadelo vivido durante a viagem, com cintos de seguranças arrebentados e aeronave "de lado".
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Antes da decolagem, o voo, previsto para sair da capital argentina às 14h30 (de Brasília), só conseguiu partir às 16h05. Passageiro do avião, o torcedor do Botafogo Bernardo Pinho descreveu as cenas de caos e contou que, antes mesmo da aeronave levantar voo, os presentes haviam sido informados de que fortes turbulências eram esperadas, mas os acontecimentos foram além do habitual.
— Já era sabido que tinha uma tempestade chegando. A gente ficou muito tempo no avião, e o voo deu uma atrasada porque estava enchendo combustível ou algo do tipo. Antes de decolar, falaram que não teria serviço de bordo e que deveríamos ficar com o cinto o tempo todo, porque tinha previsão de uma grande turbulência. Até aí tudo bem, turbulência acontece. Acho que, com uns 20 ou 25 minutos de voo, o avião começou a balançar. Mas deixou de ser um "balanço" pequeno para algo brusco e grande. Começou a ir para cima e para baixo muito forte e perder muita altitude. Pessoas subiram da cadeira. Comecei a ficar desesperado, pensando: "Será que é possível?". O "cara" que estava do meu lado me tranquilizou, falando que era normal. Mas o avião começou a ir muito, muito rápido. Parecia que estava em um foguete, passando a barreira do som — descreve Bernardo, que seguiu:
— Começou a balançar muito, e foi aí que o "cara" que estava do meu lado, que voava sempre, começou a falar: "F*deu, f*deu!". Quando ele falou isso, pensei que ia morrer. Todo mundo começou a gritar e rezar. Eu falava "por favor, meu Deus, não!". Me segurei na cadeira, e teve uma hora, juro por Deus, que o avião virou de lado. Nessa hora eu saí do "f*deu" para a certeza de que iríamos cair. O homem do meu lado falou que estávamos caindo, perdendo altitude. Não tem como explicar a sensação, é só vivendo. Várias pessoas que estão acostumadas a andar de avião falaram que aquilo não era normal, inclusive aeromoças — relatou, antes de concluir:
— Depois que passou a loucura, quando pousamos e a indicação de cinto de segurança apagou, todos gritamos comemorando. Todo mundo levantou e foi falar com os outros, com aeromoças e comissários. Eles estavam desesperados, rezando, e nem implicaram que todos levantaram porque sabiam que tinha sido um caos — completou.
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Outro torcedor do Botafogo no voo que vinha da Argentina, Lucca Mitre contou sua experiência durante a viagem. O jovem revela que o desespero tomou conta dos presentes, inclusive das comissárias de bordo. Além disso, disse que seu pai, que viajava com ele e já trabalhou como assistente de piloto, relatou que por pouco a experiência não se transformou em morte.
— Já na decolagem, eu estava sentindo que o avião estava patinando na pista. Mas decolou e balançou normal. Depois o "maluco" chegou e falou: "A gente vai passar por uma área de turbulência". E beleza, quantas vezes a gente já ouviu isso, voando, né? O clima do avião estava ótimo, a gente decolou, a gente cantando o hino (do Botafogo), aí começou a turbulência. Cara, ficou um clima de m****, deu para ver todo mundo quieto, meio apreensivo. E começou a chacoalhar e bater de um jeito que eu nunca vi na minha vida. Estava dando aquelas quedas da bunda sair da cadeira. Até que uma hora começou a bater tanto, a chacoalhar tanto que as pessoas começaram a gritar. Eu vi muita gente chorando. Eu sentei numa das últimas fileiras, né? Quando eu olho para trás, vejo uma das aeromoças rezando. Mano, quando a mulher começou a rezar, eu falei: "Gente, f*deu. F*deu". E uma hora que olhei para frente, o avião levemente deu uma virada — conta o torcedor, que seguiu:
— Depois eu falei com o meu pai, que entende um pouco de aviação, ele voava muito com o amigo dele que é piloto. O meu pai fazia voos bizarros, só em "lata velha bizarra". Ele falou que, ali naquele momento, foi "por um pentelho" para a gente entrar em parafuso e cair e virar. Porque a gente entra em parafuso e estol, que é uma posição que ele cai de bico no chão. Ele falou que ele sentiu isso ali. Foi o "feeling" que ele teve ali, do conhecimento que ele tinha de aviação. Porque a gente viu a aeronave virando um pouco. E nesse momento que ela acelerou, ele falou que quando começa a virar a turbulência, o piloto precisa acelerar. A gente estava vendo que parecia que a turbina ia estourar, era só um barulho e a gente segurando. Mano, eu sei que foram oito minutos de agonia, pessoas chorando, rezando. Eu vi uma mulher grávida branca passando mal. Mano, foi horrível. Foi horrível. Eu já viajei muito de avião, eu nunca na vida passei por isso. O meu pai, a vida inteira, a trabalho, falou que nunca virou nada parecido — disse Lucca, que completou:
— Eu vi uma delas (aeromoças) rezando, e uma falou que já passou por isso uma vez. Outra falou que nunca tinha passado por isso. Mano, as mulheres elas vão nessa p****, três vezes por dia, tá ligado? A parada batendo, batendo, batendo, puxando. Eu falei: "Essa máscara de oxigênio vai cair, vou nem botar essa p****", vai dar m**** mesmo. Depois que a gente estabilizou, eu vi piscando que podia tirar o cinto, e a gente comemorou como se fosse a vida. Foi a pior experiência da minha vida. Pior, eu vi era uma aeromoça desesperada, horrível — concluiu.
Outros voos da Flybondi tiveram problemas
Além do caos durante o FO 5902, outros voos da Flybondi também sofreram atrasos no fim de semana. Via redes sociais, clientes da companhia aérea relataram a insatisfação com o serviço, muitos deles brasileiros que acompanharam a final da Libertadores entre Atlético-MG e Botafogo na Argentina. Na imprensa hermana, a empresa foi assunto de reportagens por conta dos muitos atrasos nos últimos dias.
Apesar da decepção e descontentamento dos brasileiros, a Flybondi já é famosa por ter má reputação no país vizinho. Segundo a Flight Aware, base de dados norte-americana, a empresa argentina ficou entre as com mais cancelamentos ou atrasos entre todas as companhias aéreas do mundo. Na sexta-feira (29), foi a oitava pior; no domingo (1º), a quarta com mais ocorrências; nesta segunda-feira (2), ficou em 11º.
Flybondi explica ocorrido com voo que trazia torcedores do Botafogo da Argentina
Após contato do Lance!, a companhia aérea Flybondi, responsável pelo avião que transportou torcedores do Botafogo da Argentina ao Rio de Janeiro, alegou que a turbulência ocorreu devido a uma "frente de instabilidade" e que as condições "não significaram um risco para a segurança do voo". A empresa ainda afirmou que o motivo dos atrasos foram problemas técnicos "comuns no setor". Veja o posicionamento na íntegra abaixo.
"Durante o fim de semana, até segunda-feira, houve uma frente de instabilidade de grande intensidade no Uruguai, por isso os voos sofreram turbulência. Essas condições não significam um risco nem para a operação, nem para a segurança do voo. Os atrasos e cancelamentos devem-se a motivos operacionais por conta da disponibilidade da frota. A cadeia de abastecimento da indústria é complexa há algum tempo e isso gera tempos mais longos para resolver os problemas técnicos que os aviões podem apresentar. Um problema que antes era resolvido em um dia, hoje leva até 96 horas. Então, qualquer problema operacional, totalmente comum no setor, impacta a programação do dia."
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), reguladora da atividade no Brasil, não informa se recebeu alguma denúncia formal acerca do voo FO 5902 - ou qualquer outro -, pois tal revelação poderia "comprometer o andamento geral de múltiplas apurações e investigações". No entanto, o órgão reforçou que segue os "parâmetros estabelecidos no Programa Brasileiro para a Segurança Operacional da Aviação Civil (PSO-BR) e em diretrizes internacionais". Além disso, relatou que analisa dados de desempenho das operadoras aéreas constantemente.
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