Copa do Mundo Feminina: Renata Mendonça aponta incoerência de Pia, mas cita ‘trunfo’ para disputa do título

Comentarista da Globo falou projetou a participação da Seleção Brasileira no torneio

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A Seleção Brasileira estreia na Copa do Mundo Feminina nesta segunda-feira (24), contra o Panamá. O Lance! conversou com Renata Mendonça, uma das principais comentaristas da Globo, que está na Austrália para cobrir o torneio. A jornalista apontou uma incoerência da técnica Pia Sundhage e citou um "trunfo" que pode levar o Brasil ao título.

- Acho que a ausência da Luciana na lista é uma incoerência da treinadora. A experiente goleira da Ferroviária vinha sendo chamada em todas as convocações desde a lesão da Lorena, estava no grupo também em 2022, e na lista final apareceu Bárbara, goleira que não era chamada desde a Olimpíada de 2021 - analisou Renata Mendonça.

Renata Mendonça será a comentarista do Sportv na estreia da Seleção no torneio. A jornalista terá a companhia do narrador Luiz Carlos Jr e da ex-jogadora Aline Callandrini. Na Globo, o duelo será comandado por Renata Silveira, com comentários de Caio Ribeiro e Ana Thaís Matos. Mendonça disse que o Brasil não é favorito na competição.

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- Acho que o Brasil está na disputa, mas não é favorito ao título. Muito pelo trabalho que outras seleções fizeram há muito mais tempo, de investimento na base e no desenvolvimento do futebol feminino. Ainda assim, a seleção evoluiu bem e, em Copas, qualquer um dos 8 ou 10 primeiros colocados do ranking da Fifa chegam para brigar. Minha previsão otimista é de chegar à semifinal, para voltar a disputar um pódio de Copa do Mundo - disse Renata.

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- Acho que o trunfo desta seleção é a mescla entre experiência e juventude. A seleção tem a ousadia de jovens como Kerolin, Ary Borges e Geyse, e ao mesmo tempo a experiência de Tamires, Debinha, Rafaelle, além da genialidade de Marta. Essa mistura pode dar bom para nós - completou a jornalista.

Pia Sundhage é a técnica da Seleção Brasileira (Foto: Thais Magalhães/CBF)

Veja outros trechos do papo com Renata Mendonça:

Viagem para cobrir a Seleção na Copa do Mundo
"É mais um sonho sendo realizado. O futebol feminino virou minha pauta e minha causa, porque identifico nele a história que todas as mulheres têm de luta por direitos básicos. Costumo dizer que nada foi dado às mulheres, tudo precisou ser conquistado - e essa Copa, essa cobertura e tudo o que está acontecendo para as mulheres no futebol é fruto de muita luta e representa uma conquista enorme. Em 2019, fui a primeira jornalista a chegar na cobertura da preparação da seleção feminina pra Copa em Portugal e só tinha eu de imprensa lá, sendo que estava lá pelo "Dibradoras", um veículo independente. Hoje, ver a quantidade de TVs, jornais, revistas, e grandes veículos em geral, interessados em cobrir a Copa feminina, ver que a CBF montou até uma tenda de coletiva de imprensa e zona mista pra atender melhor essa quantidade de jornalistas, é um alento e um reflexo do quanto as coisas mudaram. Há muito tempo, adotei como propósito de vida e de carreira dar visibilidade às mulheres no esporte. É muito gratificante ver que hoje, finalmente, as mulheres estão tendo holofotes voltados para elas"

Crescimento do futebol feminino e conquista pessoal
"Vejo que essa é uma conquista coletiva. Teve muita mulher que jogava bola quando futebol era proibido por lei para nós. Teve mulher que sofreu os mais tenebrosos ataques e preconceitos por jogar futebol; que insistiu em continuar mesmo sem ter as mínimas condições para levar isso como carreira; que insistiu para que tivesse o mínimo: o direito de jogar e ocupar o lugar que quisesse. Então ver o alcance que a Copa do Mundo de 2019 teve potencializada pelas transmissões da Globo, ver a grande cobertura que está sendo preparada dessa vez e fazer parte da equipe que vai contar essa história in loco, é muito gratificante. Mostra que aquilo que a gente sempre acreditou, o potencial do futebol feminino, era real. As audiências foram recordes, o interesse do público foi enorme e continuou depois de 2019. Hoje a gente alcança outro patamar. A Copa de 2019 foi a da transformação para o futebol feminino e essa será a da consolidação dele como uma realidade para as mulheres. Porque de 2023 em diante, toda menina que nascer vai saber que esse jogo também é dela, que o campo também é lugar dela e que futebol é coisa de mulher, sim"

Trabalho de Pia Sundhage na Seleção Brasileira
"O trabalho da Pia para mim será um divisor de águas na seleção feminina. Ela começa uma renovação que já era necessária faz tempo, encontra grandes potenciais entre as atletas mais jovens, e faz o coletivo do Brasil funcionar melhor, inclusive, sem depender tanto de talentos individuais, como era até 2019. O time evoluiu muito defensivamente, sabe se defender em bloco alto, pressionando a saída de bola das principais seleções do mundo, e sabe variar para bloco médio e baixo. A construção do jogo também melhorou. O Brasil tenta sempre sair por baixo, sem fazer tanta ligação direta, com chutão direto da goleira. Faltam ainda ajustes no ataque para que o time fique mais efetivo lá na frente"

Críticas ao futebol feminino e às mulheres em transmissões esportivas
"Não é nenhuma novidade ver homens tentando determinar qual lugar as mulheres devem ocupar e tentando de todas as formas tirá-las do futebol. Alguns têm a ousadia de sugerir novas regras, como “tem que diminuir o gol, olha o vôlei, a rede é menor pra mulheres”. Tudo isso é puro preconceito e desconhecimento. Já pararam para pensar na falta de estrutura para as mulheres se desenvolverem como goleiras? Já se ligaram que enquanto um homem tem a chance de jogar no campo com 8, 9, 10 anos, tem goleira da seleção (a Barbara, por exemplo), que a primeira vez que pisou num gramado tinha já 16 anos? E se as mulheres tivessem as mesmas oportunidades de treinar e se desenvolver desde cedo nessa posição, será que não aconteceria o mesmo que aconteceu com os homens, e teríamos goleiras melhores e mais altas agora? Não é de hoje que os homens buscam formas de determinar o que a gente pode ou não fazer. Azar o deles, porque essa estratégia sempre sucumbiu à nossa luta. Quer os preconceituosos queiram, quer não queiram, seguiremos ocupando esses espaços. E a verdade é que essas pessoas são barulhentas, mas são minoria. Os recordes de audiência de 2019 estão aí para provar - e nessa Copa vão vir mais pessoas conosco"

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