O debate sobre o retorno do público aos estádios de futebol segue quente em diversos países. No Brasil, a CBF esfriou temporariamente a discussão ao manter o veto, no final de setembro. Diante do cenário, o LANCE! conversou com especialistas em saúde e comportamento sobre os prós e contras do retorno dos torcedores às arquibancadas.
A pesquisadora em Saúde e membro do Grupo Técnico de Enfrentamento ao Covid19 da UFRJ, Chrystina Barros acredita que os riscos são muitos grandes, pelo fato do comportamento típico em estádios ser propício à aglomeração e contato humano.
– As flexibilizações deveriam acontecer sempre a partir de indicadores consistentes. Nós ainda temos números que flutuam. Mesmo clubes com toda a estrutura já demonstraram que o controle total não existe. O retorno do publico vai na contramão do que precisamos neste momento que é manter a distância social, usar máscara, fazer a higiene das mãos e circular com todo o cuidado, principalmente para preservar atividades essenciais. A população acaba considerando que a doença já foi embora. Mesmo com a capacidade reduzida, devemos pensar que o transporte público não é adequado, que teremos aglomerações. Será um lugar a mais para propiciar o contato e a disseminação da doença. O retorno agora não está indicado e coloca em risco a vida de muitas pessoas – analisou a pesquisadora.
Já a psicóloga Vânia Campos, especialista em desenvolvimento pessoal e organizacional, lembrou os efeitos positivos que os estímulos dos torcedores têm sobre a dinâmica dos jogos e sobre o desempenho dos atletas.
– O rendimento do atleta é consequência da sua performance técnica, mas também da sua inteligência emocional. Estudos mostraram que a torcida desempenha papel positivo no rendimento da maioria deles, ela aumenta a vontade de vencer. A mensagem enviada pela torcida, ao ser processada, proporcionará uma reação no atleta que o levará a uma mudança de comportamento positiva ou negativa. Isto dependerá da sua condição emocional. Pode ser que em um dia ele esteja mais abalado, impactando-o mais negativamente, levando ao estresse, tensão, medo e ansiedade. Alguns “tiram de letra” as pressões e cobranças da mídia e da torcida, absorvendo como um 'feedback' que o levará a um estado de busca de melhora. Quando ele aprende a não absorver o que é negativo e neutralizar qualquer reação que possa prejudicar seu rendimento em campo, consegue reverter em sucesso e na busca constante de melhoria. Por isso acho que médicos e especialistas de saúde devem ser consultados para promover retomada segura do público – opinou a psicóloga.
O Ministério da Saúde chegou a aprovar um estudo da CBF para liberar até 30% da capacidade dos estádios, mas a maioria das cidades e Estados dos clubes envolvidos no Brasileirão ainda não aprova o retorno dos torcedores. Uma nova reunião nos próximos dias entre os representantes dos clubes e a entidade deve retomar a discussão.