A frustração marca o presidente do Goiânia, Antonio Carlos Godoi, dias após o novo desdobramento da Operação Penalidade Máxima. A investigação apontou indícios de que a a equipe "entregaria" o jogo contra o Goiás, previsto para 12 de fevereiro, no Estádio Hailé Pinheiro, pelo Campeonato Goiano. O Esmeraldino venceu por 2 a 0. As informações foram divulgadas pelo jornal "O Estado de São Paulo".
O mandatário revelou ao LANCE! que a indignação fica ainda maior por tudo o que aconteceu com o Galo Carijó na competição estadual. Há suspeita de que cinco jogadores do Goiânia estavam envolvidos na manipulação.
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- É claro que lamentamos a proporção em torno desse evento. Como foi envolvido o nome do clube e o que aconteceu conosco... Agora estamos em busca de uma prova, apurando para saber se esse jogo teve de fato participação de alguém daqui em uma combinação de resultado. Caso seja verdade, temos de saber quem ajudou a gente a perder. Terminamos a competição a um ponto de obter uma vaga na Série D - e desabafou:
- Estamos vendo com nosso corpo jurídico qual caminho vamos seguir. Ficamos muito chateados tanto na eliminação quanto com esta situação que se revelou. Pagamos salários, demos condições de treinamento e havia chance de termos o calendário com futebol o ano todo. Mas tudo foi comprometido por conta deste tipo de conduta, enquanto só um grupo foi favorecido... - completou.
As suspeitas em torno desta partida foram levantadas na transcrição de uma conversa de WhatsApp entre o jogador Denner Barbosa, que defendia o Operário de Várzea Grande (MT), e um apostador. O jogador, que exercia influência em outros atletas de futebol, negocia com o empresário Bruno Lopez, suspeito de ser chefe do esquema de manipulação.
Denner chegou à sugestão de que o ideal era apostar na vitória por 2 a 0 do Goiás sobre o Goiânia no primeiro tempo. O Esmeraldino saiu na frente aos três minutos, com Lucas Halter. O placar foi ampliado aos 43, com Vinícius Silva. Segundo as mensagens, cada atleta do Goiânia recebeu R$ 10 mil. Pela manipulação, Denner Barbosa recebeu uma transferência de R$ 25 mil de Bruno Lopez e, ao fim do jogo, houve nova movimentação de R$ 100 mil para a conta do atleta.
O promotor Fernando Cesconetto, do MP de Goiás, afirmou:
- O que tivemos era uma aposta de R$ 80 mil com parte de valores para que os jogadores do Goiânia assegurassem a derrota no primeiro tempo - disse ao "Estadão".
Ao L!, Alexandre Godoi se diz em alerta também em relação a outros tropeços do Galo Carijó na competição.
- Tinha sido muito estranha a maneira como perdemos para o Goiás, de fato. Mas no Estadual perdeu várias partidas sofrendo gols aos três minutos, aos cinco minutos de jogo... Sofremos duas goleadas por 4 a 0 (para Morrinhos e Anápolis)... Teve o jogo com o Goiás, que perdemos por 8 a 3, mas o jogo no primeiro tempo foi muito aberto. Temos ainda que entender tudo.
Ao fim da competição, o Goiânia ficou em oitavo, com 14 pontos, perdendo a vaga na Série D para o Iporá no saldo de gols.
DIRIGENTES DO GOIÁS E DA FEDERAÇÃO GOIANA LAMENTAM O EPISÓDIO
O choque quanto à suspeita de fraude na partida entre Goiás e Goiânia se estendeu ao Esmeraldino. Mandatário do clube, Paulo Rogério assegurou.
- É importante ressaltar que na referida partida o Goiás e nenhum atleta até o presente momento fez parte da manipulação de resultado investigada pelo MP-GO. Atletas do Goiânia que foram citados e estão sendo investigados pelo MP-GO. O Goiás apoia e sempre apoiará toda e qualquer medida que venha dar transparência, solidez, confiabilidade e igualdade de condições no futebol brasileiro, custe o que custar, mesmo que tenha de cortar na própria carne - e garantiu:
- Caso algum atleta de nosso atual elenco seja investigado e, comprovadamente, tenha manipulado resultado ou situações nas partidas do clube e depois de ter dado a ele a ampla defesa, o Goiás tomará as medidas mais duras permitidas pelas legislações em vigor. Além disso, buscará na Justiça a reparação de danos por eles causados à imagem do Goiás e financeira se assim ficar comprovado. Não vamos tolerar este desvio de conduta esportiva e social - completou.
O dirigente também negou que o clube conte com jogadores que sejam suspeitos de envolvimento no escândalo.
- Nenhum atleta do atual elenco ainda teve inquérito aberto ou até mesmo suspeitas de envolvimentos. Houve apenas um caso de citação onde o mesmo não aceitou e um outro que foi fake news e o atleta citado já buscou a delegacia de crimes cibernéticos para achar quem plantou tal noticia. Quantos aos ex-atletas do clube já investigados ou em investigação, após o desfecho pelo STJD e Justiça Comum, o Goiás irá buscar a reparação de danos causados por estes atletas e os seus aliciadores - disse.
Pinheiro lamenta a explosão deste caso no futebol brasileiro.
- Eu, como ex-atleta, vejo com muita tristeza o que está acontecendo no esporte mundial em geral. Estas manipulações de resultados estão generalizadas e enraizadas no mundo todo em dezenas de modalidades esportivas há alguns anos. Como dirigente, penso que os órgãos de gestão do esporte, cada um em sua área, deveriam banir não só do futebol, vôlei, tênis, basquete ou onde mais estiver acontecendo tais manipulações, mas sim do esporte. Primeiro, para mostrar que a tolerância será zero, e segundo para evitar que tais “criminosos” possam vir a atuar em outros esportes ou até mesmo virarem dirigentes desportivos em clubes, federações, comitês, etc. A suspensão e a multa financeira seria de certa forma até um prêmio para estes que dizem atletas. Espero que quem decida reflita muito e não passe a mão na cabeça destas pessoas - afirmou.
Os jogadores Dadá Belmonte e Sávio defenderam o Goiás no Brasileiro de 2022 e apareceram em conversas com apostadores obtidas pelo "GE". Dadá está no América-MG atualmente. O lateral-esquerdo deixou o clube.
Presidente da Federação Goiana de Futebol (FGF), Ronei Freitas mostrou um sentimento de decepção em torno do caso.
- É de lamentar profundamente tudo o que está acontecendo. Porém, acho que foi importante o Hugo Jorge Bravo (presidente do Vila Nova) ter revelado isso e o Ministério Público passar a investigar essa situação - disse.
A partida entre Goiás e Goiânia, inicialmente, não despertou suspeitas.
- Soubemos dessa situação agora, por meio da imprensa. Uma vitória por 2 a 0 do Goiás não chega a ser um resultado tão excepcional, trata-se de uma equipe superior tecnicamente... Mas tem de ser minuciosamente investigado - e frisou:
- Não compactuamos em nada com isso e vamos tomar as medidas necessárias. Caso algum atleta tenha de fato contribuído para este esquema, ficará a cargo do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) o julgamento em competições. Vamos esperar as apurações do caso - destacou Freitas.
ENTENDA O CASO
A investigação sobre suspeita de manipulação de resultados teve início em novembro do ano passado. O mandatário do Vila Nova, Jorge Hugo Bravo, descobriu que jogadores do clube vinham sendo aliciados por um grupo de apostadores antes da partida contra o Sport pela Série B. O dirigente juntou provas da tentativa de manipulação e procurou os promotores que combatem o crime organizado no estado.
Oficial da Polícia Militar, Jorge Hugo Bravo descobriu que o atleta Marcos Vinícius Alves Barreira, apelidado de Romário, tinha sido aliciado. Como o jogador não foi escalado, tentou induzir algum companheiro de time a levar um cartão vermelho ou cometer um pênalti no seu lugar. O valor combinado, segundo depoimento de Romário, era de R$ 150 mil, com uma "entrada" de R$ 10 mil, conforme vídeo de seu depoimento divulgado no programa dominical "Fantástico", da Rede Globo. Entre os vídeos, há ameaças de um integrante do esquema ao zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos.
A investigação apontou que houve manipulações em jogos das Séries A e B do Brasileirão de 2022 e em partidas de Estaduais. O grupo pagava para que jogadores fizessem determinadas ações, como receber cartões amarelo e vermelho ou cometer pênaltis. Em paralelo, os integrantes apostavam em sites do ramo que esses lances ocorreriam durante os jogos e conseguiam lucros.
Há estimativas de que o grupo “investiu” R$ 8430,00 e somou ganhos de R$ 730.616,00. O MP-GO continuará a apurar o caso e não descarta que ocorreram manipulações de resultados em outros jogos de futebol. A Operação Penalidade Máxima está em sua segunda fase.