As últimas semanas foram marcadas no Brasil por casos de violência no futebol, como os ataques aos ônibus de Bahia e Grêmio. No domingo, Igor Benevenuto, árbitro de Atlético-MG x Cruzeiro, sofreu com ameaças de torcedores. O LANCE! conversou com Rafael Bastos, árbitro assistente da federação paraense, que passou por episódio triste de agressão em campo, há três anos.
Em 2019, Rafael era o assistente da partida entre Paysandu e Carajás, pelo Campeonato Paraense Sub-20. Ao fim do jogo, o profissional informou ao árbitro da partida um pênalti que deveria ser marcado para o Carajás, que converteu a penalidade e eliminou o Papão do torneio. Após o encerramento do duelo, Bastos foi agredido pelo elenco do Paysandu e sofreu graves ferimentos.
+ #LancePelaPaz: torcida única não é solução para conter violência no futebol, diz porta-voz da PM de MG
- Depois do apito final, todos partiram para as agressões à arbitragem. Vieram quatro pessoas para cima de mim, porque eu estava perto do banco do Paysandu. Não consegui nem chegar ao meio-campo pra me juntar aos meus colegas. Fui jogado no chão, socado e chutado. Dali eu fui direto para o IML fazer corpo de delito, depois registrar o BO na delegacia e em seguida recebi atendimento médico - disse Rafael, que completou:
- Ficou um trauma após aquela partida e eu me afastei. Não tinha mais vontade de trabalhar e preferi ficar recluso. Tive depressão e pensei seriamente em abandonar a carreira. Mas contei com a ajuda de profissionais e da minha família, e voltei aos jogos quatro meses depois. No jogo, tive medo de acontecer uma situação como aquela. Até hoje eu penso no que aconteceu e faço tratamento psicológico. A cada apito final que dá tudo certo eu agradeço - emendou.
+ #LancePelaPaz: Weverton diz que 'chá revelação' foi para mostrar que estádio é sim lugar de família
Enfermeiro e professor, Rafael Bastos segue como árbitro assistente da federação paraense, mas afirmou que não se sente seguro trabalhando em partidas no Brasil. O profissional relembrou que os agressores responsáveis pelas cenas de violência naquela partida foram punidos apenas com seis meses de suspensão, que após recurso, caíram para apenas três.
- Eu não me sinto seguro trabalhando no Brasil. As pessoas que trabalham com futebol por aqui são extremamente mal educadas e violentas. São pessoas que xingam e ficam incitando a violência por menor que seja. Os jogadores veem aquilo e acabam influenciados. Qualquer tipo de marcação no campo, os jogadores vem peitar. Para mudar é preciso de punições mais severas. Foi uma vergonha a decisão do tribunal com os meus agressores. Ficou um sentimento de impunidade, por isso é necessário uma mudança na lei - opinou o assistente.
+ #LancePelaPaz: inteligência avança, mas fake news desafiam autoridades no combate à violência no futebol
No ano passado, um caso de violência dentro dos gramados chamou atenção no Brasil. Durante partida da Série A do Campeonato Gaúcho, o atacante William Ribeiro chutou a cabeça do árbitro Rodrigo Crivellaro, que precisou ficar por dias no hospital. O jogador foi suspenso por dois anos do futebol, e Rafael citou o caso para falar sobre a impunidade dos atos no país.
- Quando vejo uma situação parecida com um colega eu fico muito triste e receoso, como foi o caso do Rodrigo, no Rio Grande do Sul. Por pouco não foi à óbito. Seria uma tragédia ainda maior. Um jogador daquele não pode nunca mais exercer a atividade, deveria ser preso. Quando ocorre isso, eu penso e repenso se quero continuar. Providencias não são tomadas, e esses agressores sabem que não vai acontecer nada, então vão e praticam esses crimes. Infelizmente é uma coisa que não vai mudar - comentou, antes de encerrar.
- Hoje em dia muitas pessoas já vão para o estádio com intuito de provocar tumulto e promover violência. No mesmo dia do caso no México teve uma briga em Minas. São casos corriqueiros que precisam de punição severa. Esses torcedores, se é que podemos chamar assim, não podem comparecer a um estádio de futebol. Não é punir por um ou dois anos, é proibir essa pessoa de frequentar praças esportivas. Não justo com as pessoas que vão para curtir com suas família, presenciarem ou ser envolvidas em cenas como temos visto - concluiu.