Escrito por Lance!
A Globo demitiu cerca de 20 jornalistas em apenas um dia, na última quinta-feira. Entre eles, o experiente Maurício Noriega, que estava na emissora há 21 anos e herdou do pai, o celebre narrador Luis Noriega, que morreu em 2012, a paixão pelo jornalismo. Em entrevista ao LANCE!, o jornalista afirmou que recebeu alguns sinais da demissão e desabafou sobre um "boicote" que teria sofrido por parte da atual direção do jornalismo esportivo.
- Não argumentei nada (após ser comunicado). Já estava esperando que isso fosse acontecer. Essa semana já me deram uma pista de que eu seria demitido. Porque todo mundo tinha escala e eu não tinha. Para mim, só aparecia folga, folga, folga (todos os dias). Comecei a perceber alguns movimentos. Já estava preparado quando me chamaram para a reunião, e eu já sabia - disse, logo no inicio do papo.
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Noriega detalhou o papo que teve com a chefia e afirmou que a condução das demissões deixou um clima de tensão na redação da empresa.
- Falaram: 'ah, não tenho nada contra você, você sempre entregou, sempre foi um cara top, fez a final do Campeonato Paulista". Mas eu sou um cara muito direto, não gosto desse tipo de coisa, sei que é protocolar. Falei que vida que segue, estão mandando embora porque querem. Tem gente que ganha mais do que eu e vai continuar. Não é só (decisão) financeira. Eu penso que é o direito da empresa. Ela manda embora quem quiser e contrata quem quiser. Estava todo mundo tenso, o que é natural, com ondas e ondas de demissão.
- Foi essa semana especificamente (que os sinais começaram), depois que aconteceu a final do Paulista eles não me escalaram pra mais nada. E as pessoas recebiam as escalas e comentavam. E saiu a primeira rodada do Campeonato Brasileiro e eu não estava escalado. Ai já vi que eu estava fora - completou.
"SAIO TRISTE. ME SINTO ALIVIADO"
Noriega entrou no SporTV como freelancer em 2001 e recebeu uma oportunidade para se tornar comentarista no ano seguinte. Na empresa, ele foi chefe de reportagem em São Paulo, e participou como apresentador ou comentarista de todos os programas da emissora. O jornalista celebrou a "época de ouro" que teve na empresa, mas disse que sai triste com o desprestígio vivido nos últimos anos.
- Eu tenho um carinho enorme e sou muito grato ao SporTV. Eu nunca trabalhei na Globo, só para a Globo. Fiz coisas pontuais. Eu sou um cara do SporTV. Nos últimos anos eu estava triste. Eu me sinto aliviado, porque não é legal trabalhar desse jeito. Nunca deixei de entregar, sempre dei meu melhor, mas mudaram muitas coisas. Eu estava triste e sei que tem gente muito triste lá - disse.
"AS COISAS MUDARAM MUITO PARA PIOR"
Noriega classifica a mudança na direção da Globo como um divisor de águas em sua trajetória dentro da empresa e apontou uma possível questão pessoal envolvendo ele e os novos gestores.
- Depois que mudou a direção em 2019 eu percebi que houve uma mudança em relação a mim, especificamente, a minha pessoa, em termos de escala. E não estava feliz. Estava triste. Eu tenho saúde, tempo, experiência e credibilidade para ser feliz trabalhando. Se você constrói uma carreira com credibilidade como eu construí ninguém tira isso de você - afirmou.
Questionado sobre o tema, Noriega diz que a mudança de percepção do seu trabalho passa mais por uma questão de gosto pessoal do que profissional
- É o jeito da direção fazer a gestão das pessoas, cada um trabalha de um jeito. Estávamos acostumado com um trabalho e tem um grupo que trabalha de outro jeito. A partir da mudança na direção, as coisas mudaram muito para pior e eu estava muito triste. As mudanças como Copa do Mundo não foram justas com meu trabalho. Se eu tivesse trabalhando mal, não diria nada. Mas nunca trabalhei tão bem como comentarista como nessa Copa do Mundo. Em outras Copas eu fiz a final. Então se eu evolui, melhorei e fiquei de fora, então é uma coisa que foge a avaliação do meu trabalho. E é direito do chefe fazer o que ele quiser.
"FALARAM QUE ERA SACANAGEM O QUE FIZERAM COMIGO"
Parte do desprestígio aconteceu durante a Copa do Mundo do Qatar em 2022. Acostumado a estar entre os principais nomes do canal em grandes transmissões, o jornalista ficou de fora da viagem para o país sede do mundial. Ele conta que recebeu apoio de nomes de dentro e fora da emissora, que não entenderam a ausência de seu nome na lista.
- Uma coisa que me chateou muito, muito mesmo, foi não ter ido para a Copa do Mundo. Isso foi um sinal que minha passagem estava chegando ao fim. Recebi mensagens até de pessoas que estavam na Copa e falaram que era sacanagem o que fizeram comigo. Foi a coisa que mais me chateou. Eu vinha de uma final de Copa em 2018. Estava fazendo todos os eventos, grandes decisões. Fui apresentador na Olímpiada. Muitas Copas Américas, Eurocopa. E de repente você fica de fora de um evento desse e você percebe que tem alguma coisa.