Mulheres do Galo se reúnem pelo direito de ser respeitada na torcida
A Grupa surgiu em 2016, após a polêmica envolvendo o lançamento do uniforme do Atlético-MG. Hoje, elas são um conjunto unido para torcer<br>
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Um grupo de cerca de quarenta mulheres se reúne antes dos jogos. O objetivo? Torcer pelo Galo! Denominadas Grupa, as atleticanas querem trazer ainda mais o público feminino aos estádios e torná-lo um local mais inclusivo. Para fazer dar certo, as meninas se encontram antes dos jogos e vão embora juntas, já que muitas mulheres não vão aos estádios por falta de companhia. É nítido que as torcidas são reflexos da nossa sociedade, e com isso, a Grupa tem uma relação de “amor e ódio” com a torcida atleticana. Enquanto alguns torcedores, entre homens e mulheres, aprovam o movimento e respeitam a atitude, outros, acham desnecessário. Além das ações nos estádios, a Grupa promove debates acadêmicos sobre temas importantes, como machismo, racismo, homofobia e representatividade feminina no esporte.
A iniciativa das torcedoras se fez necessária após a polêmica com o clube no lançamento do uniforme de jogo em 2016. Na ocasião, mulheres desfilaram seminuas: com biquínis e lingeries. Enquanto os homens desfilaram com o uniforme.
Veja na íntegra a entrevista com a Grupa!
LANCE!: A Grupa possui quantas componentes?
Grupa: Não existe um número preciso, mas em torno de 40 mulheres.
LANCE!: Qual o nomes das criadoras?
Grupa: Podemos considerar as criadoras aquelas que assinaram a nota de repúdio: Alice Quintão Soares, Roberta de Oliveira, Nina Campos, Maysa Souza, Renata Mello, Renata Reis, Marina Rebelo, Joanna Rodrigues, Nívea Marco, Luara Ramos, Gabriela Machado, Raquel Etrusco, Mariana Pires, Livia Barbosa, Aurélia Neves, Maíra Carvalho, Elen Campos, Fernanda Campos, Flávia Ellen e Adriana Valadares. Hoje somos muitas mais! E vamos juntas.
LANCE!: Por que foi criada a Grupa? Quando?
Grupa: A Grupa foi criada não oficialmente em 15-02-2016 para repudiar o desfile machista de lançamento dos uniformes do Clube Atlético Mineiro, no qual modelos desfilaram semi-nuas. Nos juntamos e escrevemos uma nota de repúdio que alcançou bastante repercussão. Com o tempo, fomos nos tornando amigas, conhecendo mais pessoas, até que fizemos em outubro/16 um perfil “oficial” no twitter. A partir daí a Grupa ganhou novos seguidores (homens e mulheres) e também mais objetivos, porque decidimos nos organizar.
LANCE!: Qual o objetivo?
Grupa: Trazer mais mulheres para o estádio - ambiente tipicamente ocupado por homens -, e transformar este ambiente em um local mais inclusivo para se torcer.
LANCE!: Quais as ações executadas?
Grupa: Procuramos sempre nos encontrar antes de entrar em campo. Não é uma tarefa simples uma mulher sozinha subir para o estádio desacompanhada, nem ir embora dele. São frequentes os casos de meninas que deixam de ir ao estádio para torcer pois não possuem companhia. A Grupa quer quebrar isso. Além disso, participamos de ações acadêmicas e debates a respeito do tema, falando de machismo nos estádios, representatividade feminina, homofobia e racismo no esporte. Repercutimos ações e reportagens ligadas à causa que nós defendemos e pretendemos nos engajar cada vez mais.
LANCE!: Nota-se alguma mudança desde a criação?
Grupa: Trouxemos o tema do machismo e da presença das mulheres no estádios para a pauta de muitos jornais e para a discussão de muitas mesas de bar. Formamos um grupo grande e sempre presente de mulheres no estádio e sempre que aparece algo machista no mundo do futebol, muitas pessoas se lembram da gente.
LANCE!: Como a torcida atleticana reage ao Grupa?
Grupa: Com amor e ódio. Há homens e mulheres que apoiam ou que fazem parte, mas há pessoas que discordam do nosso posicionamento, acreditando principalmente ou que o feminismo não é importante, ou que temas políticos como esse não deveriam ser tratados dentro do futebol.
LANCE!: As torcidas organizadas do Galo apoiam a iniciativa?
Grupa: Da mesma maneira que existem torcedores a favor e contra. Nenhuma torcida se posicionou em seu perfil para falar sobre nós, então de forma coletiva, das torcidas organizadas, não encontramos expressamente apoio ou rejeição.
LANCE!: Vocês se sentiriam mais seguras caso houvesse uma torcida exclusivamente feminina do Galo?
Grupa: Não acreditamos que haja necessidade, mesmo porque as situações de maior assédio acontecem entre o ir e vir, raramente dentro de campo. Nossa segurança é ligada à uma compreensão da sociedade como um todo que não se deve assediar nenhuma mulher em nenhum contexto, seja indo a campo ou no carnaval, por exemplo.
LANCE!: A diretoria do clube tem noção da existência desse coletivo?
Grupa: A diretoria do clube, na época do desfile, foi questionada pela imprensa e chegaram a se posicionar dizendo que não havia nenhuma polêmica, “mas eram as pessoas que a estavam criando”. Na época tentamos dialogar com a diretoria, que jamais abriu as portas.
LANCE!: Lugar de Mulher é…?
Grupa: Onde ela quiser, inclusive nos estádios.
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