Presidente do Palmeiras e da Crefisa, Leila Pereira falou sobre os desafios de ser uma empresária mulher no cenário do futebol brasileiro. Em entrevista ao Jornal 'O Globo', Leila fez revelações sobre a sua vida pessoal e sobre o machismo que enfrenta por 'ter a caneta' que decide no clube.
Criada na cidade de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, Leila conta que teve que superar as barreiras impostas pela família para seguir o seu próprio caminho:
- Meu pai, já falecido, era médico. Assim como meus dois irmãos. E sim, meu pai queria que eu fosse dona de casa. E digo isso pelas atitudes. Ele nunca virou para mim e disse que queria isso. Ele sempre se preocupou muito com a formação dos meus irmãos. Meu pai direcionou a carreira deles. Mas a minha, não. Nunca me disse que precisava ser médica nem fazer faculdade... Sempre trilhei meu caminho. Hoje penso que ele não achava importante a mulher se destacar, se aprimorar. Acho que pensava que não precisava se preocupar porque ele estaria sempre ao meu lado, me sustentando. Sempre quis trabalhar, ser independente - relatou Leila.
Aos 57 anos, Leila Pereira desde de 2015 é a principal patrocinadora do Palmeiras. A bilionária iniciou sua trajetória no clube paulista como patrocinadora máster, apenas para alegrar o marido José Roberto Lamacchia, palmeirense, que se recuperava de um câncer.
- A gente estava numa situação extremamente privilegiada e nos perguntamos por que não poderíamos ajudar o clube que gostamos tanto? Liguei no SAC, no call center... não tinha o contato do Palmeiras e acharam que era trote. Eu era uma torcedora. Em momento algum, pensei em retorno financeiro. Entrei única e exclusivamente porque eu e meu marido queríamos colaborar. Não houve planejamento de negócio. Quando anunciamos o patrocínio, me ligaram da Crefisa perguntando o que estava acontecendo. Porque no momento que divulgamos a parceria, nosso servidor não suportou a quantidade de acessos... Foi aí que pensei que o tiro tinha sido certeiro - afirma Leila.
Presidência do Palmeiras e machismo
Neste ano, com o título da Recopa Sul-Americana, Leila se tornou a primeira presidente mulher campeã internacional na América do Sul. Ela relata como tem sido enfrentar as críticas e preconceitos pelo fato de ser uma mulher a frente do clube:
- Eu não sentia tanto isso quando eu era conselheira e patrocinadora. Mas hoje como sou presidente do Palmeiras, muitas das críticas que eu tenho recebido, ultimamente, eu acho que tem um viés de preconceito por eu ser mulher. Como o futebol é um meio muito masculino, as pessoas se sentem incomodadas por uma mulher que está se sobressaindo tanto. São críticas muito ridículas. Primeiro, é pesadíssimo com relação a contratação de jogadores. O Palmeiras tem tido uma trajetória extremamente vitoriosa. Eu acho que eles se sentem incomodados com uma mulher com tanto poder dentro do Palmeiras. Eu aceito as críticas e sugestões, mas a decisão é minha. Acho que aí é que entra o preconceito. Como pode uma mulher bater firme e dizer: "eu respeito a sua opinião, mas a caneta é minha?” - conta a presidente.
Mesmo depois de todos os anos de parcerias e conquistas, Leila Pereira se vê sendo desafiada a todo momento sobre a sua competência e capacidade:
- Não, porque não perco tempo com isso. Eu sou uma mulher extremamente objetiva e obstinada. Eu sei exatamente o que eu quero e onde eu quero chegar. No dia que eu decidi ser patrocinadora do Palmeiras, no meu trajeto, eu fui pensando comigo: “Eu vou patrocinar o Palmeiras”. Eu sabia o que queria. Quando eu tive a ideia de ser conselheira do Palmeiras, eu falei: “vou ser conselheira do Palmeiras”. Eu fui com tudo. Eu não sou uma mulher, eu sou um trator. Eu vou passando por cima, não quero saber. Eu ouço as pessoas, eu tenho jogo de cintura, mas eu vou em frente contra tudo e contra todos - complementa Leila.