Em reunião realizada em Florianópolis (SC), 13 dos 20 clubes que disputam a Série B do Campeonato Brasileiro decidiram que devem se juntar à Libra, nova Liga Brasileira de Clubes, apesar de ainda estarem insatisfeitos com alguns pontos fixados pelos fundadores (os paulistas da Série A mais o Flamengo) no estatuto, principalmente no referente ao poder de decisão em futuras eleições para a associação.
Ponte Preta e Cruzeiro são atualmente as únicas duas agremiações da segunda divisão que já assinaram a filiação. Nenhum dos grandes que atualmente está na Segundona (Vasco, Cruzeiro, Bahia, Grêmio e Sport) participou do encontro, que oficialmente serviu para tratar da negociação dos direitos de televisão da competição para os próximos dois anos.
O LANCE! apurou que o grupo concordou com a regulamentação de repasse entre 15% e 20% das rendas angariadas para a segunda divisão (a presença dos chamados times grandes na competição influencia na porcentagem), mas devem utilizar o encontro agendado para a próxima quinta-feira (12), na sede da CBF, no Rio de Janeiro (RJ), para cobrar um poder de decisão maior.
Isso porque pelo estatuto da Libra, os clubes da Série A tem voto de peso dois nas eleições que acontecerão.
A decisão foi passada ao grupo Futebol Forte, que une os chamados emergentes da primeira divisão (América-MG, Atlético-GO, Athletico, Avaí, Ceará, Coritiba, Cuiabá, Fortaleza, Goiás e Juventude), mais o Atlético-MG, em encontro virtual dos dirigentes realizado na tarde desta sexta-feira (6)
Inicialmente, os clubes da Série B queriam o repasse de pelo menos 25% das receitas da Libra para a Segundona, mas a reivindicação perdeu força com o não alinhamento dos grandes que estão na competição. Vasco e Bahia aguardam suas SAFs para assinarem a adesão à Liga. Grêmio e Sport estão indiferentes à questão e também devem entrar. Além disso, os demais paulistas do torneio (Guarani, Ituano e Novorizontino) estão alinhados aos grandes do Estado e se juntarão à Ponte.
ENTENDA
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- Há um entendimento que se pelo menos não obtivermos vitória financeira, que seja política - disse ao L! um dirigente que prefere não se identificar.
No encontro virtual desta tarde, clubes da Série B, Futebol Forte, moderadores e o Fluminense, que pela primeira vez se alinhou com Internacional e Botafogo, fecharam questão na entrega, mais uma vez, do documento com suas reivindicações aos fundadores para que o assunto seja debatido na quinta. Há um consenso de que os paulistas e o Flamengo sequer leram o documento antes de formularem o estatuto, apresentado na última terça-feira (3), em São Paulo (SP).
Em nota oficial depois da reunião, o Fluminense pediu uma distribuição melhor das receitas, alegando que "não é aceitável que haja clubes ganhando 6 vezes mais do que outros, enquanto nas melhores ligas do mundo essa diferença não ultrapassa 3,5 vezes". Outro ponto que o Tricolor pede um aprimoramento é a "adoção de premissas que não privilegiem pilares de difícil aferição, em especial ao que tange a engajamento".
Nos bastidores, contudo, dirigentes avaliam que a Libra deve conseguir na quinta as 13 assinaturas necessárias (um terço do total das séries A e B) para formalizarem de vez a criação da Liga.
Leia a nota oficial do Fluminense na íntegra:
A maioria dos clubes de futebol integrantes das séries A e B do Campeonato Brasileiro segue em seu esforço pela criação da Liga de Clubes e, com esse objetivo, se reuniu na tarde desta sexta-feira para discutir os critérios que nortearão, em bases sustentáveis e justas, o equilíbrio de forças no futuro.
Entre os assuntos debatidos, o mais relevante foi a divisão de receitas de forma que contribua de fato para o aprimoramento da competição, tornando menos desiguais as condições de competitividade atuais.
Os termos aceitos em São Paulo por outros 6 clubes perpetuam o abismo que existe hoje, ao manterem a parte igualitária das receitas em 40%, enquanto nos campeonatos mais bem sucedidos este percentual pode chegar a 68% somando todos os direitos domésticos, internacionais e de marketing, caso da Premier League, por exemplo.
Não é aceitável que haja clubes ganhando 6 vezes mais do que outros, enquanto nas melhores Ligas do mundo essa diferença não ultrapassa 3,5 vezes.
Outro ponto a ser aprimorado é a adoção de premissas que não privilegiem pilares de difícil aferição, em especial ao que tange a engajamento. Tais critérios, na visão da maioria dos clubes que participaram da reunião, apenas perpetuam a posição de superioridade de alguns sobre outros, não dando a oportunidade de maior equilíbrio dos campeonatos.
A criação da Liga entre os 40 clubes será a oportunidade de se mudar efetivamente o futebol brasileiro e esse objetivo não pode se subordinar a interesses individuais de alguns, petrificados há décadas na superioridade de recursos. Sabemos que não seria justo buscar igualdade total de receitas, mas sim equanimidade e melhor distribuição.
O futebol brasileiro não avançará sem que haja um consenso entre os 40 clubes das séries A e B de que a justa distribuição de receitas gerará maiores oportunidades na disputa.