A internet inverteu a lógica das transmissões esportivas do Brasil e do mundo antes dominada pela Globo e por seus produtos SporTV e Premiere. Ciente desse futuro, o Grupo Globo migrou para o digital, tendo seus direitos disponibilizados no streaming, o que não impediu a saída de conteúdos que migraram para outras plataformas.
Com o nicho do futebol cada vez mais disputado por grandes empresas como Star+, da Disney/ESPN, e HBO Max, da Warner/TNT, além da própria Globo com o Premiere/SporTV, uma empresa viu nos esportes olímpicos uma oportunidade de mercado com um público bem fiel.
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Fundada pelo ex-Globo Guilherme Figueiredo, a NSports se destacou com a criação de canais oficiais de entidades esportivas em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB). A empresa possui 18 canais dos mais variados esportes e conta com oito confederações desportivas, cinco federações e associações, quatro ligas e três clubes do futebol nacional.
- Eu trabalhei três anos no Grupo Globo. Negociava muito com clubes, arena e direitos de licenciamento de vários produtos. Em 2018, montamos a NSports, que basicamente é uma plataforma de streaming de transmissão de eventos esportivos ao vivo. Só que existe um diferencial que acabou nos fazendo crescer: criar um canal individual de cada uma das entidades esportivas. A gente trabalha muito mais nesse nicho do que na compra efetiva de direitos - pontua o CEO da empresa.
- Acreditamos que vários nichos pequenos se transformem em nichos grandes. Nós já temos 1 milhão e 300 mil pessoas cadastradas na plataforma. A maior parte do nosso conteúdo é gratuita - disse.
A empresa já transmitiu mais de 3000 eventos, 1200 só em 2021, com mais de 1,3 milhão de espectadores cadastrados e estima que atingiu mais de 54 milhões de pessoas apenas no ano de 2021, tendo o esporte olímpico como principal produto, entre eles os torneios de futsal do país e a Superliga de Vôlei (masculina e feminina).
- Já transmitimos o Troféu Brasil de Atletismo, Troféu Brasil de Natação, Pan Americano de Ginástica Trampolim, Sul-Americano de Remo, Campeonato Brasileiro de Badminton, Tênis de Mesa. No Mundial Sub-20 de Handball, compramos os direitos e transmitimos com exclusividade. No Mundial de Boxe agora, a gente transmitiu. Nós vamos buscando direitos que estejam disponíveis - destacou.
Guilherme ainda abordou, em bate-papo com o LANCE!, outros pontos que envolvem o streaming no Brasil, como a diferença para o mercado americano, expectativa de crescimento com um público mais jovem e a forma de faturamento nesse ramo.
Qual é o público da TV a cabo e qual é o do streaming?
- O público é muito distinto. Nosso púbico hoje na NSports é 74% abaixo de 44 anos. Se for pegar qualquer recorte de TV à cabo, vai ser o oposto disso. Vai ser 70% com mais de 40 anos.
Com o público mais jovem, vocês tentam aplicar uma transmissão mais informal?
- Sim. Nesse ano, fizemos as finais da Superliga de Vôlei com streamer do Gaulês. Então, a gente vai buscando um público e um formato diferente de interação. É possível fazer esse tipo de customização quando você domina a produção inteira.
Então o streaming tem uma tendência a crescer com o passar do tempo?
- Provavelmente sim, por causa do público mais jovem. Primeiro, por causa do hábito. A pandemia acabou acelerando o hábito. Em dez meses, avançou dez anos. Lives de sertanejo no Youtube, jogos de futebol ao vivo e sem público nos estádios, então aquele momento acabou alavancando a experiência digital nos fãs de esporte. É natural que isso seja ainda mais evidente no público mais jovem. Hoje, 69% da nossa audiência é no celular.
O que te motivou a entrar nesse mercado?
- Eu saí em 2017 da Globo. Fiquei uns seis meses estudando o marketing digital e o cenário do streaming nos Estados Unidos. A partir disso, eu desenvolvi a ideia da NSports. Começamos um trabalho de startup e fazer investimento de equipamento, equipe e desenvolvimento de empresa. Com a chegada da pandemia, a gente quase quebrou. Porém, a gente acabou saindo muito mais forte.
Você diz que analisou o mercado dos Estados Unidos. Então qual a diferença do mercado de lá para o brasileiro?
- O usuário americano está mais acostumado a comprar nas mais diversas plataformas. Uma parte que acaba impactando é a questão da pirataria. O brasileiro tem uma flexibilidade para leves delitos e acaba que a pirataria não é vista como algo quer traga prejuízo. Isso destrói muito o valor da propriedade.
Como vocês conseguem tornar o streaming lucrativo?
- As nossas principais linhas de receita são quatro: pay-per-view, publicidade, venda de direitos e serviços de produção. Então, basicamente, com essas quatro linhas de receita, a gente consegue arcar com tudo.
Qual é o alcance de modalidades que o streaming pode dar ao público?
- A gente tem o conceito de ter transmissões de várias modalidades diferentes. O canal Olímpico é o exemplo mais claro disso. Chegamos a transmitir 32 modalidades diferentes. O conceito sempre foi democratizar as transmissões esportivas e dar visibilidade para aquelas modalidades que não tenham transmissão. Acreditamos que vários nichos pequenos se transformem em nichos grandes. Nós já temos 1 milhão e 300 mil pessoas cadastradas na plataforma. A maior parte do nosso conteúdo é gratuita.