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Roberto Jardim
Porto Alegre (RS)
Dia 18/03/2025
08:00
Atualizado há 8 minutos
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O Internacional está às vésperas de completar 116 anos. E na sua história apenas seis negros comandaram o clube, dos quais quatro levantaram taças. A conquista do Campeonato Gaúcho faz com o título de Roger Machado dê visibilidade aos técnicos pretos. O próprio comandante colorado disse acreditar nisso após levar para a casa a faixa do Estadual no empate em 1 a 1 com o Grêmio no domingo (16), no estádio Beira-Rio.

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Questionado se o título quebrava o silêncio do preconceito em torno dos treinadores afrodescendentes, Roger foi taxativo:

– Não sei se quebra esse silêncio, mas bota luz e visibilidade, né? Nesse lugar que nós ocupamos, a gente sabe, que vamos precisar fazer mais para sermos reconhecidos. Mas isso também nos dá força, dá desejo de preparação muito maior.

O comandante colorado acrescentou:

– Sempre soube que eu teria que ser muito melhor do que um treinador branco para ser reconhecido. Isso me fez buscar muitas ferramentas, Então, isso me fez trabalhar diuturnamente, sem ranço, sem o pseudovitimismo que nos acusam, mas sabendo que a estrada é muito mais tortuosa para nós.

Ainda tocou no assunto ao comentar o rótulo que sempre lhe foi dado pela imprensa gaúcha e que seu trabalho teria “prazo de validade”:

– Cem por cento do vestiário para dentro nunca tiveram essa opinião relacionada ao meu trabalho. Esse rótulo vem do ambiente externo. Posso entrar novamente nessa questão aí (racismo no futebol)… Homem negro e inteligente não serve pra gerir. Nossa capacidade foi só física do campo. Esse tipo de rótulo eu sei de onde vem.

Quem são os outros técnicos negros do Inter

Para lembrar, em seus 116 anos, o Internacional teve 113 técnicos. Somente seis negros: Simão, Índio, Teté, Valmir Louruz, Joel Santana e, agora, Roger Machado. Desses, apenas os três primeiros e o atual levantaram taças. Para comparar o colorado teve o dobro de estrangeiros na casamata.

No Brasil, também são poucos treinadores pretos ao longo da história. Entre eles se destacam Waldir Pereira. Mais conhecido como Didi, o craque da folha seca levantou taças por onde passou – Sporting Cristal-PER, Fernebahçe-TUR, Fluminense, Cruzeiro, Al-Ali, Fortaleza, Atlético-MG e São Paulo, com o qual conquistou o Brasileirão de 1986. Valmir Louruz, que não teve êxito no Colorado, levou o Juventude a maior façanha da história: a Copa do Brasil de 1999.

Didi foi campeão por onde passou. Foto: Reprodução

E Luxemburgo e Roth?

Dois nomes que poderiam fazer parte das duas listas, dos nacionais e dos alvirrubros, são normalmente deixados de fora: Wanderley Luxemburgo e Celso Roth, respectivamente. Marcelo Carvalho, diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol explica:

– Eles deveriam ser considerados, mas nunca ouvi deles declarações nesse sentido [de se considerarem negros].

Carvalho também comenta sobre Roger Machado:

– Roger Machado tem muita relevância para a população negra, porque ele é um espelho. Um homem negro estando em espaço de gestão e poder é importante demais para que as futuras gerações se imaginem nesse lugar. E ele vai além desse lugar, por falar como pessoa negra. E ele ser um vencedor transforma isso muito maior porque não é apenas uma figura negra que está nesse lugar. É uma figura negra vencedora, sendo uma pessoa consciente, combatente.

O diretor do Observatório ainda acrescenta:

– Isso faz com que a gente, cada vez mais, negros e não negros, tenhamos força luta antirracista. É muito importante para quem não é negro entender o que ele fala.

Marcelo Carvalho diretor do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Foto: Reprodução
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