‘A história do Vasco era para ser estudada na escola’, diz historiador
Cruz-Maltino completa 122 anos de fundação e o historiador Luis Antônio Simas foi convidado do 'Redação SporTV' para falar da história do clube
Líder do Brasileirão, melhor ataque, melhor defesa, dois jogadores (Cano e Bastos) entre os artilheiros do campeonato... Todos esses são bons motivos para comemorar, mas o torcedor do Vasco tem um a mais nesta sexta-feira. isso porque o Vasco da Gama completa 122 anos de fundação e o historiador Luis Antônio Sima foi convidado do 'Redação SporTV' para falar da história do clube.
Simas afirmou que o debate sobre o racismo estrutural e o combate a ele permeiam a história do clube.
- O vasco talvez tenha uma das histórias mais lindas do futebol brasileiro e uma história que deveria ser estudada em escola, em colégio. Se a gente discute hoje questões vinculadas ao racismo estrutural, (deveríamos estudar a) história do Vasco da Gama como a gente estuda a Proclamação da República, a Abolição da Escravidão. Tinha que estudar a história do Vasco, o título (estadual) de 1923, porque é a grande história do futebol brasileiro - afirmou.
O historiador concluiu que a história do Vasco e do combate ao racismo faz com que o clube seja um patrimônio do Rio, do Brasil e do mundo.
- Vasco é um patrimônio do Rio de Janeiro, do Brasil e nessa circunstância toda, o Vasco é patrimônio da cultura do mundo. (...) Parabéns ao Vasco, a essa história maravilhosa. Se as crianças brasileiras aprendessem em aulas de história a história do Vasco da Gama eu acho que a gente iria estar em uma situação melhor. O Vasco tem que ser ensinado.
LUTA CONTRA O RACISMO
A institucionalização do futebol no Vasco aconteceu em 26 de novembro de 1915. Desde o início, o clube adotava uma política de seleção de jogadores sem racismo e preconceito de condição social, um diferencial naquela época. Assim, vai crescendo ano a ano, junto com sua torcida, muitos membros da colônia portuguesa e das camadas populares, que se identificavam.
A equipe consegue o acesso para a primeira divisão da Liga Metropolitana, elite do futebol carioca, em 1923. Logo na sua primeira participação, o Cruz-Maltino foi campeão com um time que ficou conhecido como 'Os Camisas Negras'. Um feito histórico com uma campanha avassaladora de 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota.
O fato de uma equipe com jogadores negros e brancos de baixa condição social ser campeã de forma tão categórica revoltou os clubes que tinham o controle da Liga Metropolitana. Tentaram tirar 'Os Camisas Negras' da disputa alegando que eles eram profissionais. Na época, o futebol era amador e os jogadores não podiam receber salários para praticarem o esporte.
Depois de investigarem e não conseguirem retirar o Vasco, ocorreu uma cisão no futebol carioca. Flamengo, Fluminense, Botafogo, América e o Bangu fundaram uma nova liga no início de 1924, a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (Amea), que se estabeleceu como a principal da cidade por conta do seu poderio econômico e político.
O Vasco recebeu um convite da nova liga, que iria aceitá-lo mediante algumas condições. Uma delas era a exclusão de 12 jogadores do clube, todos negros e operários, alegando que exerciam profissões duvidosas, e outra era que o clube precisava de um campo em boas condições para receber os jogos.
O Cruz-Maltino recusou de forma clara a proposta da Amea em carta assinada por José Augusto Prestes, então presidente vascaíno, conhecida como ‘Resposta Histórica’. Nela, o clube defende seus jogadores e desiste de fazer parte da nova liga. Então, o Vasco volta para a Liga Metropolitana e ganha o título daquele ano invicto.
Em 1924 já havia debates no Vasco para a construção de um próprio estádio por conta do título no ano anterior e a vontade só crescia. Isso daria mais autonomia ao clube e aumentaria os lucros com o gerenciamento da sua própria arena, e ainda deixaria de pagar caro em aluguéis de palcos para mandar suas partidas.
Esse desejo foi impulsionado pelas atitudes preconceituosas dos rivais e suas tentativas de enfraquecer o Cruz-Maltino, que decidiu dar uma resposta de sua força e luta contra o que achava errado: iria fazer a sua casa.