Maior ídolo do Flamengo e um dos principais jogadores da história do futebol mundial, Zico segue acompanhando do outro lado do mundo o momento atual do seu clube de coração. A cada nova taça levantada pelo Rubro-Negro, mais comparações surgem entre o atual elenco e a geração de ouro do início dos anos 80. A fase 'outro patamar', proclamada e eternizada por Bruno Henrique, também é desfrutada pelo Galinho de Quintino, que se define como mais um torcedor feliz da vida com Jorge Jesus e seus comandados.
No Brasil após a paralisação da primeira divisão nacional do Japão (J-League) devido à disseminação do coronavírus no país, Zico, diretor de futebol do Kashima Antlers (JAP), concedeu entrevista ao LANCE! para falar não só sobre Flamengo, mas também comentar sobre o momento vivido pela Seleção Brasileira, explicar a situação no Japão e sua expectativa com a chegada de Honda ao Botafogo.
Sobre o momento do Rubro-Negro, o eterno camisa 10 da Gávea não escondeu sua alegria, mas aproveitou lembrar a 'vantagem' em termos de competições que Jorge Jesus e seus comandados tem em relação a sua geração.
- Eles não podem contar recordes de coisas que a gente não disputava, né? Bota aí que não tínhamos Recopa, Copa do Brasil, Supercopa. Não tinha nada disso na época. Mas se tivesse eu acho que a gente ganharia (risos). Mas eu fico feliz da vida com esse momento do clube. Sempre digo que o maior patrimônio do Flamengo é a torcida. E eu me incluo entre eles. Eu quero mais é que eles sigam neste momento e que eu possa ver o torcedor feliz -, afirmou.
Se os elogios sobram em relação ao clube carioca, o quadro acaba alterado quando o assunto é Seleção Brasileira. Quinto maior artilheiro e com três Copas no currículo (78, 82 e 86) pelo Brasil, Zico demonstrou incomodo com a forma atual dos comandados de Tite. Segundo o Galinho, falta um 'algo a mais' dentro de campo.
- É um momento complicado. Não pela forma de jogar ou pelos jogadores. Pela maneira que percebi o espírito da Seleção. Parecia que os caras estavam lá para cumprir compromisso e não que estavam defendendo o Brasil, a camisa da Seleção Brasileira. Eu sempre encarei qualquer tipo de jogo com essa camisa com uma vontade, uma gana, uma alegria de poder estar representando o país. Eu senti a ausência disso, essa falta de vibração, desse espírito. Está faltando um pouco mais de audácia, um algo a mais, um futebol diferente. Acredito que ele precisa mudar mais o sistema. O atual não cabe mais na Seleção -, disse.
Análise e críticas sobre a convocação da Seleção
Zico questionou algumas escolhas de Tite em questão das convocações que tem feito e suas escolhas táticas, afirmando que o treinador utiliza alguns jogadores fora de posição e que isso compromete seus rendimentos, relembrando até uma história do ex-lateral-direito Leandro e do ex-treinador Telê Santana.
- A única coisa que eu bato em relação à Seleção é a questão da utilização de alguns jogadores fora de posição. Um exemplo é o Neymar. Ele passa o ano todo jogando aberto ... quando chega na Seleção ele vai jogar pelo meio? O próprio Daniel Alves. Por mais que ele tenha jogado anos pela lateral-direita, agora ele atua como meia. Esta situação me lembra um pouco o Leandro com o Telê. Na época (convocação para a Copa de 86), o Telê queria que ele atuasse como lateral, mas o cara já estava jogando como zagueiro e não aguentava mais fazer a função de lateral. Ele sabia que não conseguiria fazer o que o técnico queria -, contou.
Outra crítica do 'Galinho de Quintino' foi pelo critério de convocação. Segundo ele, os jogadores tinham que ser chamados para vestir a Amarelinha por conta de seus momentos em seus clubes, e não pelo nome que construíram ao longo de suas carreiras.
- O jogador vai para a Seleção pelo o que ele está jogando no clube. Então se ele estava jogando no clube de uma forma e chega na Seleção devido a essa forma, por que na Seleção ele atua em outra posição? Por exemplo, não adianta você levar oito jogadores do Flamengo e colocá-los em uma posição na qual eles não jogam na temporada. Para mim, Seleção Brasileira é o momento. Você vai pegar um cara que está mal, na reserva de um clube, só porque ele tem nome? -, criticou.
Coronavírus
A vinda ao Brasil não foi opcional. Trabalhando no Japão, Zico retornou ao Brasil por conta do surto da doença no país asiático há alguns meses. O ex-jogador explicou sobre a rotina do Japão e da sociedade japonesa em relação a epidemia, afirmando que o país já tomava precauções diárias antes mesmo do surto do coronavírus.
- Lá no Japão todas as medidas preventivas que precisam ser tomadas em relação a esse vírus foram realizadas. Eles já faziam isso antes mesmo da epidemia. Claro que a situação atual demanda maior cuidado. Hoje você observa mais pessoas de máscaras nas lojas, em hotéis, álcool para desinfetar. Mas isso é usual lá, uma questão cultural. Mesmo que seja uma simples gripe, as pessoas lá já seguem estes passos. Ainda assim, reuniram as entidades que decidiram cancelar eventos com grandes aglomerações. Cancelaram tudo. O campeonato japonês está parado. Há uma expectativa que só volte em abril. Os adversários não querem jogar no Japão na Data Fifa. As pessoas precisam entender a gravidade da situação -, confessou.
Keisuke Honda no Botafogo
O camisa 10 do Flamengo analisou a chegada do meia Keisuke Honda ao Botafogo e contou uma história curiosa sobre o atleta na época em que era treinador da seleção do Japão.
- O Honda foi um caso muito interessante. Na época em que eu estava na seleção nacional tinham muitos treinadores brasileiros comandando os times japoneses. Eu sempre ia acompanhar os jogos e conversava com eles para saber mais informações sobre os jogadores. Então eu fui até o Nagoya, na época comandado pelo Nelsinho (Baptista), para saber se tinha alguém que poderia ser opção no Japão. Ele disse que não tinha no momento, mas que estava lançando um garoto aos poucos, que era Honda, na época com 17 anos, porém que ainda precisava passar por algumas etapas -, afirmou.
Zico também conta que o seu caminho quase cruzou com o de Honda na Rússia. Quando comandava o CSKA Moscou, o presidente do clube chegou a lhe consultar sobre a contratação do meia japonês, o que acabou ocorrendo posteriormente, mas não como o Galinho imaginava.
- Após um tempo ele foi para a Holanda e eu segui para o CSKA. No meio da temporada o presidente do clube veio falar sobre o Honda, se eu teria interesse em trazê-lo. Eu falei para trazer o quanto antes, que era um ótimo jogador e o qual já conhecia. Um mês depois o presidente me demitiu e acabou contratando ele um pouco depois da minha saída. Ele acabou fazendo história por lá -, lembrou Zico, que ainda elogiou as características e o profissionalismo de Honda.
- É um tremendo jogador, mas que precisa de ritmo, precisa jogar. Irei torcer muito para que ele tenha sucesso. Sempre se mostrou um bom profissional, assim como a maioria dos japoneses -, finalizou.