A NFL precisa de ídolos brasileiros para popularizar ainda mais o futebol americano

O aumento do público que acompanha futebol americano no Brasil cresce a cada ano, mas ainda podemos ter um ‘boom’

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Como seria o Brasil sem os ídolos do esporte? Sem Ayrton Senna na Fórmula 1, sem Oscar Schmidt e Hortência no basquete, sem Maria Lenk na natação, sem Maria Esther Bueno e Guga no Tênis, sem Fabiana Murer e Maurren Maggi no atletismo, sem Rafaela Silva no Judô, sem Pelé, Marta, Neymar e tantos outros no futebol? E como seria a paixão por cada um desses esportes em nosso país sem todos esses personagens? Não seria.

Na verdade, poderia até ser. Mas talvez não teríamos popularizado tanto os esportes que hoje são de interesse nacional se não tivesse a paixão pelos ídolos, que sempre tivemos, atravessando a história do Brasil. E na NFL não é diferente. O país precisa de um ídolo por lá.

É claro que a popularização de um esporte como o futebol americano não se dá apenas pela coleção de ídolos disputando dentro e fora da imensidão que é o nosso país. Diferente do basquete, que pode ser jogado em qualquer lugar e tem diversas quadras espalhadas por todo o Brasil, mesmo que híbridas - em qualquer lugar mesmo. É só amassar um papel e jogar em uma lata que eu me sinto o LeBron - o futebol americano é menos acessível para o público em geral. Precisa-se de equipamentos, treinos para entender a técnica e não dar um tackle errado e mais de uma pessoa jogando.

O fato de não ser um esporte altamente praticado influencia, mas não é o fator principal. Atualmente, o Brasil conta com 33 milhões de fãs declarados da NFL, segundo o último estudo da Ibope Media. Desse montante, 15 mil são atletas, espalhados em mais de 300 times no país, de acordo com a Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA). Ou seja, a popularização vem em uma crescente independente da prática da modalidade. E aí eu volto a te perguntar: e se tivéssemos um ídolo?

Um ídolo brasileiro em um esporte aparentemente distante faz com que o público se sinta parte da modalidade e comece a acompanhar e torcer, mesmo que por alguns minutos. E o brasileiro acolhe e compra a briga de quem é dos seus, mesmo que seja em uma partida de pebolim. Atualmente, temos o Cairo Santos que é um ícone brasileiro na NFL. E ele vem, aos poucos, conquistando esse status de ídolo.

Na liga desde 2014, o público brasileiro acompanhou o ‘Cairão’ desde o início de sua carreira. Sofreu com suas lesões, ficou triste - e bravo. Eu disse que compramos a briga - com os cortes realizados pelas franquias e comemorou junto ao Kicker o contrato milionário recente que ele assinou com o Chicago Bears após uma temporada fantástica pela equipe. Mas precisamos de mais. E quando digo mais, não é que o Cairo não seja suficiente. Ele vem melhorando a cada dia e sendo cada vez mais uma máquina na posição, dando orgulho. Mas sim, mais visibilidade.

Diferente de um jogador de Special Team como o Cairo Santos, um atleta de ataque ou defesa fica mais tempo em campo e tem, claramente, mais chances de se tornar um ídolo. Vide o Hall da Fama da NFL que tem, atualmente, apenas 4 Kickers com o colete dourado: Morten Andersen, que jogou por 25 temporadas na liga e, em sua maioria, nos Saints, aposentando em 2007; Jan Stenerud, que chegou nos Chiefs antes da criação da NFL como ela é hoje também atuou nos Packers, George Blanda, que jogou por 26 temporadas que passou por Raiders, Oilers e Bears e o gigante Lou Groza, que atuou por 21 temporadas e hoje dá o nome do troféu de melhor Kicker do College Football (que Cairo ganhou, inclusive).

Recentemente, o Brasil teve a oportunidade de ver Durval Queiroz na NFL. Um jogador que atuava no Brasil como Defensive Lineman, conquistou seu espaço no International Player Pathway e chegou ao Miami Dolphins como Offensive Lineman. Mas como um ídolo se faz dentro e fora dos gramados, o brasileiro se esforçou dentro deles e até teve momentos em que brilhou, mas fora não deixou de se envolver em polêmicas. Com isso, conquistou a simpatia e antipatia do público que acompanha a liga. Não furou a bolha e, na verdade, não sei nem se ele gostaria disso. Ser ídolo é opcional.

Não consigo te cravar quando teremos um ídolo brasileiro na NFL. Existe muita expectativa em cima do Quarterback Davi Belfort, filho do campeão Vitor e da também celebridade Joana Prado. O QB recebeu mais de 10 propostas de universidades de primeira linha nos Estados Unidos, mas quando chegar na liga - e vai chegar - não sabemos se, de fato, vai querer segurar a responsabilidade que é representar todo um país. Ainda mais, jovem.

A NFL vem crescendo entre os torcedores no Brasil e, a cada dia que passa, temos mais atletas aptos para derrubar as portas que a liga ainda têm quanto a jogadores sul-americanos. Verdadeiros protótipos que estão apenas esperando testes oficiais e oportunidades para mostrar seu valor para a principal liga de futebol americano no mundo.

E quando tivermos mais alguém na NFL, é preciso que essa pessoa, caso queira ter essa responsabilidade, realmente retribua o carinho que o brasileiro dá. Seja interagindo nas redes sociais ou retornando ao país, quando possível, para realizar ações, sejam sociais (como vemos muitos jogadores africanos realizarem) ou não. Com essa proximidade e atenção retribuída, o futebol americano pode, sim, saltar de patamar e fazer com que o Brasil passe o México como maior mercado da liga no mundo, já que hoje somos o 2º fora dos EUA. E, vamos lá. Somos brasileiros. A gente não aceita menos que o primeiro lugar.

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