Retrospectiva 2020 – Jogadores da NFL tomam frente na luta por justiça social nos Estados Unidos

Assassinato de George Floyd fez uma onda de protestos eclodir no país, com os jogadores da NFL se posicionado contra o racismo institucional

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Além da pandemia causada pela Covid-19, os Estados Unidos passaram por um verdadeiro caos social provocado pela morte de George Floyd, homem negro de 46 anos, assassinado de forma brutal e covarde pelo policial Derek Chauvin, em Minneapolis, no final de maio. As imagens de Floyd pedindo para que o policial, branco, retirasse o joelho esquerdo de seu pescoço ganharam o mundo. A reação foi imediata e o país passou por uma onda de protestos em suas principais cidades. Passeatas, manifestações pacíficas e algumas mais violentas contra a morte de pessoas negras por policiais tomaram conta do noticiário.

Obviamente, formada por uma maioria de cerca de 70% de negros, a NFL viu seus principais atletas se juntarem à população na luta pelo fim da violência policial e, por consequência, do racismo sistêmico que assola os Estados Unidos. No princípio de junho, o comissário da liga, Roger Goodell, reconheceu que a NFL errou ao tentar jogar panos quentes nas manifestações durante os jogos, algo que começou em 2016, liderado pelo então quarterback do San Francisco 49ers, Colin Kaepernick, que passou a se ajoelhar na hora da execução do hino norte-americano.

“Nós, a Liga Nacional de Futebol, admitimos que estávamos errados por não ouvir os jogadores da NFL mais cedo e incentivarmos todos a falar e protestar pacificamente. Nós, a NFL, acreditamos que vidas negras são importantes”, afirmou Goodell no vídeo divulgado pela liga no auge da convulsão social que ocorria nos Estados Unidos.

Para desgosto do presidente Donald Trump, que chegou a declarar que não iria assistir os jogos da NFL e também de seu filho, Eric, que utilizou uma rede social para escrever que ‘o futebol americano está oficialmente morto’, a liga passou a não se opor mais aos protestos realizados antes das partidas.

E eles começaram a tomar forma já nos aquecimentos realizados pelas equipes, na primeira semana da atual temporada. Vestindo camisas com palavras de ordem, vários atletas da NFL já indicavam que a tônica havia mudado, os jogadores, agora, gozavam de liberdade para escolher as formas de protestos.

Ainda na semana de abertura, sete equipes - Green Bay Packers, Jacksonville Jaguars, Philadelphia Eagles, Buffalo Bills, Miami Dolphins, Arizona Cardinals e New York Jets - optaram por permanecer nos vestiários durante a execução de “The Star Spangled Banner”, o hino dos Estados Unidos. Foi comum ver treinadores e jogadores, lado a lado, ajoelhados, levantando os punhos como forma de extravasar os pedidos por igualdade social.

Curiosamente, Dontari Poe, defensive tackle que estava livre no mercado e, posteriormente, contratado pelo Dallas Cowboys foi o único atleta da franquia do Texas a se ajoelhar antes do início do jogo contra o Los Angeles Rams, no SoFi Stadium.

- É apenas trazer mais consciência para o que está acontecendo neste mundo - para as injustiças raciais que estão acontecendo, para a opressão que está acontecendo com a minha raça, o povo negro. Não é algo que será resolvido em um dia. Está trazendo mais consciência. Sinto que todos precisam ser responsáveis - disse Poe, que disse não ter ficado chateado com seus companheiros de equipe por não terem se juntado ao seu protesto solitário.

O ato de coragem do jogador fez com que a mídia dos Estados Unidos abordasse o dono dos Cowboys, Jerry Jones, voz contrária às manifestações políticas na NFL, que, diante da situação do país, permaneceu calado sobre o assunto, não coibindo os demais atletas da franquia a realizarem seus protestos. Desde então, a atual temporada da NFL, a liga esportiva mais importante do país da América do Norte, trouxe jogadores dando voz às suas manifestações através de frases coladas em seus capacetes, chuteiras, camisas usadas em aquecimentos e suas redes sociais.

Houve gente que seguiu a ideia de Donald Trump de boicotar as partidas do futebol americano. Mas, nesta terça-feira (29), o portal Sportico, publicou reportagem que mostrava o sucesso da temporada atípica da NFL. 69 jogos da liga estavam no levantamento das 100 maiores audiências da televisão dos Estados Unidos, incluindo a primeira posição no ranking, o Super Bowl LIV, conquistado pelo Kansas City Chiefs diante do San Francisco 49ers, em fevereiro, assistido por 99.9 milhões de pessoas.

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