Guus Hiddink nunca se entusiasmou com a contratação de Alexandre Pato. Foi convencido porque o Chelsea precisava de uma alternativa a Diego Costa. Seria uma aquisição barata (para os padrões europeus) e de curto prazo, de fevereiro a junho. O argumento final foi que o brasileiro chegaria disposto a provar merecer a chance. Mostraria isso nos treinos.
Dois meses e seis dias após ter sido contratado pelo Chelsea, Alexandre Pato soma zero minutos em campo pelo time londrino.
Nas últimas duas semanas, o LANCE! conversou com pessoas ligadas ao clube, jornalistas ingleses e empresários que fazem negócios com o futebol europeu para entender: por que Alexandre Pato não recebe uma oportunidade?
- É surpreendente porque Jurgen Klopp chegou a se interessar por Pato em janeiro, quando ele ainda estava no Brasil. Considerou-o como uma possibilidade para o Liverpool. A impressão é que ele não deve ficar no Chelsea além dos seis meses de empréstimo – afirma Ian Herbert, chefe de reportagem do diário The Independent, de Londres.
Desde que o atacante chegou à Inglaterra, o Chelsea teve 12 partidas. Pato ficou no banco três vezes. A última delas, em 19 de março, contra o West Ham. Um jogo em que Diego Costa estava lesionado e o antes “reserva do reserva”, Loic Remy, foi escalado. Com a equipe precisando desesperadamente achar um gol, o técnico holandês mandou a campo Bertrand Traore, 20 anos.
Alexandre Pato ficou 90 minutos com o traseiro sentado no banco de reservas. Após o apito final, pegou o avião e viajou para Dubai com a namorada, a atriz Fiorella Mattheis.
- Foi desnecessário o Alexandre postar a foto nas redes sociais, horas depois do resultado. Os outros (jogadores) também viajam, mas não ficam mostrando. Não tem nada demais porque estava em seu período de folga. Mas ele precisa mostrar ao Hiddink algo a mais, já que chegou lá com um contrato curto e não está jogando – disse ao L! um empresário que costuma auxiliar na intermediação de atletas para o Chelsea.
A contratação e não utilização de Pato coloca pressão em dirigentes que formam uma espécie de comitê de contratações do Chelsea e que têm mais poderes do que o próprio Hiddink: Bruce Buck, Eugene Tenebaum, Marina Granovskaia e Michael Emenalo. Eles insistiram com o holandês para aceitar o brasileiro.
O argumento de que ele mostraria raça e daria tudo nos treinos para convencer o treinador ignora a personalidade que o atacante mostrou no futebol até agora. Aos 26 anos, sempre teve um ar blasé, confiante (às vezes demais) no próprio talento. Se teve o talento reconhecido internacionalmente desde muito jovem, o estilo atrapalhou sua carreira no Corinthians, por exemplo.
- A diretoria, quando vai fazer uma contratação, precisa saber se a personalidade do jogador se encaixa no perfil do clube – avaliou Mano Menezes, achando uma maneira de dizer que a garra, o carrinho e a vontade em campo idolatrados pela Fiel não casavam com o do atacante.
Hiddink, nas últimas semanas, ouviu pedidos para dar uma chance para Pato. Foi lembrado que a posição era uma carência no elenco e que o Chelsea fez um investimento para contratá-lo. Apenas em salários, ele já recebeu R$ 1,2 milhão. São R$ 156 mil por semanas pagos pelo clube inglês. R$ 624 mil por mês.
A melhor oportunidade é neste sábado. O Chelsea visita o Aston Villa, em uma partida que vale muito pouco para as duas equipes. Atual campeão, os londrinos estão no décimo lugar, sem chance de entrar na zona de classificação para a Liga dos Campeões da Europa. Lanterna e praticamente rebaixado, o Villa é um dos piores times da história da Premier League, a versão moderna do Campeonato Inglês, iniciada em 1992.
Desde que desembarcou no Reino Unido, Pato não teve chance melhor para estrear. O próprio técnico reconhece isso e diz que o momento é para "testes".
- Ele (Pato) vai atuar? Vamos ver. Temos oito partidas ainda pela frente, mas não há muito em jogo. Então, pode ser o momento para testes - disse Hiddink nesta sexta-feira.
Causou tanta estranheza a omissão do brasileiro, que jornalistas ingleses pediram à Federação esclarecimentos se o atacante estava realmente inscrito na liga. Estava. Mas se não estivesse, não seria a primeira vez. Em 2004, o Middlesbrough contratou Ricardinho por seis meses e o meia não entrou em campo nenhuma vez. Depois, descobriu que sua documentação não estava regularizada.
- Só fiquei sabendo porque contratei uma advogada. Fiquei no banco uma vez, mas na Inglaterra, se você está entre os reservas, não assina a súmula – explica o agora técnico.
Se Pato não entrar em campo logo, corre o risco de virar galhofa. Torcedores criaram o site “Has Alexandre Pato played for Chelsea?” (Alexandre Pato já jogou pelo Chelsea?) , que faz a contagem dos dias em que o jogador está no clube sem entrar em campo. No momento, em que a bola começar a rolar no Villa Park, o cronômetro estará em 63 dias e 22 horas.
O último jogo dele foi no final de novembro, contra o Figueirense, pelo Campeonato Brasileiro. Ao chegar em Stamford Bridge, passou por um período de treinos pesados para entrar em boa condição física. Mas há mais de um mês que Hiddink afirmou que o brasileiro poderia ser utilizado.
Quem se preocupa é o Corinthians, que tem os direitos sobre o atleta até o final do ano. Os dirigentes acenderam velas e pediram ajuda a São Jorge para aparecer um clube interessado. O jogador recusou uma proposta milionária para a China porque sempre acreditou que seu futuro era voltar para a Europa. As preces foram atendidas quando surgiu o Chelsea. Se o brasileiro não mostrar serviço e logo, se torna remota a possibilidade de Roman Abramovich aceitar pagar um valor entre 8 e 10 milhões de euros para comprá-lo.
É um desfecho que nem o Corinthians nem Pato deseja. Mas até agora, está valendo a opinião e vontade de Guus Hiddink.