Após dois anos 'turbulentos' no Torino, Danilo Avelar, enfim, conseguiu jogar. Contratado por empréstimo de uma temporada pelo Amiens, assumiu a lateral esquerda do time francês e ganhou destaque. E os bons jogos caíram no gosto do Corinthians.
No fim de 2017, o defensor foi procurado por pessoas ligadas ao Timão e por pouco a negociação não foi sacramentada com final feliz. Ao LANCE!, Danilo Avelar explica que sua prioridade é voltar ao Brasil e que questões burocráticas impediram o acerto em janeiro.
Você chegou ao Amiens nesta temporada depois de ser emprestado pelo Torino. O que o levou a atuar pelo time francês?
Cheguei no Torino e fiquei dois anos turbulentos. O principal motivo é que perdi esse período por conta de inúmeras lesões. Decidi que era melhor mudar de ambiente para tentar um recomeço, até para provar para mim e para aqueles que não acreditavam que eu sou capaz de voltar em alto nível. O Amiens me abriu as portas, era um clube que havia acabado de subir para a Primeira Divisão da França, tinha o entusiasmo, não havia a pressão que encontrava na Itália com o Torino. Isso foi fundamental para jogar na França, que tem um campeonato em ascensão, com a chegada do Neymar. Todo mundo só fala na Ligue 1, o que poderia ser positivo em vários fatores.
Como está sendo a experiência de jogar no Campeonato Francês?
Está bacana, principalmente porque encontrei um ambiente muito sereno, tranquilo e humilde no Amiens, o que ajuda dentro de campo e na adaptação. É um campeonato muito diferente do que o Italiano, no qual o principal é a tática. Na França, é mais o lado individual e a força. Não é exigido tanto em relação à tática como na Itália, onde é primordial, mas está sendo uma experiência muito legal.
Que tipo de lesões você teve no Torino, que praticamente impediram de você ter uma sequência?
Eu rompi o ligamento cruzado com lesão no menisco e acabei perdendo três meses. Depois foi outra lesão no mesmo joelho, fiquei um período fora e fui me tratar no Brasil. Na segunda temporada, tive problema com questão de estrangeiros, com muitos jogadores para poucas vagas. Como estava voltando de lesão, preferiram me deixar fora para me adaptar mais. Nisso, perdi meia temporada. Quando voltei, tive algumas lesões musculares, por estar quase um ano e meio sem atuar. Foram dois anos turbulentos, com altos e baixos, mas infelizmente com mais baixos. Depois de três bons anos no Cagliari, fui para o Torino achando que iria explodir, com o técnico Giampiero Ventura, treinador que foi até para a seleção italiana e que me ensinou muita coisa. Mas infelizmente, a trajetória foi outra.
Na França, teve a oportunidade de jogar contra o PSG, de Neymar e Cia. Deu um frio na barriga de enfrentá-los?
Sinceramente, eu gosto de jogo assim. Você fica com mais vontade, mais entusiasmo, adrenalina. Sabe que o mundo inteiro estará assistindo, muita gente torcendo a favor da gente para ver o PSG perder. É uma mistura de adrenalina, que acredito que só soma. Nervoso mesmo eu não fico. Tenho a expectativa de jogar bem e é um prazer atuar com jogadores de alto nível. Se eles não estão do seu lado, pelo menos você aprende a marcá-los. Tudo é um aprendizado. Psicologicamente isso influi muito, quem consegue se preparar melhor para o jogo acaba tendo resultado melhor do que aqueles que são ansiosos. Não era a primeira vez que atuava contra Neymar, mas foi legal enfrentar o PSG, que está em crescimento, na boca do povo, na mídia.
Recentemente vocês encararam o PSG em casa. A cidade de Amiens parou para o confronto. Como foi o clima de enfrentar Neymar, Mbappé e Cia.?
Para a cidade é um marco histórico. Por Amiens ser próxima de Paris, acredito que a maioria dos habitantes daqui torça para o PSG. Você poder ver de perto seu time, com seus ídolos, é um evento muito grande. Tudo envolve o business, o entretenimento. A cidade ganha, os clubes ganham, nós jogadores também. Todos acabam saindo vencedores de alguma forma.
Diante do futebol que tem jogado, com a diferença na liderança, é difícil tirar o título do PSG?
É complicado. O difícil não é você chegar lá na liderança, é permanecer no topo. E se manter na primeira colocação o campeonato inteiro é para poucos. Precisa ter um elenco muito preparado, um rodízio de jogadores de grande nível, que não oscilam, para manter sempre a pegada. Outros times como Monaco e Lyon estão sempre no calcanhar e isso faz com que o PSG não vacile e esteja sempre ganhando, justamente porque sabe que há times apenas esperando uma brecha. Não se pode negar a diferença entre o PSG e os adversários, mas dentro de campo são 90 minutos, 11 contra 11, e quem tiver mais preparado leva.
O Amiens está no meio da tabela, mas perto da zona do rebaixamento. Qual é a meta da equipe nesta temporada?
Sem dúvidas está sendo um sonho realizado chegar na Primeira Divisão. São dois acessos consecutivos: da Terceira até a elite. É um crescimento muito grande, tanto estrutural como profissionalmente. A cidade está uma loucura. Você conseguir fazer a primeira parte do campeonato e ficar no meio da tabela é muito importante para a equipe. É de se orgulhar, tanto que a cidade está em festa. Então, o nosso objetivo é manter a equipe na Primeira Divisão.
Nesta janela de transferências, surgiu o interesse do Corinthians. Como foi essa negociação? O que não deu certo para você defender o clube de São Paulo?
Sinceramente, não entrei muito em questões burocráticas para saber a fundo o que realmente aconteceu. Soube do interesse do Corinthians, não nego a vontade de voltar ao Brasil. Não é a primeira vez que falo do meu desejo de retornar o mais breve possível. Porém, em oportunidades que me dão condições futuras. Não quero voltar só em fim de carreira para ser apenas mais um. Quero retornar em condições de demonstrar o meu potencial e conseguir ter um diferencial. Infelizmente, agora com o Corinthians, não deu por questões burocráticas, pois envolveu três clubes na negociação: Corinthians, Torino e Amiens. Estou emprestado pela equipe italiana, não é uma operação fácil, mas acredito que na hora certa vai acontecer.
Ainda há negociação em curso? Há chance de você se transferir em julho?
Meus empresários estão tomando conta, me disseram para manter o foco, continuar fazendo o meu melhor que eu só tenho a ganhar. O Corinthians já disse que está mantendo os olhos abertos na relação comigo e que eventualmente, no meio do ano, eu possa conseguir voltar ao Brasil.
Você chegou a dizer que estava perto de voltar ao Brasil. Era para o Corinthians ou havia outro clube interessado?
A princípio, era para o Corinthians. Sempre teve a ideia do Corinthians. Se teve outro clube, não chegou até a mim. Sei que outras equipes falaram de mim, mas não sei de interesse concreto. Em meados do Natal, houve contato do Corinthians, porém a janela só abria em janeiro, na Itália o processo é mais lento. É uma janela de transferências mais complicada, pois é vista com outros olhos pelos clubes europeus. Os maiores investimentos são feitos no início da temporada, em agosto. Em janeiro, é mais complicado. Se sai um jogador, desestrutura todo o elenco, precisa colocar outro jogador e até ele se adaptar, são apenas três a quatro meses de campeonato. É muito complexa a situação. Havia o interesse de ambas as partes, minha vontade de voltar ao Brasil é grande, disputar um Brasileirão, estar perto da família. Espero que futuramente as coisas possam ser mais concretas.
As questões burocráticas foram mais do lado do Torino ou o Amiens que fez jogo duro?
Não sei te dizer. Com o Torino, era relação financeira. Com o Amiens, era a parte esportiva. Se eu fosse presidente de um clube, se eu tiro um atacante, preciso repor com outro atacante. Se negociar um lateral, precisarei colocar outro lateral. É o mais justo. Talvez tenha sido esse o problema. Não sei se parou no Amiens ou no Torino. E eu também não quis me envolver, pois aqui não eram férias. O campeonato não parou. Qualquer desatenção poderia me afetar dentro de campo e, por isso, preferi ficar fora das negociações e só saber se tivesse algo realmente concreto.
Você espera que o Corinthians ou outro clube volte a negociar em julho com o Torino?
Tenho que mostrar o trabalho para as pessoas saberem que estou em alto nível, que tenho potencial para atuar em grandes clubes no Brasil. A partir disso, o interesse em voltar ao Brasil é grande. Espero que as coisas possam caminhar. No fim da temporada, não sei como vai proceder. O Amiens tem a opção de compra e acredito que eles exercerão. Não sei como vai ser. Caso contrário, volto ao Torino. Não entendo essa parte burocrática, mas espero que os clubes continuem acompanhando, pois vou dar meu máximo para conseguir voltar em grande nível.
A prioridade é voltar ao Brasil?
Sim, minha prioridade é voltar a jogar no futebol brasileiro. A não ser que venha um Barcelona, Real Madrid, que terei que pensar um pouco. Brincadeiras à parte, depois de oito anos, cheguei em um momento que quero voltar ao Brasil ainda com futebol para mostrar, sem ser para encerrar a carreira. Vou fazer 29 anos em junho e acredito que seja o momento ideal para mim. Estou com uma bagagem boa e sei que posso acrescentar.
Chegou a falar com alguém do Corinthians durante as negociações?
Não falei com ninguém, só com meus empresários, que me passavam algumas situações. Eu também não gosto de ficar sabendo de qualquer coisa. Quando eles falavam que havia algo concreto ou algum interesse, me falavam. A partir daí analisava com meus pais. Mas com alguém do clube, não falei diretamente.