No último sábado, o Wakefield AFC, da cidade de Wakefield, na Inglaterra, se tornou campeão da 11ª divisão inglesa, chamada de Sheffield & Hallamshire County Senior Football League. A vitória por 2 a 0 sobre o Dodworth MWFC coroou a campanha vitoriosa de um clube que há menos de um ano foi comprado por empresários brasileiros, que garantem ter planos ambiciosos no futebol inglês.
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O clube foi adquirido em 2021 pelos brasileiros Guilherme Decca e André Ikeda, sócios no Family Office VO2 Capital, e atingiu tal feito logo no primeiro ano da nova gestão. Em pouco tempo à frente do Wakefield, eles subiram a receita em mais de três vezes e reformularam 50% do elenco para a temporada. A vitória chega sob o comando de outro brasileiro, o técnico Gabriel (Gabe) Mozzini.
Em entrevista ao LANCE!, Guilherme Decca, co-fundador da VO2 Capital e presidente do Wakefield, contou como despertou o interesse de investir em um clube da Inglaterra. O brasileiro juntou a paixão pelo futebol, pela Premier League e a oportunidade de ter um time em uma grande cidade sem uma equipe profissional.
- Com uma carreira sólida dentro do mercado financeiro e como um apaixonado por futebol, resolvemos investir em futebol dentro da VO2 Capital. Acompanho futebol inglês desde 1990 e naturalmente começamos a nossa busca por um time na Inglaterra.
- Olhamos algumas oportunidades e queríamos um time que tivesse potencial de crescimento e uma organização financeira que pudesse ser administrada para, a longo prazo, se tornar um projeto de sucesso, dentro e fora dos campos. Nessa busca, nos deparamos com o Wakefield AFC, baseado em Wakefield, maior cidade do país sem um time profissional na EFL (English Football League). O time se encontrava em uma divisão mais abaixo do que gostaríamos, mas o potencial da cidade e a infraestrutura justificavam o investimento.
Já classificado para a disputa da 10ª divisão nacional, a Northern Counties East, o Wakefield tem planos ambiciosos no curto prazo. O objetivo não é apenas o resultado, mas também desenvolver a estrutura do clube e propiciar o terreno para outros investidores.
- Queremos adicionar mais treinadores licenciados da UEFA, investir em um centro de treinamento próprio, em condicionamento físico, nutrição e tecnologia de rastreamento. Também vamos abrir as portas do mercado do futebol para investidores apaixonados, mostrando que é possível que tudo ocorra em sinergia e com propósito, e não só visando lucro ou visibilidade - afirmou Guilherme.
O primeiro passo da gestão brasileira foi focado em investimentos na parte de analítica e mudar a filosofia do clube dentro e fora de campo, incluindo nova comissão técnica, alinhada com a nova visão do clube, que começou em Janeiro de 2022.
- Hoje em dia possuímos departamento de análise de dados com mais recursos que muitos times profissionais e já começamos a colher os frutos em campo - contou André Ikeda, sócio da VO2 Capital e membro do "Board" do Wakefield AFC.
Decca celebrou o título da 11ª divisão inglesa, mas ressaltou que ainda há muito a ser desenvolvido, ainda que em tão pouco tempo já tenham atingido um patamar bem acima do que o esperado, especialmente em termos de média de público. Para ele, isso é um sinal de que o que está vendo é o caminho certo para seguir.
- Estamos felizes com essa conquista, fruto de muito trabalho e mérito de todos envolvidos no projeto do Wakefield AFC. Ainda temos muito para desenvolver dentro e fora de campo, mas estamos invictos há 18 jogos e terminamos a liga com média de público superior a três divisões acima da nossa, o que mostra que o projeto está no caminho certo - relatou Guilherme.
Estímulo ao sonho de jogar futebol
Em fevereiro deste ano, com o intuito de possibilitar que jovens entre 16 e 19 anos possam aliar a paixão pelo futebol e os estudos, os empresários brasileiros firmaram parceria com a Outwood Grange Academies Trust, instituição de apoio educacional sem fins lucrativos que patrocina cerca de 40 escolas em todo o norte da Inglaterra.
A parceria possibilitará a construção de academias de futebol masculina e feminina e faz parte de um programa oficial reconhecido da English College Premier League Academy, instituição que promove atividades físicas e esportes competitivos para estudantes acima de 16 anos na Inglaterra. Mas o planos não ficam apenas por lá. A ideia da dupla é fazer intercâmbios com escolas brasileiras no futuro.
Confira a entrevista com Guilherme Decca, presidente do Wakefield:
Quais os planos a longo prazo? Aonde querem chegar?
Uma de nossas metas é causar um impacto positivo na cidade, que conta com pouco mais de 350 mil habitantes. E para isso, fizemos um acordo com os donos anteriores do time para deixarmos 15% das ações nas mãos dos torcedores.
Com investimentos nas operações de futebol, programas de educação, academia de times de base e time feminino - que já se encontra na 5ª divisão - nossa expectativa é ir subindo de divisão e chegar ao profissional em quinze anos, tempo que consideramos o suficiente para o clube se autossustentar.
Vocês acreditam que possam ter aberto um caminho para potenciais investidores brasileiros?
Foi um passo bem pioneiro da nossa parte e diria que a maioria dos investidores não teria estômago para começar tão embaixo e fazer todo esse trabalho de base na estrutura do clube. O câmbio "Real x Libra" também dificulta muito para um investidor brasileiro. Para nós que estamos nos EUA essa situação não é tão dramática, mas o sucesso no futebol inglês ainda assim tem um custo de investimento muito significativo.
Por que não comprar um clube no Brasil? Há planos para isso acontecer?
Acho que esse não é o momento de adquirir um clube no Brasil. Devem haver confusões nessa primeira geração de investidores, com muitas mudanças na forma de fazer gestão. Eu acredito que, em cinco anos, os clubes já estarão sendo vendidos novamente e esse sim será o momento de investir no Brasil. No momento não temos nenhum plano de investimento.