A trajetória do ‘maior técnico que a Seleção Inglesa jamais teve’, morto há 20 anos

Excêntrico e carismático, Brian Clough ficou marcado por títulos e polêmicas

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Há 20 anos, o futebol da Inglaterra perdia uma lenda: Brian Clough, conhecido como "o maior técnico que a Seleção Inglesa jamais teve". Entretanto, a frase, que é autoexplicativa, não dá conta de definir o que o treinador representou para o esporte daquele país.

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Quando jogador, Brian Clough foi um atacante excepcional. Defendeu apenas Middlesbrough (entre 1955 e 1961) e Sunderland (de 1961 a 1964), marcando incríveis 251 gols em 274 jogos (média de 0,9 gol por jogo). Porém, uma grave lesão nos ligamentos do joelho fez com que o inglês encerrasse a carreira cedo, aos 29 anos.

Foi a partir daí que Clough se tornou técnico, inicialmente nas categorias de base do Sunderland. À beira do gramado, ficou marcado pela personalidade excêntrica e forte, além dos títulos conquistados. A trajetória vitoriosa começou em 1967, no comando do Derby County, o terceiro clube dele na carreira (anteriormente, havia treinado o pequeno Hartlepool, sem título).

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Com estilo centralizador, fez mudanças radicais na estrutura do clube, demitindo até o jardineiro e a secretária. Dentro de campo, organizou um time marcado não apenas pelo bom futebol, mas também pelo "jogo limpo", sem faltas duras ou atitudes consideradas desonestas. Na equipe, venceu o Campeonato Inglês da segunda divisão na temporada 1968/69, e da primeira divisão (hoje, Premier League), em 1971/72.

Apesar do sucesso, os desentendimentos de Clough com a direção, fato corriqueiro na carreira, fizeram com que o técnico deixasse o Derby em 1973 rumo ao Brighton, à época na terceira divisão, em mais uma passagem sem brilho.

Brian Clough nos tempos de jogador: defendeu o Middlesbrough, clube de sua cidade natal, e o Sunderland (Foto: Reprodução)

O trabalho anterior, no entanto, não havia sido esquecido e rendeu ao técnico oportunidade em um clube maior do futebol inglês: o Leeds United, campeão inglês da temporada 1973/74. O sonho, entretanto, se tornou pesadelo. Isso porque a passagem pela equipe durou apenas 44 dias, com sete jogos disputados e uma vitória conquistada.

Além dos atritos com a direção, brigas com o elenco deram fim precoce ao projeto. Acostumados com o "jogo sujo" de Don Rivers, antigo treinador da equipe, os jogadores tiveram dificuldades para se adaptar à proposta "fair play" de Clough. A passagem frustrada do técnico pelo Leeds, bem como a rivalidade com Rivers, deram origem ao livro "The Damned United", que inspirou o filme "Maldito Futebol Clube", de 2009, dirigido por Tom Hooper.

Depois de dois trabalhos frustrantes e uma breve experiência como comentarista, foi no Nottingham Forest que o técnico fez história, entre 1975 e 1993. No clube da ainda pequena Nottingham, conquistou o bicampeonato da antiga Copa dos Campeões da Uefa (hoje, Champions League), em 1978/79 e 1979/80. Também faturou o Campeonato Inglês (1977/78), quatro Copas da Liga (1977/78, 1978/79, 1988/89, 1989/90), uma Supecopa da Inglaterra (1978) e uma Supercopa europeia (1979).

Brian Clough venceu duas edições consecutivas da Uefa Champions League com o Nottingham Forest (Foto: Reprodução / Site oficial da Uefa)

A influência de Brian Clough no clube é tão grande, que até hoje seu nome é usado como referência de mentalidade vencedora. Em entrevista à BBC, o atual proprietário de equipe, Evangelos Marinakis, revelou como o treinador motivava seus jogadores para grandes conquistas.

- Tínhamos alguém que inspirava os jogadores a se superarem, inspirava as multidões a estarem lá para apoiar o time em todos os lugares. Quando ele falava, era sobre coisas que eles nunca poderiam imaginar - contou o milionário grego.

Apesar da carreira de sucesso, Brian Clough nunca treinou a seleção inglesa, mesmo com clamor popular entre 1972 e 1982. Carismático, o técnico chegou a afirmar que não foi escolhido porque "os dirigentes pensaram que, se me dessem o trabalho, eu acabaria sendo a estrela do espetáculo. Pois seria exatamente o que eu faria", em mais uma de suas frases marcantes.

Brian Clough morreu em 2004 devido a um câncer no estômago. Seus feitos, no entanto, o elevaram ao patamar de ídolo do futebol inglês, com estátuas em sua homenagem nas cidades de Derby, Nottingham e Middlesbrough.

Mesmo sem ter dirigido a Seleção Inglesa, a influência dele no futebol britânico é inegável. Foi pelas mãos de Clough que Viv Anderson, lateral-direito do Nottingham Forest, tornou-se o primeiro negro a vestir a camisa da seleção principal da Inglaterra, em novembro de 1978. Vinte anos após a morte do técnico, em 20 de setembro de 2004, Brian Clough permanece como figura lendária do futebol.

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