A contratação mais impactante dessa temporada foi, sem dúvidas, a chegada de Cristiano Ronaldo na Juventus. Depois de nove anos de Real Madrid, o craque português deixou o clube com o desejo de um novo rumo em sua carreira. CR7 escolheu a Juventus, maior campeã do Campeonato Italiano, com 34 conquistas, mas que não vence uma Liga dos Campeões desde 1996.
O português chega com o desafio de superar esse jejum e com pressão de manter a Juve no topo da Itália. Com jogadores jovens e habilidosos, além de um elenco experiente, o clube italiano tenta tirar o peso dos ombros do português. O L! conversou com jornalistas italianos para entender um pouco mais dessa pressão e das possibilidades que CR7 vai enfrentar em seu novo clube. O primeiro desafio é neste sábado, contra o Chievo, fora de casa, às 13h, pela primeira rodada do Campeonato Italiano.
E se não vencer a Serie A com o melhor do mundo?
Na história da Itália tiveram grandes impérios e imperadores. Na atualidade, a Juve domina, como um imperador, o Campeonato Italiano. A dinastia da Velha Senhora ganhou um novo membro real. A chegada de Cristiano Ronaldo fez que todos os olhos da Europa se voltassem para a Serie A. A expectativa e o nível aumentaram, e os torcedores ficaram em êxtase. Se sem Cristiano Ronaldo já estava fácil vencer, imagina com o melhor do mundo?
Com isso, os outros clubes do campeonato passaram a investir mais. A dupla de Milão, depois de anos, parecem estar mais focadas em montar grandes times, apesar do investimento continuar austero. O Milan trocou de comando, depois do caos econômico deixado pelo ex-presidente Yonghong Li e anunciou o retorno de Leonardo para ser diretor de futebol. Chegou Higuaín, que preferiu não disputar posição com CR7. A Inter de Milão contratou a jóia argentina Lautaro Martínez, o meia belga Radja Nainggolan e o lateral vice-campeão do mundo Vrsaljko.
- Milan contratou Higuain e Caldara da Juventus, Inter trouxe Nainggolan da Roma e De Vrij da Lazio... Inter e Milan são os rivais históricos e graças a essas contratações penso que são os candidatos a duelar com a Juventus pelo título. O campeonato pode ficar mais competitivo, mas a Juventus continua como a favorita – disse Filippo Cornacchia, jornalista da ‘Tuttosport’
O Napoli, principal concorrente da Juve nas últimas temporadas, perdeu o treinador Maurizio Sarri, que revolucionou o futebol napolitano com seu DNA ofensivo, mas trouxe o tricampeão da Champions, Carlo Ancelotti e seu DNA vencedor.
- Internazionale, Milan e Roma podem trazer perigo, Napoli um pouco menos. Não é certo que a Juventus vai vencer o campeonato, mas não me arrisco afirmar o contrário. É a favorita e já era sem Cristiano Ronaldo e continua sendo com o português – comentou Filippo Conticello, jornalista da ‘Gazzetta dello Sport’
A chegada do craque português aumentou o nível da competição, que voltou a aspirar os tempos de glória que teve nos anos 80, 90 e 2000. Apesar dos reforços dos adversários, a Juve continua favoritíssima ao título, mas ter o melhor jogador do mundo traz uma pressão, que o clube não teve nos últimos anos. Ora, são sete anos seguidos vencendo, imagina se agora, com Cristiano Ronaldo, perder?
Obsessão pela Champions
Se tem a pressão para vencer o Italiano, para vencer a Champions é maior ainda. Nas últimas temporadas, sob o comando de Massimiliano Allegri, a Juve bateu na trave algumas vezes e frustrou seus torcedores. Em 2014/15, perdeu a final para o Barcelona, por 3 a 1. Na temporada seguinte, eliminação nas oitavas de final, para o Bayern de Munique.
Em 2016/17, mais um vice: derrota para o Real Madrid, por 4 a 1, com dois gols de Cristiano Ronaldo. Na última temporada, mais uma eliminação para os Merengues. Agora, nas quartas de final. Depois de vencer por 3 a 1, perdeu o jogo de volta por 3 a 0, com Cristiano Ronaldo marcando três dos quatros gols dos dois jogos.
- O problema da Juventus é a Liga dos Campeões, que não vence há 22 anos. Existe uma espécie de obsessão, angústia em torno da competição. Esse é o verdadeiro objetivo da temporada e o motivo da chegada de Cristiano Ronaldo. O português não chegou para vencer a Serie A, mas o principal torneio europeu – analisa Filippo Conticello
O algoz trocou de lado
A Juve resolveu contratar o seu maior algoz recente. O “algo mais” que faltava era um jogador decisivo e experiente e que, principalmente, não sentisse o peso da competição. O português tem sangue de vencedor e, além disso, é um dos maiores personagens de toda a história da Liga dos Campeões. Cristiano Ronaldo é o maior artilheiro da história do principal torneio da Europa com 120 gols, além de ser o jogador que mais marcou gols em uma só edição: foram 17, na edição de 2013/14.
É o único jogador a marcar em três finais diferentes da competição e o único a marcar nos seis jogos da fase de grupos. O português ainda é o único jogador a marcar em 11 jogos seguidos na competição. A Juventus foi a maior vítima do português, o recorde de gols de um jogador no mesmo clube, é o de Cristiano Ronaldo contra Velha Senhora (10 gols). Se não pode vencê-los, junte-se a eles.
- A Liga dos Campeões é o torneio mais imprevisível do mundo. A Juventus nos últimos quatro anos chegou duas vezes na final e, seguramente, com Ronaldo aumenta a possibilidade de vencer. A Juventus vai lutar com Real Madrid, Barcelona e Manchester City. São as quatro equipes mais fortes, mas tudo vai depender das condições físicas das equipes em março – disse Filippo Cornacchia
A chegada de Cristiano Ronaldo internacionalizou a Juventus e trouxe status de favorita ao campeonato que mais deseja conquistar. Apesar disso tudo, se já havia a pressão antes, agora aumentou ainda mais.
Dybala, Douglas Costa e os 'novos merengues'
Uma das vantagens da Juventus, porém, é que Cristiano Ronaldo vai ter em seu elenco jogadores que vão dividir o fardo. No Real Madrid, o português tinha um meio de campo que sustentava o seu protagonismo no ataque. Na Itália, também vai ter. O meia bósnio Pjanic tem o estilo semelhante ao de Kross e Modric.
O futebol italiano tem como principal característica o forte poder de marcação e a força no estilo de jogo. A Juve conta com Allegri no comando técnico, que sabe agregar a escola clássica italiana com o futebol moderno, dinâmico e de posse de bola. O meio campo reflete isso. Emre Can e Khedira são marcadores, mas também sabem jogar com a bola no pé, relembrando Casemiro.
No ataque, Cristiano Ronaldo tinha Asensio, Isco, Bale e Benzema para lhe fornecer a bola. Na Juventus, vai contar com Dybala, Douglas Costa e Cuadrado, jogadores de muita habilidade e velocidade, com fôlego para ajudar na marcação (caso necessário) e improviso para tripudiar dos adversários.
Os titulares Dybala e Douglas Costa formam um novo trio que pode fazer história: o DDC, que equilibra com os grandes ataques do atual futebol europeu, como o do Barcelona, PSG e Manchester City.
- Douglas Costa e Dybala podem ajudar o jogo de CR7 e vice-versa. Douglas aprendeu muito com Allegri e Dybala deve ter um salto de qualidade, sobretudo em competições européias, onde não fez tantas boas partidas. O fato de não ser o protagonista vai ajudar na sua melhora, por ter uma pressão menor – diz Paolo Tomaselli, jornalista do ‘Corierre dela Serra’
Os “velhos senhores” da Velha Senhora
Se a Juventus ganhou um grande jogador, perdeu um grande ídolo. Buffon deixou o clube depois de 17 anos defendendo a meta juventina e foi para o PSG. Com isso, uma nova vaga abriu no elenco: quem será o novo líder? Naturalmente, Cristiano Ronaldo recebe esse título, tendo em vista toda a sua carreira.
O jogador, porém, vai ter com quem dividir essa tarefa. A Velha Senhora tem “velhos senhores” que mantém acesa a chama e o legado deixado por Buffon. Os italianos Marchisio, Barzagli, Chiellini e Bonucci trazem a experiência, a identificação e a força de vestiário que Buffon tinha, além de poderem dar suporte aos jovens e a Cristiano Ronaldo.
- A liderança no vestiário da Juventus é sempre italiana. O núcleo formado por Chiellini, Barzagli e Marchisio são aqueles mais escutados no grupo. Bonucci também voltou. O líder técnico, porém, é Cristiano Ronaldo. A presença de Cristiano traz ainda mais liderança ao vestiário da Juventus – diz Filippo Conticello,
Cristiano Ronaldo traz o peso de sua história, que se reflete em inúmeros ganhos financeiros e força técnica para dentro de campo, mas também traz os dissabores que um jogador de sua grandeza carrega consigo. O fardo é maior, mas CR7 vai ter o suporte necessário para carrega-lo. A grandeza pode ser a glória, mas também pode ser o infortúnio. O tempo vai dizer em qual lado que a Juventus de Cristiano Ronaldo e companhia vão ficar.
As primeiras temporadas de CR7
Antes da Juventus, Cristiano Ronaldo defendeu três clubes: Sporting, Manchester United e Real Madrid. Em Portugal e na Inglaterra, as suas primeiras temporadas não foram muito boas: pesaram a idade e a falta de experiência. No Real Madrid, já consagrado, teve um bom desempenho.
No Sporting, fez parte do elenco que conquistou a Supercopa de Portugal (2002/03), mas não participou do jogo. Em campo, CR7 não conquistou nenhum título logo de cara em sua primeira temporada.
• Sporting – 2002/04: 28 jogos, 3 gols e 1 assistência
• Manchester United - 2003/04: 40 jogos, 6 gols e 9 assistências
• Real Madrid - 2009/10: 35 jogos, 33 gols e 12 assistências
*sob a supervisão de Bernardo Cruz