Critério do ‘gol qualificado’ ainda é válido? Especialistas opinam
Reuniões entre membros da Uefa e técnicos importantes no futebol europeu podem sacramentar o fim da regra nos mata-matas; é o melhor caminho para o jogo?
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O critério do "gol qualificado" para desempatar disputa em mata-mata pode estar com os dias contados. Diversos técnicos do futebol europeu - entre eles José Mourinho (Manchester United) e Julen Lopetegui (Real Madrid) - fazem campanha para que a Uefa acabe com a regra nas competições que organiza e a entidade já estuda a hipótese, o que geraria mudanças diretas nas fases de mata-mata da Liga dos Campeões e Liga Europa.
Para avaliar as alterações e ouvir a opinião dos treinadores, membros da Uefa estão organizando reuniões desde a última terça com Massimiliano Allegri (Juventus), Carlo Ancelotti (Napoli), Unai Emery (Arsenal), Paulo Fonseca (Shakhtar Donetsk), Julen Lopetegui (Real Madri), Thomas Tuchel (Paris Saint-Germain) e Arsène Wenger (ex-treinador do Arsenal), além dos dois já citados.
A intenção acabar com a definição de classificado pelo número de gols marcado como visitante caso a soma dos resultados termine empatada. Caso o fim do critério seja sacramentado, os duelos igualados poderão ter uma prorrogação, com uma substituição a mais (além das três permitidas no tempo regulamentar) para cada equipe. Essa questão também anda incomodando os treinadores, que pedem que a entidade avalie a possibilidade de haver uma quinta substituição no tempo extra. Outro assunto pautado é que haja uma data única para o término da janela de transferências de todas as ligas da Uefa.
Se só agora a entidade começa a avaliar a possibilidade de acabar com o "gol qualificado". No Brasil, a CBF já vem caminhando a largos passos para abolir o 'fator desde 2015. A Copa do Brasil deste ano, por exemplo, não conta mais com essa possibilidade. Ao LANCE!, o diretor de competições da federação, Manoel Flores, contou que a mudança foi motivada pois a regra "vai contra o conceito de esporte".
- Nós começamos em forma de teste a partir de 2015, com o critério do gol qualificado valendo apenas na final daquele ano e se mostrou uma medida muito justa, já que entendíamos que a regra poderia afetar o desempenho do time em campo. Na decisão do ano passado, entre Flamengo e Cruzeiro, o primeiro jogo ficou 1 a 1 e a Raposa seria campeã com dois empates se fizesse 0 a 0 no Mineirão por conta do gol marcado no Maracanã. Isso pode distorcer o sentido da busca pelo gol, pelo resultado positivo. Sempre fomos muito seguros com relação a essa posição. A CBF largou na frente, mas essa deverá ser a tendência no mundo inteiro.
- Esportivamente, não faz muito sentido esse critério, já que você pode ser campeão com dois empates, bastando fazer um gol fora de casa. Isso vai contra o conceito de esporte, que envolve buscar resultado e vencer. A gente tem replicado esse critério em todas as competições da CBF. Acredito que o gol qualificado é uma regra que não promove a justiça - explicou Manoel Flores.
Um dos pontos centrais nas competições de mata-mata que usam o gol do visitante como critério de desempate é o aumento da postura defensiva adotada pela equipe que joga em casa. A intenção é bem clara, já que mudando o esquema tático para fortalecer a defesa, o time mandante evita mais avanços do rival, que normalmente se concentra no ataque.
Na visão da jornalista esportiva no Jornal do Brasil e diretora da ACERJ (Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro), Martha Esteves, a regra do "gol qualificado" ainda é válida e uma questão de preferência. Porém, para ser uma disputa "justa", o melhor critério a ser utilizado é o do saldo de gols e disputa de pênaltis, em caso de empate.
- O critério ainda é válido embora cada vez mais seja debatido uma mudança de regra. De fato, o time que joga em casa tem uma preocupação extra em não tomar gol, afinal em caso de empate o melhor resultado possível é um 0x0, o que sugere um jogo amarrado das duas equipes. Ao mesmo tempo em que o gol fora de casa obriga o time visitante a não ficar se defendendo o tempo inteiro, então acaba sendo uma questão de preferência. O critério mais justo pra desempatar jogos mata-mata acaba sendo saldo de gols e, caso houver empate, disputa direta de pênaltis, sem prorrogação. Dessa forma, um gol é apenas um gol e não vale "dobrado" como na atual regra.
A extinção do critério é defendida pelo diretor de competições da CBF, que concorda com Martha Esteves, ao afirmar que a melhor regra de desempate é por meio do resultado agregado dos dois jogos do mata-mata e disputa de pênaltis. Porém, quanto a prorrogação, que pode ser implantada nas competições da Uefa caso a entidade aceite os pedidos dos técnicos da liga, Manoel Flores é contrário.
- A melhor forma para desempatar a disputa é através do resultado agregado dos dois jogos do mata-mata. A CBF não adotou a prorrogação por decisão técnica, mas, em caso de empate, a disputa de pênaltis é o que vai decidir. Porém, o conceito é sempre o do placar agregado.
Por outro lado, há quem defenda a utilização do critério, caso do comentarista dos canais ESPN, Eduardo Tironi, que vê a regra como um incentivo para dar mais movimento e dinamismo aos confrontos decisivos.
- Eu gosto do critério de gol fora de casa, acho que movimenta e dá dinâmica às partidas. Além disso, diminui a possibilidade de disputas por pênaltis. Não acho que aumenta a postura defensiva de quem está em casa.
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Para o editor do LANCE! Miro Neto, há outro aspecto que atua contra o "gol qualificado": os benefícios que a equipe visitante no segundo jogo pode colher, afetando a emoção "inerente" aos mata-matas.
- Um time que manda a primeira partida em casa pode adotar uma postura conservadora para não ser vazado. Se vence ou empata sem levar gols, na volta basta a ela marcar uma vez para complicar demais a vida do rival, sempre privilegiando a postura defensiva e um estilo baseado apenas em contra-atacar - opina o jornalista.
Vale lembrar que na Copa Libertadores, o "gol qualificado" é adotado nas oitavas, quartas e semifinais. Apenas na decisão, o gol marcado fora de casa deixa de ser critério de desempate.
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