Ninguém quer Cristiano Ronaldo. Na última semana, o conceituado jornalista italiano Fabrizio Romano falou de um interesse do Olympique de Marselha, prontamente negado pelo presidente do clube francês, Pablo Longoria, que inclusive se disse irritado com as especulações.
Nos últimos dias, com o sorteio dos grupos da Champions League, torcedores do Rangers fizeram centenas de postagens nas redes sociais pelo lobby do astro português atuar pelo clube.
Em rota de colisão com o Manchester United, o craque já declarou diversas vezes o interesse em deixar o clube para atuar em algum que dispute a Champions League deste ano, já que os 'Diabos Vermelhos' não conseguiram a classificação para a disputa desta temporada.
Apesar dos muitos gols feitos no seu retorno - foram 15 em 27 partidas, Cristiano não se reapresentou com o restante do grupo no começo desta temporada com o United e demonstrou sinais de insatisfação quanto a sua permanência.
Algumas agremiações manifestaram publicamente o desejo de não ter CR7 no elenco, e um deles foi o Bayern Munique.
- Por mais que eu avalie Cristiano como um dos melhores, uma transferência não se encaixaria na nossa filosofia - disse o CEO do Bayern, Oliver Kahn, à revista alemã Kicker.
Manchester City, Real Madrid, Barcelona, Chelsea e Paris Saint-Germain também foram colocados como destino do português, eleito cinco vezes o melhor do mundo, mas conversas ou tratativas sequer esquentaram. Mais recentemente especulou-se um eventual retorno à Juventus-ITA e o interesse do Atlético de Madrid, mas ambos ficaram no campo das especulações.
- Já tive a oportunidade de enfrentá-lo algumas vezes pelo Campeonato Italiano e, na minha visão, ele é um jogador extremamente completo. É um verdadeiro atleta, na essência da palavra, e um dos melhores que já joguei contra. Pela história vitoriosa que possui, pela qualidade técnica e por tudo que a imagem dele representa, acredito que o Cristiano ainda tem muito a contribuir para o futebol, independentemente do clube em que esteja - avalia Rômulo, lateral do Cruzeiro e que atuou por dez temporadas na Itália.
Entre os jornalistas europeus, comenta-se que o jeito egocêntrico e individualista do craque não estava sendo bem visto dentro dos vestiários, mas os principais entraves ainda são o alto salário e a idade já elevada do craque, com seus 37 anos.
No começo deste mês, em entrevista ao programa inglês 'Overlap', o ex-jogador e comentarista na Inglaterra, Jamie Carragher, fez duras críticas ao jogador.
- Ele tem 37, 38 (anos) nessa temporada e não é o mesmo jogador. É goleador, mas não é o mesmo jogador. Posso estar errado, mas nenhum clube na Europa quer ele nesse momento. Se você perguntar para o Ten Hag, não acredito que ele o queira. E não tenho certeza se o vestiário do Manchester United quer o Cristiano Ronaldo - disse.
Há algumas rodadas, o treinador do United, Erik ten Hag, também fez duras críticas ao seu jogador, que deixou o estádio Old Trafford antes do fim do amistoso entre Manchester United e Rayo Vallecano.
-Muitos outros também foram para casa. Certamente não aceito. É inaceitável, para todos. Eu disse a eles: 'nós somos um time e temos que ficar juntos até o final.
- Cristiano Ronaldo é um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Vencedor, multicampeão, ainda acumulando recordes, além de ser uma das personalidades mais conhecidas do mundo inteiro. Eu entendo que ele ainda tem muito a acrescentar, pois tem capacidade técnica, física, mental, concentração e ambição para performar em grandes clubes. É difícil avaliar o contexto do porque alguns clubes não quiseram o atleta, talvez por uma questão de posição no campo, talvez protagonismo. Mas acho que a chegada dele em qualquer clube causa uma mudança no vestiário, na cidade, na marca do clube. Vejo como extremamente positiva - avalia Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
Júnior Chávare, que foi observador técnico da Juventus-ITA no Brasil por três anos e diretor executivo de futebol da base de grandes clubes como Grêmio, São Paulo e Atlético-MG, além de executivo profissional do Bahia, entende que CR7 tem capacidade de se transformar.
- É um atleta em sua essência. Não importa a idade, ele se caracteriza por mudar o ambiente de um vestiário, de fazer com que principalmente os mais jovens sejam um espelho de seu comprometimento profissional. Vejo que ele ainda tem extrema condição de fazer a diferença, mas algo importante, que deve ser uma busca pessoal dele, é ir jogar em um lugar em que esteja feliz, que possa ter prazer. Acho isso primordial, pois mesmo aos 37 anos, ele pode atingir um ápice momentâneo estando bem com ele mesmo. Além de tudo, é um profissional que eleva o patamar do clube que ele está, mas para isso a agremiação que o receber também precisa estar preparada para recebê-lo.
Nesta semana, ao comentar uma publicação de uma página de fãs, Cristiano postou uma mensagem enigmática ironizando as informações da imprensa.
- Saberão a verdade quando eu der entrevista daqui a umas semanas. A mídia só fala mentira. Tenho um livro de notas e, nos últimos meses, das 100 notícias que fizeram só acertaram cinco. Imaginem como são as coisas.
Apesar das negativas dos principais clubes do mundo, e se não fosse pela questão salarial, profissionais do futebol e do marketing entendem que o craque português ainda pode dar retorno dentro e fora das quatro linhas.
- Ao longo da carreira, o Cristiano acumulou inúmeros recordes através da sua dedicação. Esses feitos possibilitaram a criação de uma marca pessoal muito forte e que impacta milhões de fãs. Por isso, independentemente da idade, é nítido que ele ainda tem um potencial enorme de geração de receitas, tanto dentro, quanto fora de campo - avalia Bernardo Pontes, sócio da BP Sports, agência especializada em marketing e patrocínio esportivo.
No último mês, Cristiano atingiu mais de 470 milhões de seguidores no Instagram e se consolidou ainda mais como o líder entre os esportistas mundiais. Para efeitos de comparação, Lionel Messi possui 358 milhões de seguidores, enquanto Neymar acumula 177 milhões Em janeiro de 2020, o Robozão, como também é conhecido, foi a primeira conta pessoal a atingir os 200 milhões de fãs.
- Não é fácil opinar sobre uma transferência sem saber as cláusulas pedidas pelo atleta e seu agente. Acredito que o Cristiano Ronaldo, neste momento de carreira, tenha suas pretensões, onde o ganho financeiro já não é o primeiro indicador de decisão. Tem a questão do país, forma de jogar e até mesmo composição de elenco e comissão técnica, e tudo isso acaba virando fatores importantes para uma tomada de decisão. Vale lembrar que ele é uma potência como atleta e um gigante na geração de audiência, ou seja, para trazer novas receitas e marketing, isso pode fazer cada vez mais sentido com o passar do tempo do que dentro das 4 linhas - afirma Renê Salviano, CEO da Heatmap, empresa de marketing esportivo, ex-agente FIFA e que já participou em transferências internacionais de atletas.
Entre os ganhos que o português pode gerar com a sua imagem está a exploração de novas tecnologias, com o lançamento de colecionáveis digitais, como aponta Sylmara Multini, CEO da IDG NFT (Internacional Digital Group) e com expertise de atuação de licenciamento em entretenimento em marcas como Warner Bros, Disney e Mattel, além da linha de produtos e lojas dos Jogos Rio 2016.
- Falando no campo do licenciamento, o Cristiano Ronaldo ainda pode ser extremamente atrativo para os negócios. Ele é mais do que um jogador, é uma marca global, e como é um profissional que parece ter muitos anos ainda de carreira, apesar dos 37 anos, e na iminência de jogar uma Copa, é perfeitamente possível aproveitar as oportunidades fora dos gramados. Um linha de produtos com certeza teria uma grande aceitação no mercado europeu. A grande oportunidade do momento, que são os NFTs com memorabilia e experiência, deveriam estar no topo desta lista.
As redes sociais também são uma fonte de receita para o atacante. Segundo um levantamento da empresa de consultoria Hopper, o atleta arrecada até US$ 2 milhões por postagem patrocinada no perfil.
- Mesmo aos 37 anos, o Cristiano ainda passa uma imagem de seriedade e credibilidade ao mercado. Fala com todos os públicos, tem conexão com os mais jovens e o poder de continuar atraindo novos patrocinadores e receitas que estão ligadas a licenciamento de produtos, entre outras infinitas ações que também agregam conectividade, engajamento e aproximação com o público - finaliza Pedro Melo, executivo comercial do Atlético-MG e que atua na captação e gestão de patrocínios.