Fabinho: ‘Temos uma equipe para fazer história mais um ano’
Em entrevista ao LANCE!, o brasileiro disse que acredita no potencial do Liverpool, espera ganhar mais chances na Seleção, falou sobre Mundial e o dia a dia com Jurgen Klopp
Um dos melhores volantes do mundo e insubstituível no time de Jurgen Klopp, Fabinho já retornou de lesão como titular em 2020. A campanha invicta da Liga Inglesa não é motivo para atrapalhar o craque em outras competições. Depois de ter conquistado a Liga dos Campeões na temporada passada, o brasileiro não esconde o desejo de ganhar este título novamente.
- Acho que a maioria das pessoas nos considera um favorito por sermos os atuais campeões. Claro que o nosso momento na Liga Inglesa também ajuda, mas não é algo que nos atrapalhe ou que nos dê uma pressão a mais. Sabemos que não é o favoritismo que vai entrar em campo. Temos que preparar o jogo da melhor maneira. A Liga dos Campeões é diferente, a dificuldade é diferente. Temos que focar porque temos uma equipe para fazer história mais um ano. Não vai ser fácil, mas vamos buscar fazer o que temos feito até agora.
Títulos não é um tema que falta em Liverpool. Líder isolado do Campeonato Inglês e invicto na competição, os Reds não tiveram tempo para lamentar a perda para o Manchester City, na última temporada.
- Em relação a perdermos o título por um ponto, não tivemos tempo para lamentar isso. Já tínhamos que nos preparar para a final da Liga dos Campeões. Claro que ficamos tristes porque era uma excelente chance para ser campeão, mas levamos isso numa boa porque sabíamos que poderíamos conquistar algo histórico naquela temporada. Na época tínhamos uma boa vantagem, acho que de sete pontos, e infelizmente acabamos perdendo. Mas a temporada do City foi excepcional também. Nos últimos 14 jogos venceram todos. Nós demos o nosso melhor, acho que tivemos muito bem durante o ano todo, mas eles conseguiram ter esse algo a mais. Não tem muito o que pensar o que poderia ser feito, o que poderia ter sido diferente. Não pensamos muito nisso, só trabalhamos jogo a jogo. Isso fez com que não nos acomodássemos. Queremos continuar essa vantagem de vitória.
Um dos principais fatores da equipe estar demonstrando um futebol encantador tem nome e sobrenome: Jurgen Klopp. O alemão mudou a forma de jogar do Liverpool e do próprio volante.
- No começo foi difícil de me adaptar, porque no início era um estilo de jogo totalmente diferente do que eu estava acostumado. Mas quando você se acostuma, desfruta da maneira de jogar. Nós fazemos muito esforço físico, essa é a característica da equipe. Não só ele, como toda a comissão técnica. Todos me ajudaram a entender o que um jogador da minha função deveria fazer na equipe e aos poucos eu fui entrando e aprendendo com os jogadores. Tenho certeza que uma parte do sucesso da equipe é graças à ele. Dentro de campo eu não presto tanta atenção nisso, mas claro que sei que o meu sucesso no Liverpool também foi pela ajuda dele.
Confira na íntegra a entrevista de Fabinho
Como é fazer parte dessa campanha histórica do Liverpool? Vão conseguir superar o Arsenal de Henry?
É muito bom. É uma equipe muito consistente, muito regular. Nós estamos mostrando isso desde o ano passado, mesmo sem ganharmos o título. No ano passado só perdemos um jogo. Esse ano acho que estamos dando continuidade no trabalho. O elenco é muito bom. Mesmo com as lesões conseguimos manter o nível. Até agora os números são impressionantes. É até normal que nos comparem com o Arsenal, que são conhecidos aqui como os ‘invencíveis’. O objetivo é seguir assim, procuramos não nos focar muito nos outros.
Como Klopp é no dia a dia? Influenciou muito na confiança dos jogadores?
No dia a dia ele é um cara bem agitado, vive com muita intensidade, não é só na beira do campo. Ele é um cara que nas conversas sempre transmite que não quer ficar acomodado, sempre quer mais, quer que a equipe dê mais. Acho que é por isso que encaramos todo jogo da mesma maneira, independente do adversário. Ele tem também os momentos dele de brincar, fazer piada, ele e o pessoal da comissão estão sempre dando risada. É um cara que cobra, mas que também sabe brincar.
O Alisson e o van Dijk foram comprados por valores altos e, inicialmente, sofreram certa desconfiança. De que forma aparece o treinador para defender essas contratações?
O van Dijk eu não posso falar tanto porque eu ainda não estava no clube, mas eu lembro que foi muito falado, até porque não é normal uma equipe pagar isso por um zagueiro. Desde que eu cheguei no clube, eu vi que ele era diferenciado e muito bom. No dia a dia, vejo que foi pouco o que o Liverpool pagou nele. Ele vem provando que é um dos melhores defensores do mundo, senão o melhor. E o Alisson se falou um pouco também pelo preço, mas ele nem precisou que o Klopp defendesse, porque quando entrou na equipe mostrou a qualidade que tem e tem feito um campeonato impecável. A qualidade dele é excepcional.
Quando Klopp chegou à Anfield, identificou que a torcida estava bem fria. Hoje, isso mudou. Como é essa relação dos torcedores com os jogadores e equipe técnica?
A relação com os torcedores desde que cheguei sempre foi muito boa. Os torcedores na cidade são bem apaixonados. Quando encontram a gente na rua sempre nos cumprimentam. No ano passado, quando estávamos na disputa do Campeonato Inglês, eles sempre falavam que queriam ganhar, que a gente iria ver a festa que eles iriam fazer. Eles são muito carinhosos conosco. Em dia de jogo, é sempre uma festa ao redor de Anfield. Dentro do estádio, o ambiente é fantástico. É uma torcida que sempre foi apaixonada, mas creio que esperavam que o Liverpool voltasse a ganhar títulos que não ganhavam há um tempo. Acho que esse momento é muito especial para eles e esperamos dar muito mais alegrias.
Como está sendo administrar essa vantagem de pontos, sabendo que no ano passado também houve algo parecido, mas o Liverpool acabou perdendo o título para o Manchester City. Isso tem sido tema nas conversas ou já viraram a página?
Em relação a perdermos o título por um ponto, não tivemos tempo para lamentar isso. Já tínhamos que nos preparar para a final da Liga dos Campeões. Claro que ficamos tristes porque era uma excelente chance para ser campeão, mas levamos isso numa boa porque sabíamos que poderíamos conquistar algo histórico naquela temporada. Na época tínhamos uma boa vantagem, acho que de sete pontos, e infelizmente acabamos perdendo essa vantagem. Mas a temporada do City foi excepcional também. Nos últimos 14 jogos venceram todos. Nós demos o nosso melhor, acho que tivemos muito bem durante o ano todo, mas eles conseguiram ter esse algo a mais. Não tem muito o que pensar o que poderia ser feito, o que poderia ter sido diferente. Quando começamos a ter um pouco de vantagem não pensamos muito nisso, só trabalhamos jogo a jogo. Isso fez com que não nos acomodássemos. Queremos continuar essa vantagem de vitória.
Qual a sensação de ter ficado de fora do Mundial de Clubes?
Queria que o Flamengo passasse para ter esse confronto conosco. Quando eu soube que não iria participar, eu fiquei bem triste. É um título que sempre pensei em ganhar. Lógico que, de fora, fiquei muito feliz pela conquista, pelo Firmino que fez o gol, mas aconteceu. No futebol tem isso, nunca sabemos quando vai haver uma lesão. O importante é que mesmo sem a minha presença conquistamos o título.
Após a lesão, você já voltou como titular. Em algum momento temeu perder seu espaço no clube?
Desde a minha saída, a equipe ganhou todos os jogos. O meio campo vinha jogando muito bem e numa sequência muito boa. Teve alguns momentos que pensei se voltaria à equipe ou não. É até normal, porque fiquei sete semanas de fora e o desempenho da equipe foi muito bom. Mas tenho consciência em mim e no meu trabalho, sei no que posso ajudar a equipe. Fui titular em algumas vezes desde que voltei, hoje já me sinto bem melhor fisicamente e bem mais confiante e preparado para a sequência de jogos.
Como foi os bastidores daquela virada histórica contra o Barcelona?
O pós jogo do Barcelona foi algo incrível. Nunca tinha vivido uma experiência daquela. Foi muito emocionante. O resultado era quase impossível de reverter, ainda mais sem dois craques da equipe: Salah e Firmino. Foi muito emocionante mesmo. Queria abraçar todo mundo na minha frente. No momento que cantamos ‘You Never Walk Alone’ com a torcida, eu olhava pros jogadores e foi muito incrível, muito difícil de tirar da cabeça. Depois eu fui para o teste antidoping, então não pude saber como foi o ambiente dentro do vestiário, mas no campo foi incrível.
E na Seleção? Com a Copa América neste ano, achou que poderia ficar de fora ou que perderia espaço com a lesão?
Não tenho pensado muito nisso. Claro que quero estar presente nessas convocações, mas o primeiro pensamento era de recuperar a minha lesão, recuperar a forma, minha vontade de jogar. Creio que quando você joga em alto nível e numa grande equipe, a seleção é consequência. Então quero continuar meu trabalho aqui. Em março vai ter a convocação e vou dar meu melhor para estar presente.
Foi muito frustrante ficar de fora da última Copa do Mundo e da Copa América? Foi um choque para a torcida, também foi para você? Teve uma grande repercussão, até porque você vinha sendo convocado.
Na Copa do Mundo eu vivia um grande momento no Monaco, nós tínhamos sido campeões da Liga, chegamos na semifinal da Champions e eu esperava receber uma oportunidade. Naquele momento, o Brasil estava muito bem. Antes da Copa eu não fui convocado nenhuma vez, então eu sabia que não estaria. Mas na Copa América eu havia sido convocado uma ou duas vezes como lateral e depois fui no meio. Eu estava tendo uma sequência na seleção, e foi quando eu comecei a crescer mais no Liverpool, chegaram os momentos decisivos da Liga dos Campeões. E eu acabei ficando de fora. Lógico que pelo momento que eu estava vivendo eu acabei não achando que ficaria fora, mas o professor Tite tinha a opção de três jogadores para duas vagas e ele optou pela escolha que achou melhor ali na hora.
Você foi reserva do Daniel Alves em duas Copa América, como lateral. No Real Madrid também jogou nessa posição. No Monaco, menos. Quando e como você decidiu que ia ser volante?
Foi no Monaco. Eu até cheguei a jogar dois anos como lateral. Quando o Leonardo Jardim chegou à equipe ele começou a conversar comigo. Ele via que mesmo como lateral, eu caía muito no meio, eu gostava de aparecer ali. Ele perguntou um dia se eu já tinha atuado no meio campo e eu disse que sim. Ele um dia começou a me testar ali desde a pré-temporada, e em um jogo ele decidiu me testar e colocar ali, na Liga dos Campeões contra o Arsenal, na Inglaterra. Nós não tínhamos jogadores disponíveis na posição e ele me botou ali. Esse acabou sendo um dos meus melhores jogos na temporada. A partir dali eu ganhei uma sequência. Na temporada seguinte ele falou desde o primeiro dia que queria contar comigo no meio campo e que não queria mais que eu jogasse na lateral. Achei que isso poderia me prejudicar na seleção porque eu era convocado como lateral, mas decidi aceitar porque desde o início acreditava que eu poderia ter sucesso. Funcionou para mim e para a equipe do Monaco também.
Acha que estará em 2022? O Brasil é favorito?
Não sei se já tem favorito para essa Copa. porque no meio desse ano vão ser disputadas a Euro, Copa América, então acho que é um pouco cedo para colocar favoritos. Acho que o Brasil está sempre ali entre as principais. Somos atuais campeões da Copa América, temos muitos jogadores talentosos. Não sei se somos a principal, mas estamos entre as principais. É claro que eu quero estar lá, vou fazer de tudo para estar. Espero até lá dar continuidade no meu trabalho e continuar jogando em alto nível. Se o trabalho é bem feito no clube, as oportunidades na seleção são consequência. Espero estar jogando em alto nível para estar presente sim.
Por que a saída precoce do Fluminense? Você sequer entrou em campo pelo time profissional. Gostaria de ter ficado mais tempo?
Quando eu estava no Fluminense, eu treinava algumas vezes no profissional, mas pertencia aos juniores. Eu gostaria de ter ficado mais tempo, de ter jogado no profissional, jogado um Campeonato Brasileiro, Libertadores. Mas naquela época já tinha o Wallace, que já estava no profissional. Eu sabia que poderia chegar a minha oportunidade, mas eu teria que esperar um pouco mais. Naquele momento eu tinha acabado de jogar a Copa São Paulo, nosso time chegou na final e eu fui convocado para Seleção sub-20. Depois vieram algumas equipes atrás de mim. Eu achei que teria mais oportunidades de jogar e aproveitei. Eu sabia que teria que me adaptar ao futebol europeu e decidi tentar. As coisas ocorreram bem pra mim.
Dói não ter ganho aquela Liga dos Campeões com o Mônaco com um time que tinha você, Bernardo Silva, Mbappé?
Nós sabíamos que éramos os “azarões”. Claro que a equipe tinha muita qualidade, mas na época os nomes não eram muitos conhecidos. Nós falávamos que se a equipe estivesse completa, ninguém poderia nos ganhar. Contra a Juventus no primeiro jogo, nós vimos que não era só talento que ganhava jogo. A Juventus jogou com uma experiência e maturidade incrível. Nossa equipe não estava completa, talvez se estivesse nós poderíamos ter tido um resultado melhor, mas isso não é desculpa. A Juventus foi melhor que a gente e mereceram passar.
Recentemente, o francês tem sido especulado no Liverpool. Ele tem espaço no trio da frente? Acha que ele conseguirá ser melhor do mundo?
Eu tenho a felicidade de já ter jogado com ele. Ouvi algumas coisas, nao sei se são verdade ou não. É um jogador muito talentoso, não é mais promessa, já é realidade. Foi campeão do mundo, está tendo muito sucesso no PSG. Acho que tem dois ou três anos de contrato e não creio que o Paris deixará ele sair fácil assim. Não tenho dúvida que ele vai ser o melhor do mundo.