Menos de 24 horas depois do comunicado publicado pelos clubes participantes da Superliga Europeia sobre a criação da competição, o mundo do futebol se voltou contra o novo torneio. Imprensa, ex-jogadores e jogadores, alguns até de clubes que jogariam a Superliga, se posicionaram contra o campeonato.
Antes mesmo da publicação oficial do comunicado dos clubes, o ex-jogador do Manchester United e atual comentarista da Sky Sports na Inglaterra, Gary Neville fez um discurso contra a criação da competição ao término da semifinal da FA Cup, em Wembley.
- Eu torço pelo Manchester United há 40 anos na minha vida e estou enojado. Absolutamente enojado. Estou com nojo principalmente do Manchester United e Liverpool. No Liverpool, eles dizem que “você nunca andará sozinho”, as pessoas do clube, os torcedores. Manchester United, 100 anos. Nascido de trabalhadores por aqui. E estão entrando em uma liga sem competição, da qual não podem ser rebaixados. É uma absoluta desgraça. (...) A motivação é a ganância. Tirem todos os pontos deles amanhã. Ponha-os na parte de baixo da liga. E tire o dinheiro deles. Sério. Você tem que pisar nisso. É um crime. É um ato criminoso contra os fãs de futebol neste país. Não se engane. Este é o maior esporte do mundo, o maior esporte deste país, é um ato criminoso contra os torcedores. Simples assim. Tirem os pontos. Tirem o dinheiro. E punam os clubes - disse
Além de Gary Neville, outra estrela do Manchester United, um dos clubes formadores da Superliga Europeia, se posicionou contra. Bruno Fernandes, principal jogador da equipe, repostou em sua rede social uma publicação de Daniel Podence, seu companheiro de seleção portuguesa, sobre os sonhos dos jogadores em disputar a Liga dos Campeões: 'Sonhos não podem ser comprados'.
Atacante do Everton e da Seleção Brasileira, Richarlison também se pronunciou sobre a criação da Superliga ao citar um tweet do meio-campista alemão Mesut Ozil:
- As crianças crescem sonhando em ganhar a Copa do Mundo e a Liga dos Campeões, não uma Superliga. O prazer dos grandes jogos é que eles acontecem apenas uma ou duas vezes por ano, não todas as semanas. Realmente difícil de entender para todos os fãs de futebol - publicou o meia.
Um dos clubes europeus que não se juntaram ao grupo da Superliga Europeia, o Paris Saint-Germain teve Ander Herrera como um jogador que levantou voz como parte contrária ao novo torneio. Em sua rede social, o volante postou um texto com um desabafo sobre o assunto.
- Me apaixonei pelo futebol popular, pelo futebol dos torcedores, pelo sonho de ver o time do meu coração lutar contra os maiores. Se essa Superliga Europeia avançar, esses sonhos acabam, acabam as ilusões dos torcedores de times que não são gigantes de poder vencer em campo competindo nas melhores competições. Amo futebol e não posso ficar calado sobre isso, acredito em uma Liga de Campeões melhorada, mas não nos ricos roubando o que o povo criou, que nada mais é do que o esporte mais lindo do planeta - disse.
Ex-jogador do Arsenal e da seleção alemã, Lukas Podolski também se manifestou de forma contrária em suas redes sociais sobre o assunto. O atacante afirmou que 'futebol é felicidade, liberdade, paixão e torcida'.
- Hoje acordo com notícias malucas! Um insulto à minha crença: futebol é felicidade, liberdade, paixão, torcida e é para todos. Este projeto é nojento, não é justo e estou desapontado em ver os clubes que representei envolvidos. Lute contra isso! #paremasuperliga - destacou o atual jogador do Antalyaspor, da Turquia.
Gary Lineker, atual comentarista da 'BBC', ex-jogador da seleção inglesa e de clubes como Barcelona e Tottenham, clubes fundadores da Superliga, postou em suas redes sociais um apelo aos torcedores.
- Aguardo com expectativa o compromisso com a UEFA e os clubes... para o qual, creio, tudo foi pensado. Um jogo de poder. O futebol não é nada sem os torcedores. Vimos isso claramente nos últimos 12 meses. Se os torcedores se unirem contra esse esquema de pirâmide anti-futebol, ele pode ser interrompido - destacou.
ENTENDA A SUPERLIGA EUROPEIA
Até o momento, os participantes da nova Liga são Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham, pelo Big Six inglês. Na Espanha, Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid fazem parte da cúpula. Pela Itália, Inter de Milão, Juventus e Milan concluem o grupo. Outros três clubes são aguardados para dar início ao torneio.
O molde do torneio giraria em torno de 20 clubes, dentre os quais 15 são os fundadores. As partidas ocorreriam nos meios de semana e as equipes seguiriam participando de seus campeonatos nacionais, conforme o calendário tradicional. Em um modelo parecido com o da NBA, os grupos seriam divididos em dois, cada um com 10 integrantes, dentre os quais três avançariam diretamente às quartas de final.
Os clubes que terminarem a primeira fase em quarto e quinto de seus grupos, disputarão entre si, em dois jogos, quem assume as vagas restantes. Assim como na Liga dos Campeões, os confrontos pela fase inicial e playoffs seriam de ida e volta. A final, todavia, será disputada em jogo único e local neutro.
Segundo o comunicado emitido pela organização da Superliga, a ideia central é elevar o patamar do futebol europeu.
- Proporcionará um crescimento econômico significantemente maior e apoio ao futebol europeu por meio de um compromisso de longo prazo com pagamentos de solidariedade ilimitados que crescerão de acordo com as receitas da Superliga - afirmou o comunicado da Superliga
- Estes pagamentos de solidariedade serão substancialmente mais elevados do que os gerados pela atual competição europeia e deverão ser superiores a € 10 bilhões durante o período de compromisso inicial dos clubes - concluiu.
Ainda sobre pagamentos, a Superliga prometeu uma base financeira por volta de € 3,5 bilhões para os clubes fundadores compensarem os prejuízos pela pandemia da Covid-19 e melhorarem suas infraestruturas. Caso o valor se confirme, seria superior aos pagos pela Uefa em todas suas competições (Liga dos Campeões, Liga Europa e Supercopa Europeia).
Já Andrea Agnelli, vice-presidente da organização, e presidente da Juventus, afirmou que a Superliga aumentaria a solidariedade entre os clubes, e tornaria o esporte mais atraente para os fãs.
- Nossos 12 clubes fundadores representam bilhões de fãs em todo o mundo e 99 troféus europeus. Nós nos reunimos nesse momento crítico permitindo que a competição europeia se transformasse, colocando o jogo que amamos numa base sustentável para o futuro a longo prazo, aumentando substancialmente a solidariedade e dando aos torcedores e jogadores amadores um fluxo regular de jogos de destaque que irão alimentar a sua paixão pelo jogo e, ao mesmo tempo, fornecer a eles um modelo atraente - disse o italiano.